quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Os filmes do Oscar: JACKIE (3 indicações)


Por Ricky Nobre



Poucos eventos marcaram a memória do mundo no século XX como o assassinato de Kennedy. Seus efeitos no imaginário dos EUA são incalculáveis. Da mesma forma, Jacqueline Kennedy mudou a imagem da primeira dama, tornando-se até mesmo ícone de moda. Jackie é a primeira cinebiografia a se concentrar nessa figura que confunde-se com a própria imagem da década de 60. 

 

Natalie Portman dá vida à Jackie, nesse projeto que já foi de Darren Aronofsky, mas que foi assumido pelo chileno Pablo Larrain, que não é estranho ao cinema de conteúdo político. Aqui, por outro lado, a política é um mero pano de fundo, pois o foco é na pessoa de Jackie, numa obra que se concentra em seus momentos mais íntimos, como na bela sequência em que ela está sozinha na Casa Branca, ouvindo Camelot, bebendo e separando, aos prantos, os pertences a serem levados em sua obrigatória mudança, pois precisa dar lugar ao novo presidente Johnson. Outras diversas cenas que expõem sua fragilidade, como ela limpando o sangue do marido do rosto depois de horas de um dia interminável, suas conversas com um padre (John Hurt, em seu último trabalho) ou quando precisa dizer para os filhos muito pequenos que o pai morreu, contrastam com a imagem severa, fechada e austera que forja para si na presença do jornalista da revista Life que a entrevista durante o filme. 

 

O olhar estrangeiro de Larrain (é curioso como diversos filmes sobre ícones americanos foram dirigidos por cineastas de outros países) garante ao filme um toque, mesmo que sutil, além da cinebiografia ordinária que sai da linha de montagem hollywoodiana. A forma como a câmera segue Portman é profundamente intimista, com closes longos e contínuos, em momentos em que tudo que a cerca se esvai e o protagonismo pleno é o da emoção. Tal a confiança na emoção como narradora e em Portman como seu veículo, que cerca de um terço das cenas do filme foram feitas a partir do primeiro take filmado, quando o instinto do ator está mais aguçado, sem o refinamento das repetições. A música de Mica Levi, por vezes fluida, por outras incômoda, jamais escondida pela mixagem, é outro elemento que concentra-se de forma dedicada ao frágil e conturbado estado psicológico e emocional da personagem.

 

Assim, o filme procura retratar o papel de Jackie na imagem sui generis que os Kennedy tinham frente ao povo americano, não apenas ao ajudar a forjar a aura de “casal moderno e festeiro da Casa Branca”, mas também ao conceber um funeral-espetáculo que se tornou motivo de muito embates, críticas e fofocas. Um filme, no fundo, simples, que pode decepcionar quem esperava algo muito mais espetacular para retratar um Kennedy. Mas até os Kennedys, “big as life” como eram, também eram apenas pessoas. 

 

INDICAÇÕES AO OSCAR
Atriz: Natalie Portman
Música original: Mica Levi
Figurinos: Madeline Fontaine

Um comentário:

Nanael Soubaim disse...

As pessoas me inspiram mais do que os mitos.