domingo, 26 de janeiro de 2020

Os filmes do Oscar: FORD VS FERRARI (4 indicações)


Por Ricky Nobre


Filmes de esportes costumam ter uma fórmula bem simples e com muito poucas variáveis. O competidor e/ou time talentoso que enfrenta várias dificuldades até a vitória. O novo filme de James Mangold (Logan) não foge à regra ao narrar a história real de quando a Ford decidiu entrar para o automobilismo com a intenção específica de desbancar a Ferrari após ter sido preterida numa negociação de aquisição. O foco é o projetista Carroll Shelby (Matt Damon) e o piloto Ken Miles (Christian Bale), ambos lendas da história do automobilismo mundial, enfrentando as imensas dificuldades em criar um carro competitivo num prazo verdadeiramente irreal. 

 

Sendo um filme que não tem intenção alguma de desviar dos clichês da pista, Ford vs Ferrari mantém seu foco nos dois protagonistas como heróis contra os quais operam todas as demais forças: não só a Ferrari, seus donos, engenheiros e pilotos são retratados como vilões, e de forma bastante caricata durante a corrida de Le Mans de 1966, mas a própria empresa Ford e seus executivos são um obstáculo, pois estão muito mais interessados no impacto publicitário pragmático da empreitada do que no resultado concreto no qual a dupla se empenha: construir o melhor carro e vencer. 

 

Se a construção vilanesca caricata dos homens da Ford parece vazia e a dos homens da Ferrari até um tanto xenófoba, a da dupla Shelby e Miles, mesmo não sendo tão profunda, se apresenta para o público não apenas de forma muito simpática mas também com um pouco mais de substância. O Miles de Bale consegue aquela simpatia de anti-herói, do cara cabeça quente mas de bom coração e imenso talento e inteligência, e mesmo que tenha sido bem escrito mas não de forma tão brilhante, a interpretação de Bale faz o personagem subir alguns níveis além do que está no roteiro. A dinâmica entre os Bale e Damon é muito boa e dá aquele tom agradável de uma grande e velha amizade, apesar de, por vezes, ser entre socos e abraços. E se o filme oferece algum momento em que o chefão da Ford sai do raso da caricatura é quando ele é posto dentro do carro e tem a experiência da pista e, finalmente, entende o que está em jogo e o que é necessário ser feito, o que acontece através de um grande impacto emocional.

 

O que Mangold faz de verdadeiramente perfeito é o dificílimo trabalho de direção que exige um filme de corridas que pretende de fato transmitir ao espectador as sensações de perigo, velocidade, risco, competitividade, euforia, exaustão e triunfo de uma corrida do porte das 24 horas de Le Mans. As filmagens em locações, as capotagens e acidentes reais, o cuidado e o trabalho de captar o máximo possível de material ao vivo e deixar toda a pós produção de efeitos digitais o mais invisível possível, tudo isso dá ao filme um imenso realismo e sensação de empolgação, junto ao extraordinário trabalho de som. 

 

Ao fim, temos um filme de 2:30h que passa voando a 350km/h, graças a uma excelente montagem e uma direção segura. Não deixa de ser bem esperto fazer não só a Ferrari mas também a própria Ford como vilões do filme contra os quais lutam os verdadeiros mocinhos, que são os pilotos e engenheiros que dão tudo de si para fazer o melhor carro. Só assim é possível fazer o público embarcar numa aventura absurda e insana que é torcer contra a Ferrari em favor de um punhado de americanos.  

COTAÇÃO:


INDICAÇÕES AO OSCAR:
Melhor filme
Montagem: Andrew Buckland, Michael McCusker e Dirk Westervelt
Edição de som: Donald Sylvester
Mixagem de som: Paul Massey, David Giammarco e Steven A. Morrow

FORD VS FERRARI (Ford v Ferrari, 2019)
Com: Matt Damon, Christian Bale, Jon Bernthal, Caitriona Balfe, Josh Lucas e Tracy Letts.
Direção: James Mangold
Roteiro: Jez Butterworth, John-Henry Butterworth e Jason Keller
Fotografia: Phedon Papamichael             
Montagem: Andrew Buckland, Michael McCusker e Dirk Westervelt
Música: Marco Beltrami e Buck Sanders

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