domingo, 26 de fevereiro de 2017
PRÉ-OSCAR AO VIVO - Vlog Alcateia #96
Estivemos ao vivo, antes da festa do Oscar falando abobrinhas e comentando sobre nossos favoritos, as curiosidades desse ano e dando brinde!
Os filmes do Oscar: LA LA LAND: CANTANDO EM ESTAÇÕES (14 indicações)
Por Ricky Nobre
La La Land é a grande polêmica do Oscar deste ano. Não por
algum tema controverso abordado ou qualquer coisa do gênero. A questão com o
filme que levou 7 Globos de Ouro e tem 14 indicações ao Oscar é o imenso hype
em torno dele, com muitos elevando-o ao status de obra prima ao resgatar os
musicais de Hollywood, enquanto outros o apontam como um embuste meramente
estético e destituído de qualquer profundidade ou mesmo de valor próprio,
sustentando-se meramente sobre suas pilhas de referências. Amar ou odiar La La
Land virou um Fla X Flu cinematográfico, onde cada “lado” se acha mais cool do
que o outro. Soterrado nesses escombros encontra-se um filme simpático e bonito,
cuja magreza do roteiro, porém, não o permite alçar à grandeza que lhe seria
possível.
Em Los Angeles (onde mais?), Mia (Emma Stone) é uma jovem atendente
na cafeteria de um grande estúdio, que saiu de casa muito nova para tentar a
sorte como atriz, tomando toco atrás de toco em sucessivos testes de elenco.
Sebastian (Ryan Goslin) é um pianista que não larga suas radicais visões sobre
jazz nem para manter um emprego num restaurante, enquanto as contas vencidas
vão se empilhando, deixando-o mais longe do sonho de abrir seu próprio clube de
jazz. Entre números de canto e dança, eles se conhecem, se apaixonam e passam a
incentivar os sonhos um do outro. A questão é o que será da relação deles à
medida em que o sucesso vai se aproximando.
Para o diretor e roteirista Damien Chazelle, um desafio tão
grande quanto realizar uma homenagem à altura dos clássicos musicais
hollywoodianos era superar, ou pelo menos se igualar, à obra prima que foi seu
filme anterior, Whiplash, um dos melhores filmes da década, que também tinha o
jazz como foco central. Em La La Land (uma expressão que se refere tanto à
cidade de Los Angeles quanto a um estado da mente daquele que vive num mundo de
sonhos, incapaz de encarar a realidade), Chazelle investiu pesadamente no
visual, concebendo um filme radiante, muito colorido e lindo de se ver. Repetindo
a parceria de Whiplash, o diretor chamou o compositor Justin Hurwitz, que criou
uma série de melodias que farão o público sair cantarolando do cinema. Em meio a números musicais repletos de
referências a filmes clássicos, Mia e Sebastian se apaixonam sem que entendamos
muito bem porquê. Mia é engraçada e adorável, enquanto Sebastian é grosso e
antipático. Nada, a princípio, impediria um romance entre personagens assim,
mas o roteiro falha em construí-los e desenvolvê-los o suficiente. E assim como
falha em construí-los como casal, falha ao criar-lhes obstáculos, apostando, a
princípio, em uma grotesca falha de comunicação que pode não convencer parte do
público.
Profundidade nunca foi exatamente a qualidade que definia os
antigos musicais, mas La La Land parece, sem muita pretensão, mas em alguma
medida, querer construir uma visão mais moderna, começando pela decisão de
ambientá-lo nos dias atuais. Quando Sebastian diz que “Los Angeles é um lugar
onde se venera tudo mas não se valoriza nada” e, mais adiante, ouve de um amigo
“como você quer ser revolucionário sendo tão tradicionalista?”, ou mesmo pela
própria escolha do título do filme, Chazelle parece querer nos dizer que não
existe espaço para o lindo mundo de sonhos que Hollywood vendia há 60, 70 anos,
pelo menos não exatamente daquela forma, e com certeza a decisão do roteiro sobre
o destino do casal veio justamente dessa ideia.
