por Ricky Nobre
Continuando nossa viagem pelos últimos anos da Velha República, chegamos ao Episódio II. Ataque dos Clones (2002) vem desfazer alguns problemas do episódio anterior e reforçar outros. A principal qualidade desta segunda parte é finalmente apresentar um Anakin realmente problemático. Arrogante, indisciplinado e, principalmente, com muita raiva, apesar de suas intenções serem sempre as melhores. A rigidez de Obi-Wan ao reprimi-lo é apenas uma das muitas facetas da excelente caracterização do personagem, que não fica nada a dever a nossas altas expectativas sobre como deveria ser o jovem cavaleiro jedi Kenobi.
Porém, o próprio Anakin acaba mais uma vez atraindo a antipatia de parte do público, e mais uma vez o ator leva a culpa. Não devemos nunca esquecer que, desde os primeiros anos da década de 70, George Lucas só sabe dirigir atores usando as palavras "mais rápido" e "mais intenso". Harrison Ford conta que ele chegou um dia a dizer: "faz assim, só que melhor". Um ator jovem e completamente inexperiente não tem opção a não ser ficar totalmente perdido sem saber o que fazer com os velhos e constrangedores diálogos de Lucas que, se em diversos momentos melhoraram muito graças à parceria com Jonathan Hales, também pioraram demais durante as inacreditáveis cenas de romance que falham catastroficamente na tentativa de criar a lendária história de amor entre Anakin e Padme. E quando você pensa que a pior coisa são os diálogos... eles rolam na relva!
Em termos de ação, o filme acerta demais na luta entre Obi-Wan e Jango Fett, e nas épicas batalhas da arena e em campo aberto. Para ser honesto, toda a ação do filme é excelente, com exceção da sequência na fábrica de androides, desde sua constrangedora semelhança com videogame até o humor escrachado, onde C3PO faz as vezes de Jar Jar (que, aliás, quase não aparece e tem, acredite, uma participação importantíssima).
A escolha de Christopher Lee como Conde Dokuu foi sensacional e faz um belo eco com a participação de Peter Cushing no episódio IV. O Yoda guerreiro é uma divertida surpresa, embora se pudesse esperar um pouco mais das lutas de sabres de luz. Em apenas um momento, a montagem tosca típica do episódio I aparece aqui, desta vez na cena da reunião com o Conde, onde cada personagem alienígena fala por sua vez de forma lenta e canastrona toda vida, com cortes frouxos que só torna cada pedaço pior.
Talvez o furo mais
grave do roteiro seja o abandono totalmente inexplicável de Shmi.
Qualquer mente razoável vai questionar como Anakin pode passar dez anos
sem procurar saber como estava a mãe, ou sequer cogitar em comprar sua
liberdade. E surpreende que o roteiro não tenha sequer oferecido uma
desculpa, ainda que esfarrapada. E na esteira da sequência, Anakin confessa que, no ápice do ódio, matou os captores da mãe, mas não apenas ele, mas as mulheres e crianças também. Frente à confissão do genocida, o que Padme faz: a) grita de horror b) chora de tristeza c) sai correndo de perto desse psicopata d) faz cafuné e se apaixona por ele. Mal sabia ela o que a esperava no Episódio III...
Ataque dos Clones foi um enorme passo adiante em relação ao Episódio I (tem gente que acha o I melhor que o II, mas eu não quero saber o que essa gente andou fumando). Mesmo com críticas em relação ao Anakin do Hayden Christensen, ele finalmente apresenta a personalidade que esperávamos ver. De fato, a melhor cena entre ele e Padme não é romântica, mas uma discussão onde ele diz que, se numa democracia nem todos concordam, alguém forte deve fazê-los concordar. Discussão, aliás, extremamente pertinente nos dias de hoje.
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