Por Ricky Nobre
No lendário álbum do Pink Floyd “The Dark Side of the Moon”,
David Gilmor canta que “agarrar-se ao desespero silencioso é o jeito inglês”.
Apesar de ser uma produção irlandesa com um diretor e roteirista grego, O
Lagosta deve ser uma das coisas mais britânicas que você conseguirá ver.
Numa sociedade distópica, quando uma pessoa termina um
relacionamento ela é levada ao “hotel”, onde tem 45 dias para arrumar um
companheiro ou será transformada num animal de sua escolha e entregue à
natureza. Fugitivos do hotel são caçados pelos próprios hóspedes, e a cada
solitário capturado ganha-se um dia a mais no hotel. Existe uma obsessão pelo
encontro com o par perfeito a partir de uma única característica em comum, como
se dela, e dela apenas, dependesse a razão de ser do relacionamento, na total
antítese da crença de que “os opostos se atraem”. Paradoxalmente, num mundo
onde é ilegal estar sozinho, não se acredita em relacionamentos que lidem com
diferenças. Os que conseguem fugir agregam-se a outros solitários que vivem
escondidos nos bosques. Entre eles, existe também a intolerância, e qualquer flerte
entre eles é severamente punido.
Essa premissa absurda é apresentada pelo diretor e
roteirista Yorgos Lanthimos (do barra pesadíssima Dente Canino) sem qualquer
artifício que facilite a introdução do espectador nesse universo. As
interpretações são, em sua totalidade, carregadas de um artificialismo e
formalidade constrangedores, principalmente nos diálogos entre os “hóspedes” do
hotel, em desajeitadas tentativas de socialização, justamente numa sociedade
que não tolera solitários. Existe muito do humor inglês nessa sátira onde os
personagens se apresentam muitas vezes impassíveis diante de situações
completamente absurdas, obedientemente aceitando o status quo. O riso, no
entanto, vem difícil, de tão profundamente mordaz que é a sátira. Mais do que o
dúbio final em aberto (que para alguns pode parecer bem claro), é todo o
angustiante paralelo com nossa visão de relacionamentos que faz o filme
permanecer entalado em nossa garganta até bem depois de ser término.
INDICAÇÃO AO OSCAR
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