Por Eddie Van Feu
Toda geração tem heróis onde se espelhar. Imagine a surpresa
e a alegria de ver que a heroína que inspirou a minha geração também inspira
crianças de todas as idades até hoje!
Havia um vazio de heroínas nas telas há muito tempo. Mas
esse vazio não existia no coração das meninas de todas as idades (e, por que
não, de muitos meninos também). A Mulher Maravilha foi eternizada por Lynda
Carter em uma série dos anos 70. A série era bobinha e eu não lembro
particularmente de absolutamente nenhuma cena, mas a personagem se tornou tão
importante para mim a ponto de se tornar uma meta. Eu queria ser a Mulher
Maravilha! Incorporei seus valores, copiei sua classe e nunca houve cantada que
me fizesse mais feliz do que “Olha, a Mulher Maravilha passando!”.
Quando a DC anunciou que finalmente faria um filme de um de
seus personagens mais marcantes, mesmo sem nenhuma série ou filme depois de
Lynda Carter, todos vibramos! E trememos! A DC não tem feito grande coisa com
os grandes personagens que têm. O que será que faria com a princesa amazona?
Será que ela seria uma Xena mais soturna, sem nenhum humor e verdadeira Kick
Ass sem diálogos interessantes? Mas o otimismo imperou! Afinal, a pequena participação
da personagem no tenebroso Batman Vs Superman se tornou a única coisa unânime.
Todos concordaram que foi a melhor coisa do filme. Então, lá vamos nós para o
cinema!
E que surpresa!!! Que surpresa boa! Pela primeira vez, temos
não só um ótimo filme da Mulher Maravilha, mas também um ótimo filme da DC! A
Folha chegou a dizer (e eu ri, claro) que o filme é tão bom que parece da
Marvel. O amigo lobo Ricky Nobre já fez seu parecer técnico sobre a obra (leia a crítica aqui), então gostaria de falar de outras coisas.
Gal Gadot deu uma simpatia à personagem que a tornou
adorável. Mas ela deu sorte! Pegou uma personagem sólida cujo conteúdo foi
respeitado pelo roteiro. Temos uma heroína forte, mas sensível. Que busca a
justiça de um modo lúdico, que vê o mundo de um jeito simplista, que é inocente
sem ser estúpida e é valente sem ser um cliché. É a menina-mulher-mãe que
existe em todas as mulheres, sem deixar de ser a mulher-amiga-namorada que
todos os homens gostariam de ter ao seu lado. E, apesar de sua mãe lhe dizer
que o mundo não a merece, é escolha dela se vai dar seu melhor ao mundo mesmo
assim.
O filme tem algumas pequenas falhas, sendo a maior delas o
vilão e sua motivação meio dúbia com um plano que não faz sentido. Mas tem
taaaanta coisa legal que as falhas são perdoadas facilmente. Chris Pine é um
excelente Steve Trevor e sua química com Gal Gadot é perfeita. O pequeno grupo
de desajustados que acompanha a heroína tem personalidade e é humanizado, assim
como as situações dramáticas e tristes que uma guerra, pano de fundo da
história, traz. As amazonas são mulheres maduras que nos enchem de orgulho e
mandam uma mensagem para as espectadoras de que elas podem envelhecer e
continuarem maravilhosas.
Há muitas mensagens positivas e inspiradoras no filme, mas
eu me emocionei demais com uma em especial. Quando ela chega ao mundo dos
homens, precisa de encaixar de alguma maneira em um cenário onde ela seria um
mero acessório sem voz, sem opinião e sem capacidade. E por mais que ela se
mescle, ela não se encaixa. Ela diz a que veio, e toma suas decisões.
E assim
que Steve Trevor vê suas ações, passa a confiar nela! E sua equipe a apoia. Ela
fez por onde conquistar a confiança deles. Diferente de Superman, que chega com
uma proposta forçada pelo roteiro com “atraí assassinos siderais para seu
planeta e destruí Metropolis, mas vocês me amam assim mesmo porque sou seu
salvador”, a Mulher Maravilha precisa
provar porque deveriam confiar nela e faz por onde merecer a gratidão que
recebe em troca.
E ela faz tudo isso sem deixar de ser ela, mesmo magoada,
mesmo com medo, mesmo confusa ou decepcionada. Nesse momento, todo mundo
precisa de uma heroína assim. Precisamos de seus braceletes para nos defender
das balas que minam nossa autoestima, de suas botas para trilhar o difícil
caminho profissional, de seu diadema para nos lembrar que temos uma cabeça
pensante, de seu laço para nos atermos a verdade e vencermos as ilusões.
Como
ela, precisamos compreender que não há luz sem escuridão. E não estou falando
apenas de mulheres, embora sei que ela fale mais para nós. Estou falando de
todos que acreditam que podem tornar o mundo melhor, porque com todos os seus
defeitos, ainda há muita coisa boa pela qual vale a pena viver e lutar. Não é
sobre verdade, justiça, honra ou glória. A motivação para essa luta é a energia
mais elevada do universo e, por isso mesmo, a mais difícil de se exercer e que
já foi tão banalizada que muitos não querem mais ouvir. Pois é. O que motiva o
coração de uma heroína dessa estirpe é o mesmo que pode salvar o mundo inteiro:
o amor.
2 comentários:
Quando vi que Gal havia sido escolhida eu não gostei, mas dei o braço a torcer, ela fez um show como a amazona.
A mulher-Maravilha pra mim sempre foi a melhor dos lutadores da DC.
O mundo lá fora não merece você, Diana.
Talvez não mereça, mas precisa de mim.
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