Por Ricky Nobre
Pode soar absurdo, mas o casamento inter-racial permaneceu
ilegal em vários estados dos EUA até fins da década de 60. Começando em 1958, Loving
conta justamente a história de um homem branco, Richard Loving (Joel Edgerton) e
de uma mulher negra, Mildred Loving (Ruth Negga) que saem de seu estado natal,
Virginia, para se casarem em outro estado onde sua união seria legal. Mas isso
não bastou, e pouco depois de voltarem para casa são presos. Começa aí a longa
saga do casal, que incluiu diversas mudanças de endereço, julgamentos, acordos,
apelações, até que o caso chegasse à Suprema Corte americana.
O filme de Jeff Nichols, que também foi responsável pelo
roteiro, opta por um tom bem comedido. A partir de um documentário lançado em
2011, que incluía muitas cenas feitas com o casal 50 anos antes, Nichols
decidiu usar muitos diálogos tirados diretamente das entrevistas com Richard e
Mildred. Esse material histórico também inspirou fortemente os atores Edgerton
e Negga, resultando em diálogos, interpretações e cenas sem arroubos emocionais
nem retóricos.
São nos detalhes que o filme se detém, no carinho mútuo do
casal, no desejo de regularizarem sua situação no tribunal, mas ao mesmo tempo
não tendo noção da dimensão da batalha que deverão enfrentar. Chega a ser
adorável a ingenuidade de Richard ao conversar com o advogado de direitos
civis, acreditando que tudo pode ser resolvido com uma conversa com o juiz da
cidadezinha onde viviam, realmente acreditando que o argumento “nós nos amamos tanto”
é suficiente, quando, na realidade, a luta para chegar à Suprema Corte é o
único caminho viável. Richard também não é afeito à exposição à mídia que
sofrem, temendo represálias e a segurança dos filhos, enquanto Mildred confia
que é justamente essa exposição que pode ajudá-los.
Essa opção de construir a simplicidade do filme a partir da
simplicidade do casal pode levar alguns a se decepcionarem com o resultado. De
fato, Loving não prima pela originalidade na linguagem, nem da dinâmica na
narrativa. Porém, Nichols conseguiu forjar um filme sobre direitos civis sem
passeatas, sem cartazes, sem discursos. Apenas com a persistência de um casal
que se ama tanto.
INDICAÇÃO AO OSCAR
Atriz: Ruth Negga
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