FILME 17: HERE
Do bruto, pesado, artificial ao delicado, minúsculo, natural. É a jornada do protagonista Stefan que, de férias da construção civil, pretende visitar a família na Romênia, de onde ele tem dúvidas se pretende voltar, pois não parece satisfeito com sua vida na Bélgica. Paralelamente, Shuxiu, uma botânica de ascendência chinesa, estuda musgos para seu doutorado. E é no encontro dos dois que o filme de fato acontece.
O filme celebra o "aqui" do título, seja no dividir de uma sopa com um amigo, seja no trabalho solitário do estudo de plantas, seja na inesperada divisão desse conhecimento com um estranho. A montagem, por vezes, se detém nesses momentos, onde só há a cidade, a rua e sua paisagem urbana, ou entre a vegetação, as pedras, a chuva, duas pessoas que param uma em frente à outra. Here é de uma simplicidade e delicadeza adoráveis, e a expressão da atriz no último take é uma preciosidade.
COTAÇÃO:
HERE (Bélgica – 2023)
Com: Stefan Gota, Liyo Gong e Teodor Corban
Direção e roteiro: Bas Devos
Fotografia: Grimm Vandekerckhove
Montagem: Dieter Diependaele
Música: Brecht Ameel
FILME 18: SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO
Todd Heynes olha para o passado de forma menos literal do que em seus filmes anteriores, como Longe do Paraíso, Velvet Goldmine e Carol, mas para uma versão atualizada e meio satirizada de um melodrama sensacionalista "baseado em fatos reais". A história de uma atriz que faz seu estudo de personagem diretamente com sua inspiração serve de base para uma obra que acaba não indo tão fundo nem na sátira, nem na sordidez do tema.
O embate entre as excelentes Portman e Moore é o grande trunfo de Heynes, que não esconde que não está, de forma alguma, conduzindo o filme com uma seriedade sisuda, o que fica muito claro na forma como Marcelo Zarvos adapta a música de Michel Legrand originalmente composta para o filme O Mensageiro (1971) que, não coincidentemente, também tratava do relacionamento de um garoto de 13 anos com uma adulta, evidenciando a dramaticidade exacerbada da trilha.
Heynes balança nessa corda bamba entre seu olhar satírico ao sensacionalismo de tabloide e a extrema delicadeza do tema, onde o maior desafio é essa discussão sobre a normalidade de subúrbio de um casal composto por abusadora e abusado. A cena onde a personagem Gracie se mostra completamente incapaz de enxergar sua responsabilidade sobre seus atos a partir da confrontação do marido é o mais perto que Heynes chega do desenvolver esse tema em específico. O principal foco é em como a atriz Elizabeth vai se enfiando na vida da família e, especificamente, na de Gracie e as mudanças que o processo causa nas duas. Talvez se Heynes tivesse menos medo do ridículo do melodrama e sentisse menos necessidade de satirizá-lo, talvez conseguisse um maior engajamento do espectador a partir de algo mais honestamente despudorado.
COTAÇÃO:
SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO (May December – 2023)
Com: Natalie Portman, Julianne Moore, Charles Melton, Chris Tenzis e Gabriel Chung
Direção: Todd Haynes
Roteiro: Samy Burch
Fotografia: Christopher Blauvelt
Montagem: Affonso Gonçalves
Música original e adaptação: Marcelo Zarvos
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