Por Ricky Nobre
Filmes de esportes costumam ter uma fórmula bem simples e
com muito poucas variáveis. O competidor e/ou time talentoso que enfrenta
várias dificuldades até a vitória. O novo filme de James Mangold (Logan) não
foge à regra ao narrar a história real de quando a Ford decidiu entrar para o
automobilismo com a intenção específica de desbancar a Ferrari após ter sido
preterida numa negociação de aquisição. O foco é o projetista Carroll Shelby (Matt
Damon) e o piloto Ken Miles (Christian Bale), ambos lendas da história do
automobilismo mundial, enfrentando as imensas dificuldades em criar um carro
competitivo num prazo verdadeiramente irreal.
Sendo um filme que não tem intenção alguma de desviar dos
clichês da pista, Ford vs Ferrari mantém seu foco nos dois protagonistas como
heróis contra os quais operam todas as demais forças: não só a Ferrari, seus
donos, engenheiros e pilotos são retratados como vilões, e de forma bastante
caricata durante a corrida de Le Mans de 1966, mas a própria empresa Ford e
seus executivos são um obstáculo, pois estão muito mais interessados no impacto
publicitário pragmático da empreitada do que no resultado concreto no qual a
dupla se empenha: construir o melhor carro e vencer.
Se a construção vilanesca caricata dos homens da Ford parece
vazia e a dos homens da Ferrari até um tanto xenófoba, a da dupla Shelby e
Miles, mesmo não sendo tão profunda, se apresenta para o público não apenas de
forma muito simpática mas também com um pouco mais de substância. O Miles de
Bale consegue aquela simpatia de anti-herói, do cara cabeça quente mas de bom
coração e imenso talento e inteligência, e mesmo que tenha sido bem escrito mas
não de forma tão brilhante, a interpretação de Bale faz o personagem subir
alguns níveis além do que está no roteiro. A dinâmica entre os Bale e Damon é
muito boa e dá aquele tom agradável de uma grande e velha amizade, apesar de,
por vezes, ser entre socos e abraços. E se o filme oferece algum momento em que
o chefão da Ford sai do raso da caricatura é quando ele é posto dentro do carro
e tem a experiência da pista e, finalmente, entende o que está em jogo e o que
é necessário ser feito, o que acontece através de um grande impacto emocional.
O que Mangold faz de verdadeiramente perfeito é o dificílimo
trabalho de direção que exige um filme de corridas que pretende de fato
transmitir ao espectador as sensações de perigo, velocidade, risco,
competitividade, euforia, exaustão e triunfo de uma corrida do porte das 24
horas de Le Mans. As filmagens em locações, as capotagens e acidentes reais, o
cuidado e o trabalho de captar o máximo possível de material ao vivo e deixar
toda a pós produção de efeitos digitais o mais invisível possível, tudo isso dá
ao filme um imenso realismo e sensação de empolgação, junto ao extraordinário
trabalho de som.
Ao fim, temos um filme de 2:30h que passa voando a 350km/h,
graças a uma excelente montagem e uma direção segura. Não deixa de ser bem
esperto fazer não só a Ferrari mas também a própria Ford como vilões do filme
contra os quais lutam os verdadeiros mocinhos, que são os pilotos e engenheiros
que dão tudo de si para fazer o melhor carro. Só assim é possível fazer o
público embarcar numa aventura absurda e insana que é torcer contra a Ferrari
em favor de um punhado de americanos.
COTAÇÃO:
INDICAÇÕES AO OSCAR:
Melhor filme
Montagem: Andrew
Buckland, Michael McCusker e Dirk Westervelt
Edição de som: Donald Sylvester
Mixagem de som: Paul Massey, David Giammarco e Steven A.
Morrow
FORD VS FERRARI (Ford v Ferrari, 2019)
Com: Matt
Damon, Christian Bale, Jon Bernthal, Caitriona Balfe, Josh Lucas e Tracy Letts.
Direção: James
Mangold
Roteiro:
Jez Butterworth, John-Henry Butterworth e Jason Keller
Fotografia:
Phedon Papamichael
Montagem: Andrew
Buckland, Michael McCusker e Dirk Westervelt
Música: Marco Beltrami e Buck Sanders
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