E talvez o ponto chave do enorme sucesso do filme venha
justamente daí. La La Land é um filme divertido e simpático com um final
brilhante. Já aconteceu várias vezes antes de filmes excelentes terem finais
ruins, e a sensação do público é a de que viu um filme horrível. Na mesma
medida, filmes medíocres com finais excelentes deixam a impressão de uma ótima
experiência. Boa parte do público e da crítica está saindo de La La Land com a
impressão de que viu algo extraordinário, ainda que com um gosto agridoce na
boca, quando apenas viram um bom filme. Chazelle falha não apenas no roteiro
mas também no elenco pois, uma vez que Goslin oferece uma atuação apenas
adequada e não sabe cantar (sua indicação é tão absurda quanto a de figurino ou
do próprio roteiro), Stone acaba simplesmente tomando o filme para si,
brilhando na interpretação, canto e dança. Com melhor desenvolvimento dos
personagens e do que seria capaz de uni-los ou separá-los, La La Land poderia
ser realmente um grande filme. Mas é, sem sombra de dúvida, um filme concebido
e realizado com paixão e, em boa medida, o público sente isso, pois com paixão
o ama ou odeia.
INDICAÇÕES AO OSCAR
Filme
Diretor: Damien Chazelle
Ator: Ryan
Goslin
Atriz: Emma
Stone
Roteiro original:
Damien Chazelle
Música
original: Justin Hurwitz
Fotografia: Linus Sandgren
Montagem: Tom Cross
Canção
original: Audition (The Fools Who Dream) Música de Justin Hurwitz, letra de
Benj Pasek and Justin Paul
Canção
original: City of Stars, Música de Justin Hurwitz, letra de Benj Pasek and
Justin Paul
Edição de
som: Ai-Ling Lee e Mildred Iatrou Morgan
Mixagem de
som: Andy Nelson, Ai-Ling Lee, e Steve A. Morrow
Desenho de produção: Sandy Reynolds-Wasco e David Wasco
Figurino: Mary Zophres
sábado, 25 de fevereiro de 2017
FRAMBOESA 2017 safou a cara do Snyder
A macumba do Zac Snyder é boa e BvS não foi o PIOR FILME DO ANO (segundo os zoeiros do FRAMBOESA DE OURO). O vencedor, ou perdedor, sei lá, foi o documentário "A História Secreta do Partido Democrata". Segue a listinha da premiação pré-Oscar:
Pior Filme: Hillary’s America: The Story of the Democratic Party
Pior Ator: Dinesh D’Souza, por Hillary’s America: The Story of the Democratic Party
Pior Atriz: Becky Turner, por Hillary’s America: The Story of the Democratic Party
Pior Atriz Coadjuvante: Kristen Wiig, por Zoolander 2
Pior Ator Coadjuvante: Jesse Eisenberg, por Batman vs Superman (Merecido, fala a verdade?)
Pior Combinação em Tela: Ben Affleck e Henry Cavill em BvS (SOC, TUM, POF)
Pior prequel, remake, cópia e o cacete à quatro: Batman vs Superman (Boooing)
Pior Diretor: Dinesh D’Souza e Bruce Schooley, por Hillary’s America: The Story of the Democratic Party
Pior Roteiro: Batman vs Superman (Tibummm)
Os filmes do Oscar: MANCHESTER À BEIRA MAR (6 indicações)
Por Ricky Nobre
Histórias de grandes tragédias pessoais costumam ter uma
abordagem padrão em Hollywood. Geralmente, servem como base para filmes
“inspiradores”, que mostram personagens passando por experiências traumáticas e
enfrentando enormes dificuldades para, no final, deixarem uma bela mensagem
sobre fé, persistência e superação. Isso absolutamente NÃO descreve Manchester
à Beira Mar.
Lee (Casey Affleck, sensacional) é um faz tudo num
condomínio que leva uma vida monocórdica, fazendo reparos em apartamentos em
troca de um salário mínimo e um quartinho pra dormir. Quando o irmão que sofria
de uma doença cardíaca acaba falecendo, Lee descobre que este havia determinado
em testamento que ele deveria tornar-se o tutor do sobrinho (Lucas Hedges), sem
jamais ter discutido isso com o irmão. Lee passa algumas semanas cuidando do
sobrinho na casa deste, mas pretende levá-lo para sua própria casa, numa cidade
vizinha, para morar permanentemente com ele, sob os veementes protestos do
garoto que não vê motivo para se afastar de sua escola e de todos os seus
amigos.
