por Renato Rodrigues
Hoje, Leonard Nimoy partiu numa nova aventura, para explorar novos mundos, novas civilizações. O ator morreu aos 83 anos, em sua casa em Los Angeles. Sua mulher, Susan Bay Nimoy, confirmou a notícia ao New York Times, dizendo que a causa da morte foi o estágio final de doença pulmonar crônica obstrutiva.
No ano passado, ele revelou ter uma grave doença no pulmão. "Parei de fumar 30 anos atrás. Não cedo o suficiente. Eu tenho COPD [doença pulmonar obstrutiva crônica]. O vovô aqui diz pare agora!", escreveu em sua conta no Twitter.
É sempre triste nos despedirmos de alguém que fez parte de nossas vidas por tanto tempo, mesmo de longe, mesmo atuando quando nem tínhamos nascido, mesmo estando no futuro distante ou vindo de um outro planeta... Roubartilhando do amigo JM no Facebook a fala de Kirk em ST II: "De meu amigo só posso dizer o seguinte: De todas as almas que encontrei em minhas viagens a sua foi a mais ...humana."
Perguntei aos amigos aqui do Alcateia: Qual foi sua primeira jornada ao lado de Nimoy?
ANTERO LEIVASA primeira foi num comercial na extinta Rede Tupi de Televisão onde o narrador berrava umas três vezes STAR TREK. Quando conheci a série, fiquei mais fã do Capitão Kirk, mas o vulcano Spock vinha em seguida. UM símbolo da minha infância e adolescência".
"I am not Spock": A pressa em afirmar não ser um personagem que se tornara tão popular na TV, lembrava uma paranóia vivida (e morrida) pelo ator George Reeves, ao perceber-se prisioneiro do Superman num seriado, o que terminara levando-o ao suicídio (não, conspiradores de plantão, ele não foi assassinado). O tempo passou e Nimoy bem que tentou não ser o Spock e até em produções sci-fi bem bacanas, como Invasores de Corpos, a versão de 1978, dirigida pelo Philip Kauffman, mas mesmo diante deste filme, eram inevitáveis os comentários na escuridão materna do cinema: "Ih, o Spock!".
Finalmente em 1980, a Enterprise retornava com toda pompa e circunstância onde bem merecia estar: nas telonas. Conduzida pelas hábeis mãos de Robert Wise, ali estavam eles, todos de volta: James Tiberius Kirk, Leonard 'Bones' McCoy, Montgomery Scott, Pavel Checov, Nyota Uhura e até a Ordenança Janice Rand. Claro, Mr. Spock demorou um pouco mais a entrar em cena. E causou bem mais ao fazê-lo. Um já não tão jovem Leonard Nimoy obrigara-se a escrever o tal livro, negando ser "apenas" aquele extraterrestre de orelhas pontudas que alguns religiosos confundiam com o demônio. Alguém disse que Jornada nas Estrelas, O Filme não faz jus à série? Bah, calem vossas bocas sub-trekkers! Seis filmes depois, ao fim da Jornada, hoje denominada clássica, em 1995, Nimoy lança, agora sim, sua REAL biografia: I AM Spock. Os fãs exultaram. E ele sabia. Seu personagem não era um mero herói de cinema criado por Gene Rodemberry (não desmerecendo os heróis de cinema, por favor), mas um filósofo quase nietzscheano com sua aparente frieza e predileção por gatos e música, em eterno choque com o emocional Dr. McCoy e numa parceria IMORTAL com o Capitão, Almirante e de novo Capitão Kirk.
