“Amor” é uma palavra muitas vezes jogada fora. “Relacionamento amoroso” é uma expressão que, com certa frequência, define uma relação que envolve diversas coisas, não sendo o amor uma delas. No imaginário comum, porém, amor é uma palavra santa. O amor é paciente, abnegado, compreensivo. É eterno, invencível, inabalável.
Kate e Geoff estão às vésperas de sua festa de 45 anos de
casados. Eles levam uma vida calma e harmoniosa. Até que Geoff recebe uma carta
informando que sua antiga namorada, morta numa avalanche 53 anos antes, teve
seu corpo encontrado. A partir daí, lembranças e sentimentos começam a ser
revirados, inicialmente de forma tranquila e honesta por parte dos dois, porém vão
progressivamente afetando o casal conforme Geoff vai sendo cada vez mais
atormentado pelas lembranças e Kate começa a descobrir pormenores desconhecidos
do relacionamento dos dois.
45 Anos tem seu roteiro adaptado de um conto de David
Constantine, escrito pelo próprio diretor Andrew Haigh. A origem explica a
curta duração, mesmo num ritmo lento, ainda que nunca arrastado. Delicada e
sutilmente, constrói-se a melancolia de Geoff e o medo cada vez mais palpável
de Kate. Sem saber exatamente o que se passa na cabeça do marido, Kate sente
seu casamento derreter rapidamente em suas mãos como neve, ao contrário do gelo
inabalável que preserva a falecida por décadas. A comunicação entre eles, que
parecia fluente e natural, se interrompe, gerando mais medo e incerteza.
Talvez o roteiro pudesse ser um pouco mais elaborado, mas o
diretor apostou, talvez acertadamente, na simplicidade. O que poderia ter
gerado um filme facilmente esquecível, não fosse a sensação que o público
carrega após a sessão graças aos últimos segundos de filme. Não é um filme
sobre o enaltecimento do amor corajoso e inabalável, mas sobre como, quando
menos esperamos, somos testados em nossa capacidade de lidar com a realidade,
com nossos fantasmas e de realmente nos solidarizarmos com os sentimentos
daqueles que julgamos nos pertencer.
INDICAÇÃO AO OSCAR
Melhor atriz: Charlotte Rampling
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