domingo, 31 de janeiro de 2016

Os filmes do Oscar: 45 ANOS (uma indicação)

por Ricky Nobre



“Amor” é uma palavra muitas vezes jogada fora. “Relacionamento amoroso” é uma expressão que, com certa frequência, define uma relação que envolve diversas coisas, não sendo o amor uma delas. No imaginário comum, porém, amor é uma palavra santa. O amor é paciente, abnegado, compreensivo. É eterno, invencível, inabalável.



Kate e Geoff estão às vésperas de sua festa de 45 anos de casados. Eles levam uma vida calma e harmoniosa. Até que Geoff recebe uma carta informando que sua antiga namorada, morta numa avalanche 53 anos antes, teve seu corpo encontrado. A partir daí, lembranças e sentimentos começam a ser revirados, inicialmente de forma tranquila e honesta por parte dos dois, porém vão progressivamente afetando o casal conforme Geoff vai sendo cada vez mais atormentado pelas lembranças e Kate começa a descobrir pormenores desconhecidos do relacionamento dos dois.



45 Anos tem seu roteiro adaptado de um conto de David Constantine, escrito pelo próprio diretor Andrew Haigh. A origem explica a curta duração, mesmo num ritmo lento, ainda que nunca arrastado. Delicada e sutilmente, constrói-se a melancolia de Geoff e o medo cada vez mais palpável de Kate. Sem saber exatamente o que se passa na cabeça do marido, Kate sente seu casamento derreter rapidamente em suas mãos como neve, ao contrário do gelo inabalável que preserva a falecida por décadas. A comunicação entre eles, que parecia fluente e natural, se interrompe, gerando mais medo e incerteza. 



Talvez o roteiro pudesse ser um pouco mais elaborado, mas o diretor apostou, talvez acertadamente, na simplicidade. O que poderia ter gerado um filme facilmente esquecível, não fosse a sensação que o público carrega após a sessão graças aos últimos segundos de filme. Não é um filme sobre o enaltecimento do amor corajoso e inabalável, mas sobre como, quando menos esperamos, somos testados em nossa capacidade de lidar com a realidade, com nossos fantasmas e de realmente nos solidarizarmos com os sentimentos daqueles que julgamos nos pertencer.

INDICAÇÃO AO OSCAR
Melhor atriz: Charlotte Rampling

Nenhum comentário: