quarta-feira, 20 de setembro de 2017

MÃE! PERTURBADOR, APAVORANTE E BRILHANTE!

Por Eddie Van Feu 


De tempos em tempos, surge um filme que dá uma mexida na gente. Quanto mais tempo passa, mais difícil é encontrar um desses filmes porque você já está preparado para as surpresas que outros filmes já mostraram. Na segunda-feira, Ricky Nobre e eu fomos na cabine de imprensa do filme Mãe! Nós saímos do cinema totalmente desnorteados e só não paramos e sentamos em algum lugar porque nossas obrigações nos chamavam.


Mãe! é um filme de terror. Não espere um terror tradicional, com sustos apoiados em truques de som e clichês como gatos pulando de dentro do armário. Mãe! é um terror visceral, apavorante e que gera uma angústia tão profunda que tive vontade de levantar e sair do cinema várias vezes. Mas não sair andando, com classe, mas sair dali gritando e correndo como uma mulherzinha!


No início, somos apresentados a um simpático casal (Javier Bardem e Jennifer Lawrence) que mora sozinho em uma casa que sofreu um recente incêndio. Enquanto ele, um escritor que tenta vencer uma crise criativa de inspiração, ela se dedica a reformar a casa. Um dia, um estranho chega e muda a rotina do casal. Depois dele, chega a esposa. E depois, seus filhos. E então nunca mais para de chegar gente naquela casa!


Nós vamos acompanhando tudo pelos olhos dela e, como ela, ficamos confusos, chocados e, finalmente, irados com a falta de noção das pessoas. Durante todo o filme eu procurei explicações para o que estava acontecendo, mas não encontrei.


Depois que saímos do cinema, perdidos e meio trôpegos, trocamos algumas palavras no metrô, ainda muito confusos. Horas depois, quando eu tinha me desligado completamente do filme e já estava envolvida com as tarefas da cozinha, eu entendi! E foi como se duas paredes tivessem caído e me revelado parte de um cenário completamente novo. Eu falei com Ricky e ele ficou chocado. Mais tarde, eu estava na academia e uma terceira parede caiu quando eu não estava mais pensando nisso e eu percebi mais uma informação. E então Ricky me ligou e derrubou a quarta parede! E foi quando desvendamos por completo o filme e sua mensagem. Foi como se ele precisasse de um tempo dentro de nós para atingir o ponto, como um bolo.


Infelizmente, eu não posso falar nada sobre nossas descobertas, porque não seria justo com você. Eu realmente acho que você deva ver esse filme, mesmo que não goste de filmes de terror. E deve se desafiar a sobreviver às cenas de tensão e angústia e se abrir para o que ele realmente quer dizer. Muita gente vai sair do cinema reclamando porque não vai entender, outros vão fingir que entenderam, mas eu acredito naqueles que vão entender de verdade permitindo que a história penetre em si mesmos como água na terra.


Eu também indico que você não procure saber muito sobre esse filme, já que nem todo mundo vai ter a cortesia de deixar que você mastigue sozinho sua própria comida. Vá sabendo o mínimo possível. Vá de coração aberto. Vá.


O diretor Daren Aronofsky escreveu boa parte do roteiro em apenas cinco dias em um tipo de surto febril que eu conheço bem, pois também já escrevi livros inteiros em poucas semanas. Michele Pfeifer não entendeu nada, mas gostou da personagem e quis fazê-la. E Jennifer Lawrence desistiu de outro projeto para se dedicar a esse de tão empolgada que ficou. Desnecessário dizer que o elenco dá um show. A fotografia é crua e bela e não é um filme que você vê e se dá ao luxo de esquecer.


Não... Esquecer esse filme não é uma opção. Não se esquece uma obra de arte, mesmo que ela seja extremamente perturbadora.







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