quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Crítica - "O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio"

Por Anny Lucard


O filme 'O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio' (Terminator: Dark Fate, 2019), com direção de Tim Miller, é o sexto filme da franquia e continua a proposta de realidades alternativas, criadas a cada vez que um exterminador é mandado ao passado.

Com o roteiro assinado por David S. Goyer, Justin Rhodes e Billy Ray, dessa vez o foco sai um pouco de Sarah Connor, um dos principais ícones do cinema em relação a personagens femininas bem construídas, especialmente sendo uma ficção científica de ação, pois sai dos estereótipo. Porém temos a presença marcante dela no filme, assim como a do exterminador tipo T-800, personagem imortalizado por Arnold Schwarzenegger.


A trama de 'O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio' inicia após os acontecimentos de 'O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final', mostrando uma realidade com a Sarah Connor de Linda Hamilton e seu filho John (Edward Furlong), após impedirem a Skynet e cancelarem o apocalipse. Só que dessa vez a vinda do exterminador cria uma realidade onde os acontecimentos vistos nos filmes que se passam após a dada são completamente apagados. Criando uma realidade nova e nunca vista na franquia.


Assim, anos depois, no México, Dani Ramos (Natalia Reyes) e sua família são procurados por um novo tipo de exterminador, a qual terá uma inesperada ajuda de Sarah Connor.

Com cenas de ação de tirar o fôlego, de perseguições de carro empolgantes a lutas bem coreografadas, a franquia 'O Exterminador do Futuro' busca um novo fôlego que agrada aqueles que curtem uma boa ficção científica de ação, mas talvez nem tanto os fãs mais tradicionais da história criada por James Cameron nos anos de 1980.


Utilizando bem recurso digitais e práticos de filmagens de forma a auxiliar na construção da história desse roteiro, o novo filme da franquia destaca novamente o visual rejuvenescido digitalmente de alguns personagens. Um filme que funciona tanto em 2D ou 3D.

Vale dizer que Arnold Schwarzenegger faz uma participação especial pontuada no filme, porque o foco é a protagonista.


'O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio', com distribuição da Fox, está em cartaz nos cinemas brasileiros desde 31 de outubro, em cópias legendadas e dubladas em português.

Crítica - "A Família Addams" (2019)

Por Anny Lucard


'A Família Addams'(The Addams Family, 2019), com direção de Conrad Vernon e Greg Tiernan, é uma animação produzida pela MGM, que se apresenta como uma história de origem inédita, já que não há nada do tipo sobre a exótica família das tirinhas de jornal criada por Charles Addams.

O roteiro assinado por Matt Lieberman e Pamela Pettler, inicia a trama com a fuga da família de um linchamento bem no estilo medieval, com direito a povo furioso com tochas em punho, já que os vizinhos consideravam os Addams monstros por serem diferentes. O que obriga Gomez (Oscar Isaac) e Mortícia (Charlize Theron) a mudarem para longe, uma região aparentemente despovoada chamada de Nova Jersey (uma piada muito interna entre os americanos), onde encontram um refúgio perfeito ao ver deles, uma antiga construção que outrora foi um manicômio. Lugar que o casal decide viver e criar os filhos isolados do resto do mundo.


Infelizmente a ideia dos roteiristas não só tornou a trama muito parecida com a vista na franquia da Sony 'Hotel Transilvânia', como tirou a essência da família de Charles Addams e pela qual se destacam, "excêntricos muito gente boa, vivendo em meio as pessoas comuns".

Mesmo que a ideia do roteiro funcione e que ao colocar os Addams vivendo próximos de um bairro com gente sorridente e com residências padronizadas, crie um bom conflito de opiniões, especialmente ao mostrar que cada um tem suas esquisitices escondidas, até os que dizem "normais". A trama perde a força dos Addams que os fãs conhecem e tanto amam, virando uma história um tanto genérica de "Normais" vs. "Monstros".


Para uma nova geração, o filme é divertido e, mesmo tendo pontos bem críticos, é interessante para as crianças porque faz o público pensar na importância da diversidade. Tendo diversão somada a uma dose de drama, ao juntar a trama principal, com as confusões envolvendo a apresentadora de um reality show (Allison Janney), gravado no bairro, e os Addams, há uma segunda; onde Gomez e Morticia precisam se preparar para receber os parentes de fora para comemorar uma tradição de família.

Destaque para o visual da animação que os estúdios da MGM buscou se assemelhar as velhas tirinhas de Charles Addams, dando ao filme um ar cartunesco, como se os desenhos do jornal tivessem ganhado vida, o que deu a produção uma característica peculiar e única em relação a animações atuais.


Se a ideia de seguir a linha de 'Hotel Transilvânia' decepciou muitos fãs com essa releitura dos Addams, o público geral parece ter curtido bastante, já que a arrecadação nas bilheterias mundiais está indo bem, o suficiente para a MGM ficar satisfeita e dar o sinal verde para uma sequência, que teve até previsão de estreia divulgada, outubro de 2021.

