Por Ricky Nobre
No despontar do milênio, em 2000, Brian Synger conseguiu
realizar o primeiro filme bem sucedido de uma equipe de super-heróis. X-Men é
lembrado como um pioneiro do gênero (ou subgênero, se preferirem) que reinou
nestas duas últimas décadas e está dominando o topo das listas de maiores
bilheterias de todos os tempos. Como a maioria sabe, antes da editora Marvel
virar estúdio e mudar a paisagem de Hollywood, ela esteve à beira da falência,
o que a fez rifar boa parte de seus direitos autorais por diversos estúdios.
Fox adquiriu os mutantes e tudo a eles relacionado. Com o sucesso do primeiro
filme, veio o sensacional X-2 e, consequentemente, uma série de filmes e
spinoffs de qualidades mais variadas, do excelente ao sofrível. Um reboot
disfarçado de prequel bagunçou a linha de tempo e introduziu um elenco mais
jovem, e uma viagem temporal serviu de desculpa para qualquer incongruência
cronológica, embora, na prática, desse conta apenas de uma pequena parte desses
problemas.
Após o decepcionante Apocalipse, Synger deixou a franquia em
meio a acusações de abusos e o projeto seguinte ficou a cargo de Simon Kinberg,
roteirista e produtor de alguns dos filmes anteriores, que estrearia na
direção. A notícia de que o próximo filme seria sobre a Fênix Negra foi
recebida com desconfiança pelos fãs, uma vez que este arco dos quadrinhos,
talvez o mais impactante de todos dos X-Men, já havia sido abordado de forma
atrapalhada no terceiro filme. Dois adiamentos de estreia e a refilmagem quase completa
do último terço do filme soaram os alarmes: uma bomba estava por vir.
Finalmente nos cinemas, Fênix Negra pode ter seu impacto
significantemente alterado a partir de, principalmente, dois elementos:
expectativa do público e seu conhecimento (ou não) do material original. Para
quem esperava um desastre absoluto, a surpresa: é um filme, no geral, bem
realizado, centrado nos personagens e que se sai melhor do que o esperado
adaptando uma saga complexa em um filme de menos de duas horas.
Afastando-se da adaptação anterior, este volta às origens ao
mostrar Jean Grey absorvendo a força cósmica em um acidente quando os X-Men
estão resgatando astronautas no espaço. Não existem tramas paralelas no
caminho. Jean e seu drama são o centro da narrativa e o filme acompanha os
dilemas dos amigos que a cercam e são afetados pelo que a poderosa mutante
passa. O filme mantém um tom pesado, com o uso de humor muito pontual, quase
inexistente, porém sem cair na afetação do “filme de super-herói sombrio”
(apesar da música de Hans Zimmer que, infelizmente, não cumpriu sua promessa de
abandonar os filmes de super-heróis). É um filme dramático, com forte peso
emocional que exige dos atores, principalmente Sophie Turner e James McAvoy, e
que traz consequências para todos os envolvidos e que leva ao limite máximo a
violência (e até palavrões) permitidos para a classificação PG-13 (13 anos no
sistema americano).
Por outro lado, as fragilidades do filme o impedem de ser
verdadeiramente bom, e praticamente tudo de errado está no roteiro. A começar
pela decisão de realmente ser um filme com menos de duas horas, o que não dá
conta da saga da Fênix mesmo de forma simplificada. Personagens importantes são
deixados de lado, como Mercúrio que desaparece mesmo tendo poderes essenciais
para uma situação tão difícil, e Tempestade que permanece subdesenvolvida,
tanto na magnitude dos poderes quanto na personagem em si, o que é realmente
uma pena.
Outro problema grave são os alienígenas (terrivelmente)
genéricos que assumem o papel que o Clube do Inferno teve na HQ, uma vez que o
grupo de vilões foi desperdiçado já utilizado
em Primeira Classe. Já a Jessica Chestain interpreta a líder dos aliens, uma
loira gelada que serve de dublê de Emma Frost mas, assim como todo o seu grupo,
é desenvolvido apenas o mínimo fiapo necessário para servir à trama. Fica
evidente que, ainda que todo o contexto cósmico da HQ tenha sido descartado, a trama
como ela está no filme necessitaria de pelo menos mais uma hora de filme para
dar conta dos vilões, da complexidade do drama de Jean e da participação dos
X-Men em tudo. Outro detalhe que decepciona é a ausência quase absoluta de
ambientação de época. Os filmes anteriores se passavam respectivamente nos anos
de 1963, 73 e 83 e a ambientação mostrava isso. Aqui, mal dá pra perceber que
se passa em 1993.
Ainda assim, em apenas 113 minutos (com créditos), o
resultado é muito acima do esperado. O público casual, que conhece apenas os
filmes, pode receber o filme bem melhor e com menos ressalvas. É
indiscutivelmente melhor do que Apocalipse, um filme que se apoiava inteiro no
vilão e sua ameaça, o que falhou quase que totalmente. Aqui, apesar dos vilões
fracos, eles cumprem o papel de serem aqueles que querem se aproveitar do poder
da Fênix, que se coloca como a verdadeira ameaça do filme, ainda que, talvez, o
filme pudesse se beneficiar de uma ousadia maior na extensão da vilania de Jean
até o limite. NESSE ponto, X-Men 3 pode ter sido melhor resolvido.
Para aqueles que realmente gostam da franquia dos mutantes
na Fox, é muito recomendável experimentar o filme no cinema pois, apesar dos
problemas, dá pra ver que muito dinheiro foi posto na produção. Não é o fim
definitivo ainda, pois apenas ano que vem, 20 anos após o primeiro filme, que
estreia Os Novos Mutantes, outra produção complicada que sofreu ainda mais
atrasos que este último dos X-Men. Só para ter uma ideia, Deadpool 2, Fênix
Negra e Novos Mutantes foram filmados ao mesmo tempo. Deadpool 2 estreou em
maio de 2018. Fênix estreia agora. Novos Mutantes apenas em abril de 2020. No que concerne o universo mutante,
compra da Fox pela Disney vem quase que como uma eutanásia.
COTAÇÃO:
X-MEN:
FÊNIX NEGRA (Dark Phonix, 2019)
Com: Sophie
Turner, James McAvoy, Michael Fassbender, Jessica Chastain, Nicholas Hoult, Tye Sheridan, Alexandra Shipp,
Evan Peters e Jennifer Lawrence.
Direção e
roteiro: Simon Kinberg
Fotografia:
Mauro Fiore
Montagem: Lee
Smith
Música:
Hans Zimmer
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