Por Ricky Nobre
A jovem atriz americana de família irlandesa Saoirse Ronan
(boa sorte em pronunciar esse nome) parece ser pé quente. Ela tem o dom de
elevar filmes interessantes, porém medianos, a status bem mais elevados do que
merecem. Em 2015, foi com Brooklyn, um filme razoável que foi vendido por um
altíssimo preço no festival Sundance, recebeu múltiplas indicações ao Oscar e
Globo de Ouro e foi sucesso absoluto de bilheteria na Irlanda. Lady Bird segue
caminho semelhante, porém com certa vantagem: se não é tão polido, bonitinho e
bem acabado quanto Brooklyn, o filme da diretora e atriz Greta Gerwig ganha na
qualidade dos personagens e das interpretações.
Em 2002, a jovem Christine está terminando o ensino médio e
deseja passar para uma grande universidade, de preferência, longe de casa. Consistentemente
rebelde, ela se auto batizou “Lady Bird” e não aceita ser chamada por outro
nome. A questão da universidade é apenas um dos muitos motivos de atrito entre
ela e a mãe. Entre seu desejo em sair da mesmice da região pobre de Sacramento,
na Califórnia, conhecer o mundo e expandir seus horizontes, ela primeiro
precisa aprender a lidar com o que a rodeia, seja a família, os amigos ou sua
origem.
O roteiro de Lady Bird é bastante simples e não é particularmente
inspirado. O que o filme tem de melhor e é seu grande diferencial é a concepção
da protagonista e a forma como é interpretada por Ronan. É um clichê comum as
personagens de jovens rebeldes, cercados de intolerância, injustiça, caretice e
tudo mais que alimenta a rebeldia juvenil. Mas os tons de Lady Bird são um
pouco mais cinzas. Durante boa parte do filme, não é fácil simpatizar com a
personagem, e a forma por vezes injusta como ela trata a família e amigos pode
gerar antipatia em quem esperava uma protagonista certinha.
Na verdade, Lady Bird é uma adolescente normal e imatura
quanto qualquer outra, capaz de trocar a melhor amiga por outra mais popular
quando lhe parece conveniente, achar que todos são burros/incultos/ignorantes
menos ela, e ser extremamente grosseira e injusta com os pais e o irmão em
momentos de frustração. Ainda assim, não se tem a impressão de que Lady Bird é
uma má pessoa, mas que a maturidade chegará quando suas escolhas tiverem as
devidas consequências.
A questão chave do roteiro e da personagem é o
relacionamento da menina com a mãe. Com sensibilidade e realismo, o filme
mostra uma relação amorosa, porém difícil, onde a mãe tem horror à ideia da
filha cursar faculdade longe de casa, e acaba exercendo um pulso controlador,
onde coisas muito duras acabam sendo desnecessariamente ditas. Muito da
rebeldia aparentemente sem causa da menina tem clara origem em seu
relacionamento com a mãe, que pode mudar de piores inimigas a melhores amigas
em questão, literalmente, de segundos. Os dramas dessa relação mãe/filha que é,
ao mesmo tempo, de amor e rancor, são os principais momentos onde brilham as
interpretações de Saoirse Ronan e Laurie Metcalf.
Com a sensibilidade de construir personagens que não
descambam para o óbvio, Gerwig peca ao não desenvolver um roteiro mais
elaborado. Sendo seu primeiro filme solo como diretora, ela ainda tem muito
tempo para desenvolver seu trabalho. Lady Bird não é uma má estreia, mas não
justifica todo o hype em torno dele.
COTAÇÃO:
LADY BIRD:
HORA DE VOAR (Lady Bird, 207)
Com: Saoirse
Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas
Hedges, Timothée Chalamet e Beanie Feldstein.
Direção e
roteiro: Greta Gerwig
Fotografia: Sam Levy
Montagem: Nick Houy
Música: Jon Brion
INDICAÇÕES AOS OSCAR:
Melhor filme
Diretora: Greta Gerwig
Atriz: Saoirse Ronan
Atriz coadjuvante: Laurie Metcalf
Roteiro original: Greta Gerwig
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