A animação 'A Família Addams' chegou aos cinemas brasileiros no final de outubro (quinta-feira, 31 de outubro, Halloween) e continua em cartaz aqui no país. Com distribuição no Brasil da Universal Pictures, está disponível em cópias legendadas e dubladas em português.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

CAPÍTULOS INÉDITOS DE LIVRO INÉDITO PRA VOCÊ!

por Eddie Van Feu

Consegui finalmente dar start no projeto de enviar os capítulos inéditos do livro que estou escrevendo para os leitores que quiserem ler. A cada capítulo, segue também qual o desafio que senti ao escrever. Se você quiser receber, é só se inscrever no www.circulodefantasia.com

E se eu quisesse, não teria conseguido fazer tanta rima num texto tão pequeno! KKKKK

Crônicas de Leemyar Vol. 4 - Os Ventos da Guerra

O Desafio do Capítulo 1

Acho que todo autor deve encontrar um desafio em começar uma obra. No meu caso, eu começo muito fácil e muito rápido, mas quando o livro é continuação direta de outro, como este, é mais difícil. Eu preciso escolher onde a câmera estará, e quais personagens ela vai acompanhar. Preciso dar um resumo para que o leitor se lembre do que aconteceu, sem entregar muito ou explicar demais, pra não ficar repetitivo. Eu preciso pensar no leitor que leu o livro anterior há um ou dois anos, e no leitor que acabou de ler. Eu me lembro que quando li Jogos Vorazes, achei muito repetitivo e didático como as coisas eram constantemente repetidas, como se eu não tivesse entendido da primeira vez. Mas ela, a autora, estava pensando em quem levou algum tempo entre um livro e outro, enquanto eu já li direto, pois ganhei os três livros de uma vez.

O primeiro capítulo é sempre um desafio enorme! Tem que refrescar a memória do leitor, sem ser repetitivo. Tem que ser interessante e prender a atenção do leitor com algo novo. E tem que respeitar o estado de espírito dos personagens.

Você já deve saber que essa série é baseada em jogos de RPG que tivemos há muitos anos. Tivemos o bom senso de escrever as resenhas de cada jogo (porque achávamos muito legal). O problema é que as resenhas nem sempre faziam sentido, e muitas vezes eu, como jogadora, simplesmente esquecia o que tinha acontecido no jogo anterior, quem estava brigado com quem, quem estava deprimido, etc. E são essas coisas que eu tenho que consertar ao escrever, erros que não posso cometer de jeito nenhum, porque jogo é jogo, livro é livro.


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

DOUTOR SONO: enfrentado o monstro sagrado


Por Ricky Nobre

Quando aparece a velha logo estática da Warner ao som do Dies Irae, com o mesmo sintetizador usado por Wendy Carlos em 1980, o diretor dá um recado direto e claro ao público: sim, você está diante do impensável, do impossível, do infilmável: uma continuação direta de O Iluminado, de Stanley Kubrick, filme obrigatório em qualquer lista de maiores filmes de terror de todos os tempos, muitas vezes as encabeçando. Essa irresponsabilidade vem do diretor, roteirista e montador Mike Flanagan, que vem se destacando no horror em produções da Netflix, especialmente A Maldição da Residência Hill. Recentemente, outro clássico do início dos anos 80, Blade Runner, foi continuado por Denis Villeneuve, com recepção mista da crítica e público. A reação foi semelhante: como se atrevem a criar uma continuação de um clássico icônico como esse? A tarefa auto concedida de Flanagan tem o mesmo perfil mas há uma diferença básica: Blade Runner 2049 foi uma continuação criada do zero por Villeneuve. Doutor Sono é um livro de 2013 que o próprio autor do romance de terror O Iluminado, Stephen King, escreveu após décadas ruminando sobre as possibilidades de como a história poderia continuar. Então, desta vez, a sequência do clássico vem do próprio autor.

 

Mas, não. Não é simples assim. Kubrick modificou radicalmente o conteúdo do livro de King, a  ponto do autor odiá-lo, classificando a obra como “um lindo cadilac sem motor”. O culto ao clássico de Kubrick não é, de fato, unânime. Muitas críticas são semelhantes às de King, como a escolha de Jack Nicholson, que esvaziou a progressão da loucura do personagens e uma frieza geral. De fato, O Iluminado pode parecer uma impressionante sequência de belíssimas fotografias de pessoas aterrorizadas, sem que o público sinta, de fato, o terror. Talvez a mais dura e precisa crítica tenha vindo de Brian de Palma: “Kubrick não sabe fazer terror porque ele não entende nem gosta de pessoas”. Desta forma, o desafio proposto por Flanagan era complexo: ser fiel ao material original de King, ao mesmo tempo que considerava o filme de Kubrick como cânone. 

