segunda-feira, 6 de março de 2023

Os filmes do Oscar: CLOSE – 1 indicação

Por Ricky Nobre

Afeto entre homens é um assunto tabu em grande parte do mundo. O filme de Lukas Dhont explora a amizade de dois meninos de 13 anos, Léo e Rémi, que moram na zona rural belga e vivem grudados, sempre um na casa do outro. Mas o constante afeto físico entre os dois acaba gerando na escola um boato de que eles são um casal. Léo reage muito mal a isso e ele acaba lentamente se afastando de Rémi, que sente profundamente. O principal acerto do diretor e co-roteirista é jamais definir se existe ou não um componente homoafetivo na relação dos dois, deixando isso para a interpretação e sensibilidade de cada espectador, pois não é essa a questão principal. A pergunta que o filme nos provoca é por que esse contato afetuoso que é tão comum e corriqueiro entre meninas amigas é tão inaceitável entre meninos.

 

O olhar do jovem ator Eden Dambrine é uma pequena joia que ajuda a tornar este filme o que ele é. Seu personagem Léo tem um olhar profundamente afetuoso, como se o amigo fosse a maior preciosidade de sua vida. Dhont filma com imensa simplicidade e delicadeza, com uma fotografia luminosa e de cores vivas, e somos contagiados por esse sentimento. Por isso, é particularmente chocante que Léo, que além desse olhar tão doce, é o mais fisicamente afetuoso, abraçando e repousando a cabeça no ombro de Rémi, é justamente o que se afasta, profundamente incomodado com as insinuações e com o posterior bullying que passa a sofrer. Léo prontamente se aproxima de Baptiste, com quem começa a praticar hóquei, em busca de uma afirmação mais “máscula”. Rémi, que era sempre mais reservado e principal recebedor de afeto, se vê sem chão, abandonado e órfão de uma amizade que não acabou, mas não está de fato mais lá. Ele não liga para comentários, bullying, nada. Ele só quer o amigo de volta. A esta altura, num ambiente bem menos colorido do que no início, Rémi grita por afeto, seja literalmente, seja simbolicamente com sua camisa intensamente vermelha, como se seu sentimento explodisse aos olhos.

 

Close pode parecer um filme cruel às vezes, pois ele vai bem fundo nos danos que essa cultura homofóbica pode causar em quem não tem ainda ferramentas emocionais para lidar com ela. Léo parece às vezes anestesiado, mergulhado em uma negação e uma culpa que ele não irá conseguir suportar por muito tempo. Ele não pode encontrar conforto na família, nem na própria nem na de Rémi, com a qual é muito ligado, pois não consegue dizer o que sente e sequer admite a si mesmo. Nesse sentido, é muito curioso como Léo consegue uma brecha e encontra um pouco desse conforto com o irmão mais velho, com quem estabelece um contato com quem ele não precisa se explicar muito. 

 

Dhont deixa seu público encantado, mas ao mesmo tempo apunhala seu coração, pois tudo parece tão trágico e desnecessário. Close é um filme de emoções intensas e explosivas, mas que se mantém delicado sempre, da primeira à última cena. Um filme de silêncios e diálogos simples, realistas para meninos de 13 anos que ainda não reconhecem ou identificam perfeitamente as emoções que sentem, e da mesma forma que esses sentimentos não são perfeitamente definidos para os personagens, também não são para o público. Porque não precisa, não deveria precisar.

 

COTAÇÃO: 


 

INDICAÇÃO AO OSCAR:

Melhor filme de língua não inglesa

 

CLOSE (Bélgica/França/Países Baixos – 2022)

Com: Eden Dambrine, Gustav De Waele, Émilie Dequenne, Léa Drucker, Igor van Dessel e Léon Bataille.

Direção: Lukas Dhont

Roteiro: Lukas Dhont e Angelo Tijssens

Fotografia: Frank van den Eeden              

Montagem: Alain Dessauvage    

Música: Valentin Hadjadj

Design de produção: Eve Martin

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