Por Ricky Nobre
A juventude traz emoções intensas. Tudo é novo, lindo e
avassalador. Histórias de grandes amizades e amores e as finas linhas que não
só os separam, mas os entrelaçam, geraram alguns filmes simples porém
memoráveis, como Três Formas de Amar (1994) e E Sua Mãe Também (2001). O novo
filme do italiano Gabriele Muccino segue essa tradição ao contar a história de
Marco (Brando Pacitto) um jovem depressivo que está concluindo o ensino médio
mas não sabe o que fazer consigo mesmo. Porém, acaba caindo no colo dele a
oportunidade de passar uma semana em São Francisco, nos EUA. O amigo que arrumou
a viagem, porém, inclui uma moça do colégio deles, Maria (Matilda Lutz,
excelente), para viajar junto, mesmo que ela e Marco não possuam a menor
afinidade. Em São Francisco, são hospedados por um casal gay, o que acaba revelando
a homofobia de Maria e acirrando o conflito com Marco. A relação entre os
quatro vai se estreitando, intensificando, sem que todos saibam lidar com a
novidade e intensidade dos sentimentos e descobertas.
Gabriele Muccino tem várias obras açucaradas em sua
filmografia, mas foi com sua carreira em Hollywood que ele obteve mais
destaque, principalmente pelo extremamente bem sucedido À Procura da
Felicidade. Tendo estreado no Festival de Veneza em agosto do ano passado, L'Estate
Addosso (literalmente, O Verão Chegou) teve uma carreira internacional
extremamente modesta. Seu marketing não ajuda. O trailer sugere um filme
inassistível, com interpretações canhestras e diálogos piegas no limite do
imaginável. De fato, a canastrice piegas está realmente no filme, porém bastante sutil, nem de
longe tão intensa e constante quanto o trailer sugere, apesar de, por vezes,
causar um certo incômodo.
Na maior parte do tempo, o filme flui bem, principalmente
após a chegada da dupla aos EUA, quando os personagens vão se revelando e se
desenvolvendo melhor ao terem que enfrentar situações totalmente novas. À medida
em que cresce o afeto entre os personagens, cresce também o afeto do público em
relação ao eles. O filme, porém, possui um problema central sério, muito mais
grave do que um diálogo mais piegas ou um momento mais açucarado: Marco, o
personagem central.
Marco é um personagem depressivo que, por não ser
exatamente bem escrito, acaba dando a impressão de ser apenas chato. O principal
problema é que, ao final da jornada, Marco não parece particularmente afetado pela experiência, a não ser pelas consequências diretas das emoções que
vivenciou. Maria, por outro lado, tem uma fantástica jornada e é
verdadeiramente transformada por toda a experiência. Por ser uma personagem
muito mais bem escrita e ter uma atriz muito melhor no comando, Maria é quem
deveria assumir o lugar de personagem central e narradora da história. Marco,
além de não demonstrar um desenvolvimento mais profundo, ainda protagoniza uma
cena lamentável próximo à conclusão do filme, sem que haja qualquer insinuação
de reflexão sobre isso na narrativa. Sem sombra de dúvida, a forma
constrangedoramente casual como o filme termina não seria a mesma caso houvesse
uma mulher na direção, ou ao menos um homem mais sensível à situação.
Chega a ser um tanto bizarro que num filme onde os
personagens passam boa parte do tempo desconstruindo preconceitos e aprendendo a
enxergar o outro, o protagonista chega ao fim fazendo o oposto disso. Ainda que
a atitude seja compreensível pela emoção do momento, a inabilidade do roteiro e da
direção em discutir e articular a incapacidade de Marco em aprender o que todos
os outros personagens aprenderam deixa no espectador uma sensação de
desperdício. E justamente numa história que deveria assumir um lugar terno no
coração, ainda que agridoce.
L’ESTATE ADDOSSO, 2016
Com: Matilda Lutz, Brando Pacitto, Taylor Frey, Joseph Haro,
Scott Bakula, Jessica Rothe e Laura Cayouette.
Direção: Gabriele Muccino
Roteiro: Gabriele Muccino e Dale Nall
Fotografia: Paolo Caimi
Montagem: Valentina Brunetti
Música: Jovanotti
COTAÇÃO:
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