domingo, 17 de fevereiro de 2019

Os Filmes do Oscar: GUERRA FRIA – 3 indicações


Por Ricky Nobre


Pawel Pawlikowski fez história para a Polônia quando deu ao seu país o primeiro Oscar de filme de língua não-inglesa em 2014. Ida era um belo filme, incrivelmente simples na estrutura e filmado com maestria. Impressionante para quem não se define como cineasta pois, como ele diz, “é apenas uma coisa que eu faço”. De fato, sua produção é frequentemente bissexta, sendo ele também poeta, fotógrafo, músico, dentre outras coisas, e diz gostar de cinema porque pode juntar tudo isso numa coisa só. Cinco anos após Ida, Pawlikowski volta com Guerra Fria, que lhe rendeu prêmio em Cannes e incontáveis outros ao redor do mundo, além de 3 indicações ao Oscar. Em comum com Ida, temos novamente a fotografia em preto e branco, com formato 1:1,37, o que rapidamente nos remete à época retratada no filme, que se inicia em 1949.



Nesse contexto de pós guerra e dominação soviética na Polônia, Wiktor, Kaczmarek e Irena viajam pelo interior do país à procura de camponeses que possam representar a música, o canto e a dança tradicionais e formar, a partir daí, uma companhia artística, levando a cultura popular para todo o país. Nas audições, Wiktor conhece Zula, e fica imediatamente fascinado por ela, garantindo à moça um lugar na companhia, mesmo que ela tenha mentido sobre ser camponesa, e já a partir daí, os dois iniciam um romance. Rapidamente, o excelente espetáculo chama atenção do governo que promete promover o show em apresentações em diversos países, caso eles insiram números musicais elogiosos ao governo e a Stalin. O grupo aceita relutante, mas não sem consequências. O governo pede que Zula espione Wiktor e os ânimos se acirram. Ao se apresentarem em Berlin, Wiktor convida Zula para fugirem para o ocidente, mas ela desiste e ele vai sozinho. A partir daí, os dois mantêm um romance conturbado apenas quando ela está na mesma cidade que ele se apresentando. 

 

Existe algo de deslumbrante em Guerra Fria, que é a forma como ele é concebido e estruturado para traçar um paralelo entre arte, política e como um é alimento para o amor e o outro, veneno. A música, apesar de não ser de fato a protagonista do filme, é uma perfeita coadjuvante em impecável equilíbrio, que injeta beleza e vida do início ao fim. Da música folclórica crua à sua versão polida e teatralizada, passando pelo jazz, as partituras de cinema e o início do rock n’ roll, música e dança costuram os mais belos, tristes e loucos momentos de Wiktor e Zula. 

 

O roteiro, porém, falha tragicamente em sua segunda metade e não parece saber lidar com seu casal protagonista da mesma forma que eles claramente não sabem lidar consigo mesmos. Eles se consideram o amor da vida um do outro, mas nunca, efetivamente, escolhem o outro ou mesmo pensam em uma saída racional para que aquele romance seja possível e perdure. Como crianças mimadas, se acham no direito de ciúmes pelos envolvimentos com outras pessoas nos meses ou até anos em que não se viram. Quando uma escolha finalmente é feita, acontece com muito pouca inteligência envolvida, o que leva a mais decisões ruins. Apesar da boa performance de Joanna Kulig como Zula, o casal de atores não tem de fato química e sua paixão nunca realmente convence, o que só torna o final ainda mais difícil de aceitar. A culpa, porém, parece ser sempre mais do roteiro do que dos atores, ainda que Tomasz Kot, com o Wiktor, seja bem fraquinho. 

 

Guerra Fria é verdadeiramente um filme maravilhoso de se ver e ouvir, com uma fotografia realmente deslumbrante e uma forte presença musical que consegue amarrar o filme inteiro, deixando-o minimamente coeso, ainda que o roteiro se despedace. Tem nas mãos todos os elementos de uma obra prima, mas o subdesenvolvimento dos personagens paralisa o filme. O gosto que ele deixa na boca não é bom, não pelo desfecho em si, mas por falhar em convencer de que foi inevitável. A intenção pode ter sido ser uma bela alegoria de como o autoritarismo esmaga o amor, a arte e a vida, mas o filme falha na execução, pois os protagonistas são construídos como sendo tão infantis que não seriam capazes de um relacionamento saudável mesmo que tudo em volta deles fosse perfeito. É de fato impressionante que ele tenha recebido um aplauso de pé por 18 minutos quando foi exibido em Cannes. Aparentemente, a romantização da imaturidade emocional anda em alta. 

 

COTAÇÃO:

GUERRA FRIA (Zimna Wojna, 2018)

Com: Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc, Agata Kulesza, Cédric Kahn e Jeanne Balibar.

Direção: Pawel Pawlikowski  

Roteiro: Pawel Pawlikowski, Janusz Glowacki e Piotr Borkowski

Fotografia: Lukasz Zal

Montagem: Jaroslaw Kaminski



INDICAÇÕES AO OSCAR:

Melhor filme de língua não-inglesa

Direção: Pawel Pawlikowski  

Fotografia: Lukasz Zal



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