Foto: Eddie Van Feu |
Quando vi o filme A Cor Púrpura, foi como levar um soco no estômago. A forma vil com que a personagem Celie, primeiro papel da Woopy Goldberg, era tratada dava vontade de entrar na tela, pegá-la pela mão e fugir correndo dali. Mesmo assim, é um filmão e não há como negar.
Agora, tive a oportunidade de conferir o musical inspirado no livro de Alice Walker (que inspirou o filme) e fiquei curiosa. Como iam tratar aquela história tão doída com música? Seria um musical denso, triste e deprimente? Nada contra! Eu chorei em todas as vezes em que vi Os Miseráveis, em peça e em filme.
A peça foi apresentada no Teatro São Caetano e fica no Rio por mais duas semanas. A primeira coisa que chama a atenção são as vozes inacreditáveis do elenco. Eu não esperava ver tanto talento reunido num lugar só. O canto preenchia o teatro, assim como a emoção. Sim, a história de Celie ainda tinha um começo triste, mas havia muita leveza para equilibrar e o elenco nos guia com mensagens Celie precisava ouvir, e nós também.
Era uma delícia ver Harpo (Caio Giovani) sempre que ele aparecia. O filho mais ingênuo e romântico do marido abusivo de Celie. Não consegui prender a gargalhada quando ele dançou como o Chalton, de Um Maluco no Pedaço. As três fofoqueiras (Claudia Noemi, Hannah Lima e Tati Cristine) eram sempre um alívio, além de um ótimo recurso para mostrar a visão da sociedade da época que, como toda sociedade de qualquer época, adorava uma boa fofoca. Maju Tatagiba emprestou sua voz e talento para a cômica Gralha, arrancando boas risadas do público em suas aparições e surpreendendo com os caminhos que ela acaba tomando. Nadjane Pierre é mais uma a encantar com sua voz e presença.
E tinha é claro Shug Avery, que, na pele da poderosa Flavia Santana, chegava como um furacão de carisma, fazendo rir, levantando a plateia e virando a cabeça dos homens (e mulheres). Mulheres fortes não faltam, aliás! Temos a Nettie (Lola Borges), irmã de Celie, que trilha um caminho completamente inusitado.
Foto: Guito Moreto / Agência O Globo |
Foto: Eddie Van Feu |
Mas numa história de mulheres, temos também os homens e não podemos nos esquecer deles! Wladimir Pinheiro é Mister, marido abusivo e violento, e ele também conta sua história com aquele vozeirão que chega até à Lua. E é quando percebemos que ele é fruto de uma sucessão de homens abusivos e violentos, que ensinam geração após geração os homens a tratarem as mulheres como coisas. E às vezes, até algumas mulheres acreditam nisso, como Celie acaba fazendo dando um conselho ruim à Harpo, que não sabe como “controlar” a amada Sofia. Mister é durão, implacável, um homem com H maiúsculo que senta a mão na cara de Celie se ela não obedecer. Mas quando Shug Avery aparece, ele mostra sua outra face, o homem apaixonado que faz tudo pela amada. E quando seu pai (Jorge Maia, de novo) aparece, ele muda de posição, passando de opressor a oprimido.
Mas nem só de homens opressores vive a Cor Púrpura! Temos homens apaixonados, leves e bem humorados, como Bobby (Rodrigo Fernando), Grady (Dennis Pinheiro)e Buster (Leandro Vieira). André Sigom interpreta o guarda e Thór Junior é o pastor no número de abertura.
Foto: Eddie Van Feu |
Há tantas lições a aprender aqui! Há inclusão, há diversidade, há história, há relacionamentos complexos. E também há amor, redenção e mais amor. Num caminho de violência e injustiça, saber que também podemos encontrar beleza e amor é de aquecer o coração.
As músicas são belíssimas, com adaptação do saudoso Arthur Xexéu, que fez um trabalho maravilhoso. Eu me identifiquei com muitos trechos. E quando ouvi “Se você acha que trabalha demais, espera que ainda tem mais!” eu juro que quase pulei lá do balcão onde eu estava!
A Cor Púrpura tem direção de Tadeu Aguiar e fica no Rio até dia 30 de maio. É um projeto da Estamos Aqui Produções. Se você puder, vá. Não vai se arrepender! Obrigada ao Ministério da Cultura e a Bradesco Seguros. Sem eles, a peça não existiria, aqueles artistas incríveis não estariam naquele palco e eu e minha querida sogra Dona Regina não teríamos tido uma experiência fantástica.
O musical “The Color Purple” da Broadway no Brasil!
📍Maio: Rio de Janeiro
📍Junho: São Paulolinktr.ee/acorpurpurabr