 

Doutor Sono começa onde O Iluminado terminou, em 1980. Após um prólogo onde vemos o pequeno Danny aprendendo a lidar melhor com seu poder e com os fantasmas do Hotel Overlook que o perseguem, conhecemos o personagem adulto (Ewan McGregor) numa vida sem rumo, alcoólatra como o pai, todas as noites puxando briga em bares e dormindo com desconhecidas. Chegando uma pequena cidade, ele consegue trabalho como enfermeiro cuidando de doentes terminais, onde utiliza seus poderes de iluminação para tornar a passagem dos doentes mas serena. Ele passa a se comunicar esporadicamente à distância com a menina Abra, que possui os poderes de iluminação como ele. Mas o grande perigo é um grupo de itinerantes que se denominam “The True Knot” e que consegue vida longa e juventude absorvendo o poder de iluminação (que eles chama de “vapor”) de crianças, que precisam ser mortas com dor e medo para liberar e “purificar” o vapor. Dan então precisa proteger a jovem Abra, que se torna o próximo alvo do grupo. 

 

Assim que terminam as cenas iniciais passadas em 1980 (brilhantemente recriadas na luz, cores e figurino do filme original, até mesmo na escolha do elenco), somos apresentados ao Dan adulto e a um filme completamente diferente, tanto no ritmo, na atmosfera, nas cores e no estilo. O que se apresenta é um thriller contemporâneo, rigorosamente destituído de qualquer afetação desconcertante decorrida de tentativas frustradas do diretor em ser ou parecer Kubrick. As referências e recriações do filme original têm, a princípio, a função apenas de situar e informar a história atual, principalmente ao dar forte suporte à construção do personagem de Dan. Se essa (ausência de) construção de personagens foi o que mais irritou o autor King no filme de Kubrick, aqui Flanagan não apenas mergulha neles como assume um grande risco dentro do cinema comercial atual: ele dispõe do tempo como quer. Todo o primeiro ato se propõe a apresentar e construir com solidez seus personagens, com especial atenção aos vilões. 

 

Com um visual vagabond-cool, o grupo de andarilhos têm um sutil e asqueroso charme típico dos vampiros modernos e, de fato, é o que eles são, sendo que seu alimento é mais raro. Rebecca Ferguson verdadeiramente brilha como a líder Rose The Hat e parece fazê-lo sem nenhum esforço. Indo na contramão do surrado clichê de vilã, sua sensualidade é intensa mas não é, em momento algum a principal característica da personagem, nem sequer é a secundária. A sensualidade apenas está lá, enquanto ela é inteligente, ambiciosa, extremamente confiante, mas também raivosa e até apavorada quando os eventos não saem como imagina. Rose é uma força da natureza que impulsiona o filme e equilibra verdadeiramente as forças entre o True Knot e a dupla Dan e Ash. Aguardem incontáveis cosplays da personagem nos próximos eventos.

 

Doutor Sono é, majoritariamente, muito bem escrito, dirigido e interpretado. Ele não mergulha num horror visceral, nem mesmo apela para violência mais gráfica. Seu clima é mais de thriller sobrenatural com algumas notas de mistério e filme de ação. Talvez o seu grande potencial problema seja a sombra gigante de Kubrick que Flanagan corajosa ou imprudentemente carrega consigo, como um guarda-chuva para ser aberto quando precisar. As citações ao original, seja com diálogos ou imagens, podem ter efeitos diferentes no público, dependendo do nível e tipo de reverência que este tenha com O Iluminado em particular ou com a obra de Kubrick como um todo. A nostalgia na cultura de massa vem ganhando força com continuações e remakes tardios, artistas e bandas afastadas que voltam a turnês, franquias cinematográficas ressuscitadas, o que, salvo alguns casos, tem trazido muito dinheiro aos estúdios. O risco na recriação da poderosa iconografia de Kubrick num filme de pretensões mais comerciais poderia expor o diretor ao ridículo. E é no terceiro ato onde ele realmente se arrisca.

 

Isso pode ser considerado um LEVE SPOILER, mas já podemos ver algumas destas cenas no trailer. Para a grande conclusão do filme, Dan verdadeiramente volta ao Hotel Overlook, abandonado por 40 anos. A equipe de produção reconstrói com precisão absurda os cenários de O Iluminado, adicionando apenas o desgaste do tempo e do abandono. A partir daí, não são apenas referências. Os personagens e o próprio filme submergem no mundo do filme clássico, onde o arco do personagem Dan será finalmente concluído, em meio a recriações das cenas e tomadas mais clássicas. Certamente, fãs mais radicais irão se irar com alguns trechos de Doutor Sono mas, em sua maior parte, o público recebe muito bem as referências e recriações de cenas, que dão a agradável sensação de volta ao passado, um passado que consideramos seguro e agradável. É contagiante a sensação de euforia quando Dan se aproxima de Overlook ao som de uma versão sinfônica do clássico tema de O Iluminado. A nostalgia se apresenta aqui como o mais viciante dos vapores. 

 COTAÇÃO:




DOUTOR SONO (Doctor Sleep, 2019)

Com: Ewan McGregor, Rebecca Ferguson, Kyliegh Curran, Cliff Curtis e Carl Lumbly

Roteiro, direção e montagem: Mike Flanagan

Baseado no livro de: Stephen King

Fotografia: Michael Fimognari

Música: The Newton Brothers

Direção de arte: Richie Bearden