Por Ricky Nobre
Este documentário animado dinamarquês é uma das grandes surpresas recentes e chega ao Oscar com nada menos que três chances de ser aclamado como melhor filme, tendo sido indicado a melhor documentário em longa-metragem, melhor filme internacional e melhor longa de animação, um feito inédito na história do prêmio. Ele conta a história de Amin, que é um refugiado afegão que vive na Dinamarca. Durante as entrevistas, ele revela detalhes de seu passado que manteve em segredo durante toda sua vida. A ideia de um documentário em animação soa estranha de início, mas o recurso é justamente para preservar seu anonimato, cuja a necessidade só fica clara durante o último terço do filme. A animação mostra não apenas Amin durante as entrevistas ou em momentos com seu noivo, mas também dramatiza todos os fatos narrados por ele.
Sua história é muito envolvente, sendo capaz de gerar muita angústia, revolta e solidariedade do público. Amin e sua família então sempre em constante fuga, seja da ocupação soviética no Afeganistão, das próprias autoridades afegãs quando a URSS cai e se retira do país e da polícia da Rússia, onde eles se exilam clandestinamente. Além do drama da família, acompanhamos também as angústias e dúvidas de Amin por ser um homossexual no Afeganistão, numa cultura que nega a homossexualidade a tal nível que sequer possui uma palavra para ela.
Ser um documentário que acompanha seu entrevistado através de animação tem uma vantagem bastante significativa por facilitar a dramatização dos eventos contados, numa produção de orçamento bem modesto que não chegou a 4 milhões de dólares. Em sua totalidade, o recurso funciona porque todo o filme é muito bem dirigido e sua entrevista muito bem editada. O ponto fraco é justamente o estilo da animação, bastante ditada também pelo orçamento reduzido.
A animação é toda feita à mão (não foi utilizado rotoscope,
que é uma “cópia” animada de trechos filmados) e é basicamente uma animação de
key frames, que é a animação básica dos movimentos. Em animação clássica 2D, o
animador desenha a animação em pontos chave dos movimentos, com os espaços
sendo, geralmente, preenchidos por assistentes que completam os espaços entre
as posições dos personagens, gerando uma animação fluida. Aqui, os movimentos
são bem picotados, e não existe nenhum refinamento maior na animação. O estilo
gráfico bem básico também pesa no resultado final, tornando todo o trabalho, no
fundo, um tanto pobre. Em alguns trechos chave, quando são retratados os
momentos mais assustadores da jornada de Amin, é feita uma animação em preto e
branco, com traços rascunhados bem rústicos, mas que são especialmente belos e
expressivos e é o único momento em que a animação brilha.
Com tudo isso, o poder da história de Amin e a forma como ela é narrada pelo filme tornam seu depoimento e sua mensagem poderosíssimos e emocionantes. É um perfeito retrato do drama de refugiados que acontece em todo o mundo. Seu lançamento coincidiu com a saída das tropas dos EUA no Afeganistão, que geraram corridas aos aeroportos e outras rotas de fuga semelhantes às retratadas no filme, e sua participação no Oscar ocorre enquanto milhares fogem da Ucrânia devido aos ataques Russos. É uma história que se repete, e se repete e é mais relevante que nunca.
COTAÇÃO:
INDICAÇÕES AO OSCAR:
Melhor filme internacional
Melhor documentário em longa metragem
Melhor longa de animação
FLEE - NENHUM LUGAR PARA CHAMAR DE LAR (Flugt, Dinamarca – 2021)
Direção: Jonas Poher Rasmussen
Roteiro: Jonas Poher Rasmussen e Amin Nawabi
Montagem: Janus Billeskov Jansen
Música: Uno Helmersson
Direção de arte: Jess Nicholls
Direção de animação: Kenneth Ladekjær
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