segunda-feira, 6 de março de 2023

Os filmes do Oscar: OS BANSHEES DE INISHERIN – 9 indicações

 Por Ricky Nobre

Na mitologia celta, uma banshee é um espírito feminino capaz de prever a morte de alguém, anunciando essa morte com um grito agudo, semelhante a um lamento. Na ilha fictícia de Inisherin, próxima à costa irlandesa, é possível ouvir os tiros e explosões da guerra que, ano após ano, separa irlandeses de irlandeses. Mas a guerra não chega até a pacata ilha, pelo menos não literalmente. Em 1923, Pádraic não aceita que o amigo Colm simplesmente, da noite pro dia, decidiu que não quer mais vê-lo. Para Colm, Pádraicé um chato e ele quer aproveitar a vida do seu jeito, dedicando-se mais a música, enquanto ainda tem tempo. Mas Pádraicé não admite, e vai insistir até o limite numa amizade que não existe mais.

 

Pádraic é simpático, amigável, conversador. Colm é fechado, antipático, reservado. O diretor e roteirista Martin McDonagh constrói essa bizarra relação a partir de um timing cômico excelente que acentua a estranheza da situação ao mesmo tempo em que adiciona leveza. Uma leveza, aliás, que é construída justamente para ser derrubada mais adiante, a seu tempo. O humor, que vem não apenas da incompreensão de Pádraic da situação, mas também do contraste entre a suas personalidades, vai tomando tons sombrios a partir desses mesmos elementos, até descambar totalmente para a tragédia. 

 

A metáfora mais óbvia da relação dos dois amigos é a guerra irlandesa e, nesse sentido, torna-se ainda mais forte a simbologia de que os dois únicos momentos em que Colm quebra sua inflexível determinação em se afastar de Pádraic é para defendê-lo de um policial cruel. Porém diversas outras leituras são possíveis, como os efeitos da depressão e como ela distorce nossas perspectivas e nossos julgamentos, que levam Colm a extremos que irão destruir justamente o que ele mais queria preservar. Mas também, em uma análise mais literal da história, sobre a fragilidade e finitude das relações e nossa incapacidade em aceitar e superar o que a vida põe em nosso caminho. Amigos que estão perfeitamente sincronizados aos 20 anos, podem estar em “planetas” completamente diferentes aos 40, e isso é tão triste quanto real.

 

O elenco é impecável e é muito curiosa a personagem da irmã Siobhán, que é constantemente a voz da razão, ou da simples sanidade, em meio a tudo aquilo, e é sintomático que quando ela parte da ilha, tudo degringola de vez, ou seja, quando a razão abandona aquele lugar, a guerra de fato começa. Aliás, é incrível o domínio que McDonagh tem da narrativa a ponto de nos convencer (e comover) com ações completamente absurdas dos personagens. Próximo ao fim, a temática da guerra é reforçada, quando um personagem acredita que ela está próxima do fim, enquanto o outro se mostra bem mais pessimista, pois tudo parece ter chegado a um ponto onde não há mais volta. Os Banshees de Inisherin é um retrato cômico e sombrio tanto do povo e da história irlandesa como das relações humanas.

 

COTAÇÃO:

 

INDICAÇÕES AO OSCAR:

Melhor filme

Diretor: Martin McDonagh

Ator: Colin Farrell

Ator coadjuvante: Barry Keoghan

Ator coadjuvante: Brendan Gleeson

Atriz coadjuvante: Kerry Condon

Roteiro original: Martin McDonagh

Música original: Carter Burwell

Montagem: Mikkel E.G. Nielsen

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