O que tinha o Kirk de explosivo, brigão e pegador, tinha o Spock de racional, reflexivo e contido. Um verdadeiro consegliére para a exploração de novos mundos que a Enterprise fazia. Depois de CINCO franquias, recentemente, a Federação dos Planetas e a tripulação da nave NCC 1701-C voltou ao cinema. Outras faces, novos talentos, mas Mr. Spock, o primeirão, o Leonard, aquele, lá estava. E no outro filme também. Esperávamos ver o Spock na ponta "final" da trilogia. Não deu. Nimoy faleceu. Porra, os heróis também morrem aqui fora. E é isso que torna a vida real, um SACO. Restam-nos os quadrinhos, os livros e os filmes. Afinal, em telonas ou telinhas a vida sempre será ETERNA e próspera, audaciosamente indo onde ninguém jamais esteve! William Shatner, amigo pessoal de Nimoy, entende bem isso, afinal ele sabe que os heróis são eternos. No nosso mundo são! Vá em paz, Mr. Spock.
RENATO RODRIGUESÉ difícil marcar a chegada de alguém que pareceu estar sempre presente. Talvez tenha sido durante as reprises na TV Bandeirantes ou quem sabe indiretamente pelo desenho animado da Filmation nos anos 70. O reencontrei mais velho nos filmes quando passaram na Globo e pouco depois na Rede Manchete onde eu saí do holodeck e assumi de vez ser fã da franquia.RICKY NOBREEra em meados da década de 70. Eu deveria ter meus quatro anos, provavelmente. Minha mãe gostava muito, e eu assistia junto. Lembro, nessa época, antes das exibições na Bandeirantes, na década de 80, de forma bem vívida, o episódio que acabou sendo o primeiro a ser exibido na TV americana, apesar de ter sido o sexto produzido. Um ser monstruoso roubava o sal das pessoas, e se passava despercebido por mudar de forma. Eu morria de medo daquilo, mas não conseguia parar de olhar. Sendo bem criança, a série animada foi meu contato maior com a série e o que eu mais gostava. Mas o episódio do monstro foi tão marcante, que eu ainda lembrava detalhes dele quando veio a exibição na Bandeirantes, que foi quando eu realmente me tornei fã. Outra lembrança marcante foi assistir o primeiro longa no cine Imperator, no Méier e, pela primeira vez, ler as legendas sozinho, aos 7 anos. A trama da pequena Voyager 6 que volta inteligente me deixou absolutamente fascinado. Mas precisou de alguns anos e mais maturidade da minha parte até que eu fosse capaz de compreender as sutilezas impressas em Spock pelos escritores e por Nimoy. Especificamente, me encanta a jornada rumo à paz de espírito do personagem que começa no primeiro filme e termina no sexto. Uma jornada que Nimoy também fez, ao se desenvolver como cineasta e aceitar seu lugar na cultura pop, aprendendo que os dois não eram auto excludentes. A lembrança e ao mesmo tempo a mensagem mais marcante que ele me deixou foi sua cena em Ira de Khan. Logo no início, ele declara sua amizade a Kirk dizendo: "Você é meu oficial superior e é também meu amigo. Eu sou e sempre serei seu". Nimoy imprimiu em sua interpretação uma tranquilidade, uma leveza numa declaração de amor aparentemente desprovida de emoção, mas que é profundamente sincera. A paz de uma amizade da qual não se tem dúvidas. É uma cena que sempre me emocionará.
EDDIE VAN FEU
Minha mãe que via Jornada nas Estrelas. Para mim, William Shatner era mesmo o intrépido policial J. T. Hooker em "Carro Comando" (nunca soube o que esse título queria dizer. O que diabos é um carro comando???). Na série, William Shatner arrumava emprego para todos os seus amigos, incluindo... Leonard Nimoy! E dessa vez eu confesso que foi difícil vê-lo sem as orelhas pontudas. Com o tempo, Leonard Nimoy se tornou um ícone, um símbolo e eu sempre parava para prestar atenção quando ele aparecia. A notícia da morte dele me deixa triste, como qualquer despedida de alguém que importa, alguém relevante, mas uma vida grandiosa como a dele não termina. Nunca. Algumas pessoas são assim. Infinitas, imortais e grandes demais para se encaixarem em conceitos arcaicos como tempo.