Por Ricky Nobre
Quando Guardiões da Galáxia foi lançado em 2014, todo mundo
foi pego de surpresa. Após vários sucessos com os heróis mais conhecidos da
Marvel (os que ela ainda tinha os direitos, na verdade), o estúdio resolveu
apostar num grupo de personagens pouco conhecido até mesmo para alguns leitores
de quadrinhos. O estrondoso sucesso dava a impressão de que a Marvel era capaz
de qualquer coisa (menos fazer um bom filme do Thor). Com muito (muito!) humor,
referências ao século XX, ação, música, cor e (finalmente!) personagens do
universo cósmico da editora, Guardiões da Galáxia provou também ser capaz de
momentos ternos e emocionais que não eram estragados por uma piada fora de hora
(“We are Groot”). O sucesso foi tamanho que rapidamente outros estúdios
tentaram entender a dinâmica do filme e faturar encima. Quem se lembra do primeiro
e estranhíssimo trailer de Star Trek: Sem Fronteiras? O próprio Esquadrão
Suicida é uma muito desastrada tentativa de criar um “Guardiões” da DC. A expectativa
quanto à continuação é, desnecessário dizer, imensa. Pois, finalmente, os
heróis mais estranhos da galáxia voltaram trazendo tudo o que os fãs amaram no
primeiro filme; e tudo em enormes e, talvez para alguns, indigestas
quantidades.
Desta vez, nossos heróis estão fugindo dos Sovereign, povo
que eles acabaram de ajudar, mas Rocket fez algo imbecil. Nessa fuga, acabam encontrando
Ego (Kurt Russel, perfeitamente escalado), o verdadeiro pai de Peter Quill. Os
Sovereign contratam Yondu e seu bando para achar os guardiões, enquanto Gamora
tem que lidar com a irmã Nebula e Peter descobre os segredos e maravilhas por
trás de sua herança paterna.
O roteiro e direção de James Gunn traz erros e acertos. O principal
problema está, surpreendentemente, no humor. Excesso de humor, principalmente fora
de hora, tem sido uma crítica constante aos filmes da Marvel. Guardiões da
Galáxia, porém, encontrou uma medida, um ritmo e uma identidade que permitiram
um filme carregado de humor, mas que parecia perfeitamente adequado à história,
aos personagens e ao clima do filme, não deixando que esse humor invadisse
momentos mais dramáticos. Aqui, felizmente, nenhum momento mais sério foi
estragado por alguma piada estúpida, mas a primeira metade do filme é tão
carregada de piadas ao ponto de algumas cenas terminarem truncadas. Algumas
ações, importantes inclusive, chegam a parar para que a piada seja feita, e nem
todas são exatamente engraçadas. É muito curioso como isso condiciona parte do
público, onde alguns chegam ao ponto de não ver mais graça em nada e outros
riem até onde não tem piada.
Na sua segunda metade, o filme começa a se concentrar melhor
em si mesmo, e a história flui muitíssimo melhor. Cada personagem tem seu
momento, sua própria história, seu próprio conflito com o passado, e fica claro
que o tema central do filme é a família, aquela na qual você nasce e a que você
escolhe. Apesar do humor, muitas vezes absurdo e escrachado, continuar, ele
passa a ser usado de forma mais inteligente e precisa, sem jamais atropelar o
drama e a emoção, que, aliás, assumem proporções bastante inesperadas, tanto
para o espectador comum, quanto para o “marvete”.
Mesmo com as falhas, James Gunn figura entre os cineastas
mais inventivos e originais que passaram pela Marvel até agora. Com um
belíssimo visual até nos menores detalhes, Gunn mete o pé na jaca dos anos 80,
com referências a fliperama (Asteroids®, Pac-Man®...), Hasselhoff e um Kurt Russel
rejuvenescido sensacional, além, é claro, das esperadíssimas músicas
setentistas do Awesome Mix #2. Até mesmo o tema musical heroico do grupo que
Tyler Bates compôs para o primeiro filme e foi subutilizado (como sempre são os
temas principais dos filmes da Marvel), desta vez é ouvido constantemente, seja
como fanfarra, seja em variações, num trabalho quase 100% sinfônico, como era
comum nas trilhas dos anos 80. E na referência musical suprema, esse tema
heroico vira versão “disco” estilo Meco nos créditos finais. Sobra referência
até de Hitchcock e Tarantino, um verdadeiro exército de personagens do universo
cósmico da Marvel, capaz de testar os conhecimentos de qualquer fã, e uma
participação de Stan Lee que vai te fazer cair da cadeira! Além, é claro, da
infinita fofura do baby Groot!
Não se pode deixar de fazer uma importante menção às
personagens femininas do filme. Mesmo com tantos homens protagonizando, Gamora,
Nebula, Ayesha e Mantis roubam a cena com personagens fortes, bem construídos e
sem os clichês estúpidos que tão constantemente são usados com mulheres no
cinema. O embate e a relação entre Gamora e Nebula merece particular destaque.
Guardiões da Galáxia Vol 2 acaba sendo um filme um tanto
desequilibrado em sua forma de lidar com o humor e a emoção. Dependendo de suas
expectativas e exigências, seja quanto à Marvel, seja quanto a cinema, você
pode acabar se decepcionando ou se irritando com a primeira ou com a segunda
metade do filme. Muito provavelmente, seria um filme melhor se ele tivesse
casado tão bem humor e drama na primeira parte como fez da segunda. Mas de uma
coisa não há dúvida: se quando Cat Stevens cantar você não estiver chorando, você
tem um coração de pedra e, pra manter o nível de honestidade de Drax, suas
referências musicais fedem!
Guardians
of The Galaxy Vol 2
Com: Chris
Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Michael Rooker, Karen
Gillan, Pom Klementieff, Kurt Russell, Elizabeth Debicki, Sean Gunn e Sylvester
Stallone.
Direção e roteiro: James Gunn
Fotografia:
Henry Braham
Montagem: Fred
Raskin e Craig Wood
Música: Tyler Bates
Música: Tyler Bates
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