Por Ricky Nobre
Aqui no Brasil a maioria das pessoas não tem noção de que
existe um fenômeno cult chamado The Room (2003). Realizado por Tommy Wiseau, diretor/ator/roteirista
de primeira viagem e uma figura bizarra, o filme tornou-se famoso em sessões
especiais por ser, provavelmente, o pior filme já feito, onde cada cena se
torna motivo de descontroladas gargalhadas, se você tiver estômago e o senso de
humor adequado, é claro. Ainda que tivesse arrecadado menos de dois mil dólares
em seu lançamento, The Room acabou dando lucro ao se tornar cult. Em 2013, Greg
Sestero, amigo e companheiro de cena de Wiseau, lançou um livro contando como
tal excrecência pôde ser realizada e como ela conseguiu fãs de verdade.
Também desconhecido do grande público é o fato do ator James
Franco ter uma filmografia impressionantemente extensa como diretor, realizando
até cinco projetos em um único ano, dentre longa-metragens, séries e filmes de
TV e documentários. Franco, fã de The Room de longa data, dirige a atua
(igualzinho ao Wiseau...) nesta adaptação que conta a saga de como pessoas que
não sabiam absolutamente nada de cinema fizeram um filme que, do jeito dele, é
inesquecível.
O Artista do Desastre não poderia ser outra coisa senão uma
comédia. Como todo filme “baseado em fatos reais”, existe uma boa dose de
adaptação, porém justamente o que o filme tem de mais bizarro e hilário é também
o mais próximo da realidade. James Franco triunfa não apenas em sua perfeita
caracterização de Wiseau, mas também em criar o tom do filme que também é o tom
dos protagonistas: algo que transita entre a ingenuidade, a pureza e a
estupidez, tudo num clima de vago porém constante constrangimento. É interessante
e funcional a ideia de fazer Sestero (Dave Franco, irmão de James) o
protagonista central, pois há tanta névoa no passado e na persona de Wiseau que
praticamente inviabiliza a narrativa ser centrada nele.
Ele cria uma sensação de realidade, de que algo como aquilo
é capaz de acontecer, partindo justamente do oposto: do absurdo e da mentira.
Wiseau, com fortíssimo sotaque do leste europeu, insistia de que era americano
de Nova Orleans. Nunca ninguém soube de onde vinha a enorme quantidade de dinheiro
que ele tinha para desperdiçar fazendo coisas que a produção do filme não
necessitava, como recriar um beco em estúdio, sendo que filmavam ao lado de um
beco real, ou o telhado feito em estúdio com fundo verde quando tinham telhados
disponíveis para filmar com paisagem real, sem precisar de uma pós produção
cara para completar as cenas.
Franco recriou cerca de 20 minutos de cenas de The Room com
fidelidade exata, deixando claro que este foi um trabalho apaixonado. Lembrando
Ed Wood de Tim Burton, o filme se equilibra na corda bamba de expor alguém sem
talento fazendo cinema da pior qualidade ao mesmo tempo em que deixa clara sua
paixão em fazê-lo. O filme com certeza teria mais indicações ao Oscar, na
esteira do Globo de Ouro, onde Franco levou o prêmio de melhor ator em comédia.
Porém, com as acusações de assédio e abuso sexual que vieram logo em seguida, a
Academia se limitou a um indicação pelo roteiro (que não é de Franco). Não deixa
de ser bizarro saber de que Franco é acusado de passar dos limites ao ensaiar
cenas com jovens alunas em seu curso de interpretação e ver a sequência onde
Wiseau faz a mesma coisa no set de The Room. O Artista do Desastre parece
espelhar mais a realidade do que pretendia...
COTAÇÃO:
O ARTISTA DO DESASTRE (The Disaster Artist, 2017)
Com: James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Ari Graynor, Alison
Brie e Zac Efron.
Direção: James Franco
Roteiro: Scott
Neustadter & Michael H. Weber
Fotografia: Brandon Trost
Montagem: Stacey Schroeder
Música: Dave Porter
INDICAÇÃO AO OSCAR:
Roteiro: Scott
Neustadter & Michael H. Weber
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