

Por Ricky Nobre
Quem gosta de seriados costuma carregar a fama de ser saudosista. Bom, alguns são. Saudosista é aquele sujeito que acha que tudo que se fazia antigamente prestava e que hoje em dia ninguém sabe fazer nada. No que se refere a seriados, não temos do que nos queixar. Tem muita coisa boa por aí. Mas na música... Eu não consigo mais ouvir rádio, e você? Não que não tenha nada de bom, mas dá um trabalho pra encontrar...! Bom, você que sabe do que se trata a matéria já está se perguntando: "Esse cara tá querendo dizer que Os Monkees são Os Beatles por acaso?" É claro que não! E é aí que eu quero chegar. Os Monkees são um grupo pré-fabricado, unido por produtores que queriam fazer um seriado de humor com música. Nada de amor à música ou à arte. Eles foram criados para dar dinheiro. E os caras eram bons!
Em 1966, o diretor e roteirista Bob Rafelson e o produtor Bert Schneider idealizaram uma série de TV de humor anárquico protagonizado por quatro rapazes cabeludos que formavam a banda de rock que embalaria a trilha sonora. Não, não era uma idéia de gênio, mas a base do primeiro sucesso dos Beatles no cinema, o filme Hard Day´s Night. Pois é, tudo se copia. Após uma cuidadosa seleção, chegou-se aos quatro rapazes amalucados: Micky Dolenz, Mike Nesmith, Peter Tork e Davy Jones. Todos eram músicos e já trabalhavam profissionalmente. Semanas antes da série entrar no ar, foi lançado um álbum para ajudar a promover a série. O sucesso, porém, foi tamanho que a situação se inverteu. O que hoje pode soar banal, foi um choque: a série é que passou a promover o disco. Vários singles atingiram o topo da parada da Billboard rapidamente e a série e as vendas do álbum dispararam. As críticas vieram meteóricas, principalmente pelo fato de que o grupo não tocava no disco. Como os episódios tinham que ser produzidos rapidamente, era muito mais prático gravar o instrumental com músicos de estúdio enquanto os rapazes filmavam e enquanto o episódio era montado eles gravavam os vocais. Essas versões foram as utilizadas no disco e não havia uma banda de rock no mercado que não odiasse os Monkees. Eles não tocavam, não compunham, tinham uma indústria por trás deles e eram os número um!

Tá, mas e a série?
Como foi dito, a grande inspiração foi o filme dos Beatles, que já preparavam outra doideira chamada Help! Mas isso não tira a originalidade da série nem o mérito de ter criado uma nova linguagem televisiva e um novo padrão de marketing. A abertura já dava o recado. O grupo em situações surreais entrecortadas por rápidas cenas da banda tocando (na segunda temporada já incluíram cenas da banda nos concertos ao vivo) numa montagem alucinante. Desde o cinema russo dos anos 20 não se via uma edição tão ágil. Era uma boa mostra de como eram os episódios. As situações em que se metiam os heróis eram totalmente non sense, as piadas eram disparadas num ritmo vertiginoso e a falta de propósito e pertinência era total! O tipo de humor e de timing era muitíssimo adiantado para a época, sendo bem mais reconhecível na linguagem de TV atual. Não que fosse algo totalmente novo nesse sentido. Os Irmãos Marx criaram o estilo na década de 30, mas ficou tanto tempo esquecido que parecia novidade. Ainda mais situações absurdas ao som dos sucessos do grupo eram obrigatórias em cada episódio, que sempre tinha duas músicas. A série dos Monkees é considerada por muitos a precursora do modelo de video clip e até mesmo de toda a linguagem MTV. O reconhecimento veio não só pela resposta do público mas com o Emmy de melhor série cômica de 1967 e de melhor direção para James Frawley pelo episódio Royal Flush.

