Por Ricky Nobre
Não são novos os romances onde o casal tem como maior
obstáculo alguma doença fatal. Na década de 70, Love Story levou multidões aos
cinemas que se debulharam diante de uma Ally McGraw que ficava cada vez mais
linda conforme a morte de aproximava. Na década de 90, uma Julia Roberts no
auge da fama sofria ao lado de seu amor moribundo, no estrondoso sucesso Tudo
Por Amor. Recentemente, A Culpa é das Estrelas atualizou o tormento dos
enamorados que não têm a vida toda pela frente, mais uma vez, com enorme
sucesso. Em vez de esperar mais umas duas décadas para retornar ao tema, a
cineasta Stella Meghie quis investir numa versão bem mais leve e fofa da
situação, onde os jovens adultos dão lugar a adolescentes e a morte é apenas
uma possibilidade, não uma certeza.
Assim como todos os demais filmes citados, Tudo e Todas As
Coisas é baseado em um livro, este de autoria de Nicola Yoon. Maddy (Amandla
Stenberg, a pequena Hue de Jogos Vorazes) é uma menina de 18 anos que vive
confinada em casa com a mãe (Anika Noni Rose), tendo como únicas amigas a
enfermeira Carla (Ana de la Reguera) e a filha desta, Rosa (Danube Hermosillo).
Ela sofre de Imunodeficiência Combinada Grave, que a impede completamente de
sair de casa e entrar em contato com qualquer coisa (ou qualquer um) que não
tenha sido desinfetado. Tendo perdido o pai e o irmão em um acidente quando ela
ainda era bebê, Maddy vive apenas com a mãe e seu mundo se restringe às
conversas com as três únicas pessoas de sua vida, aos filmes que vê, aos livros
que lê, à internet onde estuda e aos sonhos com o mar, que está a apenas cinco
quilômetros de distância, mas ela não pode ver. Quando novos vizinhos se mudam
para a casa ao lado, Maddy e o rapaz Olly (Nick Robinson) se apaixonam instantaneamente.
Entre longas conversas de whatsapp e encontros clandestinos na sala, Maddy
começa a tomar real consciência da vida que não poderá ter e logo ideias cheias
de romantismo e vazias de inteligência serão inevitáveis.
O filme possui elementos suficientes para uma abordagem mais
hardcore, dura ou adulta, como o medo da morte e da perda, violência doméstica
e o despertar da sexualidade. Provavelmente mirando no público adolescente,
principais leitores do livro, o estúdio preferiu uma classificação PG-13,
garantindo o livre acesso da garotada a partir de 13 anos ao cinema.
Espertamente, a diretora Meghie repensou o peso temático da história e optou
pelo inverso, realizando um filme bem mais leve do que muitos outros com
classificação PG-13, e ela consegue isso através de seu casal de protagonistas
e sua infinita fofura. Apesar do casal já ter 18 anos e que, no mundo real,
provavelmente estariam trocando “nudes”, no filme eles sequer falam palavrão e,
no total de suas atitudes e ideias, parecem bem mais jovens do que são, o que
no caso de Maddy pode ser perfeitamente explicável pela sua falta de interação
social. É como se o roteiro tivesse sido desinfetado da mesma forma que tudo mais que precisa entrar em contato com a protagonista. A inocência do casal pode irritar ou cansar parte do público, mas os
atores vendem seus personagens tão bem e o clima de ingenuidade é tão bem
construído pela direção (os encontros virtuais com o astronauta ao fundo são um
ponto alto) que você é levado a aceitar que essa é a proposta temática e
estética do filme e embarca.
Talvez o filme funcionasse melhor e fosse mais plausível se
os personagens fossem mais jovens, com cerca de 15 anos (no livro Maddy tem 17
em vez de 18), mas isso impediria que os personagens conseguissem fazer
determinadas coisas e também traria mais problemas a uma das principais
reflexões do filme que é sobre o domínio que uma pessoa adulta possa ter sobre
o próprio destino. Porém, talvez o único problema real do filme seja seu
desfecho, onde tira-se da manga um fato que vai impactar pesadamente o destino
do casal e a resolução da trama. Pode ser encarada como parte da mensagem do
filme (o que de fato é) mas também pode ser vista como um artifício para
suavizar (ou mesmo evitar) as consequências mais graves e óbvias. De qualquer
forma, quem quiser curtir o romance apaixonado de um casal incrivelmente
lindinho e fofo não vai se arrepender.
TUDO E TODAS AS COISAS (Everything, Everything, 2017)
Com: Amandla Stenberg, Nick Robinson, Anika Noni Rose, Ana
de la Reguera e Danube Hermosillo.
Direção: Stella Meghie
Roteiro: J. Mills Goodloe, baseado no livro de Nicola Yoon
Fotografia: Igor Jadue-Lillo
Montagem: Nancy Richardson
Música: Ludwig Göransson
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