Por Ricky Nobre
A guerra às drogas sempre foi tema no cinema. Os filmes de
gangster no início da década de 30 faziam enorme sucesso enquanto a Lei Seca
vigorava, e mesmo depois de décadas, filmes continuaram sendo feitos sobre o
período. Narcotraficantes foram grandes vilões de filmes de ação,
principalmente a partir da década de 80. Nos últimos anos, as mais diversas
produções foram realizadas apenas sobre um traficante em particular, Pablo
Escobar, entre filmes, séries e novelas. Porém, desde o início desta década, a
discussão sobre a guerra às drogas mudou de rumo. Líderes mundiais, sociólogos,
especialistas em segurança e saúde pública e até a ONU apontam o que não se
pode mais negar: a guerra às drogas, travada moderadamente por todo o século XX,
mas intensificada de verdade a partir da iniciativa de Nixon em 1971, falhou e
está perdida.
Sicario talvez
seja o primeiro grande filme americano a problematizar o assunto de alguma
forma. Kate (Emily Blunt) é uma agente do FBI especializada em situações com
reféns que acaba descobrindo uma casa com dezenas de corpos emparedados, numa
operação que também acabou matando alguns policiais. Ela então é convidada a
participar de uma força especial de combate ao narcotráfico que estaria na
pista dos verdadeiros culpados pelo o que houve na casa. Inicialmente informada
de que operariam na cidade americana de El Paso, próximo à fronteira mexicana,
ela e a equipe rumam para o México e tudo que se passa dali em diante está fora
de seu controle. Praticamente todas as ações executadas pela tropa podem ser
consideradas ilegais e Kate continua sem saber qual a sua função ali, além de
entrar em acaloradas discussões com os coordenadores da missão, tendo em vista
a flagrante ilegalidade de tudo.
Dependendo da sensibilidade e das visões do espectador sobre
narcotráfico, guerra urbana, segurança pública e estado de direito, a percepção
sobre Sicario pode mudar bastante. É
inegável a habilidade do diretor Denis Villeneuve em criar uma atmosfera
incrivelmente tensa, onde, ao lado de Kate, não sabemos de nada do que está
acontecendo, enquanto todos os demais envolvidos parecem ter total domínio da
situação. Todas as iniciativas de Kate em agir dentro da legalidade são podadas
ou desencorajadas, sob o ponto de vista de que são totalmente inócuas, o que
ela mesma chega a admitir a certa altura. Toda a sensação não é a de uma
operação policial, mas militar, agindo com legalidade discutível em território
estrangeiro.
O tom do filme não é, em momento algum, panfletário, muito
pelo contrário. Cabe ao espectador indignar-se e horrorizar-se ao lado de Kate
ou simpatizar com os que prosseguem firmes no propósito de enfraquecer o
absurdo poderio do tráfico a qualquer custo, não importando os métodos. Por
fim, o que fica acima de discussão é a imagem de um governo norte americano que
prossegue vigoroso numa guerra que diversos países já começam a reconhecer como
ultrapassada, brutal e impossível de vencer.
INDICAÇÕES AO OSCAR
Fotografia: Roger
Deakins
Música original:
Jóhann Jóhannsson
Edição de som
Um comentário:
Eu também gosto dos filmes de Denis Villeneuve. Você já viu o seu trabalho neste ano? Eu fiquei muito animada quando eu vi o trailer do seu filme no ano passado. A verdade sempre acompanhei o trabalho desse diretor, e quando soube que lançaria o filme Blade Runner e li a Blade Runner sinopse amei. Esse homem é o melhor. Seu trabalho é excepcional, seu estilo e personalidade estão bem marcados neste filme, acho que ninguém teria feito um melhor trabalho que ele. Esse é um filme que se converteu em um dos meus preferidos. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver. Recomendo!
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