O filme do escritor e diretor Kenneth Lonergan não é feito
de momentos arrebatadores, muito pelo contrário. Salvo talvez uma única cena de
profundo impacto dramático, Manchester à Beira Mar é feito de frases, gestos e
ações simples, mas carregadas de emoção dolorosamente contida. Nisso, o texto
contido e discreto, que prefere dizer muito com pouco, depende muito de seu
elenco, e Lonergan foi extremamente feliz ao escalá-lo. O filme, de fato,
deveria ser dirigido e interpretado por Matt Damon. Mas uma série de atrasos o
deixou apenas como produtor, e Lonergan assumiu a direção do roteiro que
escreveu e Affleck acabou ficando com a oportunidade de mostrar o gigante de
ator que é. Toda a raiva, culpa, tristeza, frustração e medo de Lee são
expressos com impressionante atenção aos detalhes, olhares, posturas corporais
e com o desconfortável silêncio do personagem. Lucas Hedges também se sai muito
bem e Michelle Williams prova porque uma personagem com tão pouco tempo na tela
precisava de uma atriz do seu calibre para interpretá-la, mostrando mais uma
vez porque é uma das melhores e mais subestimadas atrizes de sua geração.
Os flashbacks que contam a vida de Lee antes de se tornar um
faz tudo recluso entremeiam a narrativa muitas vezes sem uma separação temporal
clara, e é preciso atenção do espectador para separar passado e presente sem se
confundir. Mas a principal dica que entrega claramente o que é passado e futuro
é o próprio Lee. No passado ele é leve, engraçado, amoroso, vivo. No presente é
fechado, vivendo no automático, falando o mínimo possível e arrumando brigas em
bares absolutamente sem motivo algum. A trilha musical é composta apenas com
peças clássicas, algo que às vezes apresenta problemas. A cena-chave que mostra
a grande tragédia da vida de Lee acontece ao som do Adágio em Sol Menor, de
Albinoni, peça excessivamente conhecida, o que pode gerar alguma distração.
A tragédia que mudou a vida de Lee e que passou a defini-lo
é a mesma que inicialmente o faz pensar que a melhor decisão é incluir o
sobrinho em sua vida de zumbi, sem objetivo. Mas também pode ser a que o fará
tomar sua decisão final, talvez não a certa, mas a melhor que ele pode tomar.
Manchester à Beira Mar não é um filme sobre superações exemplares. É sobre
pessoas comuns vivendo com dores profundas e tentando fazê-lo da melhor forma
possível. Se sua impressão será de um final triste que é feliz ou de um final
feliz que é triste, depende apenas de você.
INDICAÇÕES AO OSCAR
Filme
Diretor: Kenneth
Lonergan
Ator: Casey
Affleck
Ator coadjuvante: Lucas Hedges
Atriz coadjuvante:
Michelle Williams
Roteiro original:
Kenneth Lonergan
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
Chá das Cinco #35 - Sobre o filme "A Chegada"
Mais um bate papo de Eddie e Renato, dessa vez sobre "A Chegada", filme com 8 indicações que mostra os esforços de estabelecer contato com recém chegados alienígenas.
Lembrando que estaremos ao vivo neste domingo, dia 26, uma hora antes da festa do Oscar aqui na nossa página (www.facebook.com/sitealcateia) comentando nossos favoritos, as curiosidades desse ano e dando brinde!
INDICAÇÕES AO OSCAR
Filme
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro adaptado: Eric Heisserer baseado em "Story of Your Life" de Ted Chiang
Fotografia: Bradford Young
Montagem: Joe Walker
Edição de som: Sylvain Bellemare
Mixagem de som: Bernard Gariépy Strobl e Claude La Haye
Design de produção: Patrice Vermette e Paul Hotte
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
Os filmes do Oscar: MULHERES DO SÉCULO VINTE (1 indicação)
Por Ricky Nobre
Pode confiar que não tem erro: é batata! Se quiser ver os
melhores filmes deste Oscar, basta procurar os que têm apenas uma indicação. O
diretor e roteirista Mike Mills construiu Mulheres do Século Vinte levemente
baseado em suas experiências de juventude e de sua própria mãe. Em 1979,
Dorothea (Annette Bening) é uma mulher de 55 anos, ativa, inteligente, que cria
sozinha seu filho Jemie (Lucas Jade Zumann), de 15 anos. Ela luta para entender
o rapaz e o mundo em que ele está inserido, muito diferente daquele em que ela
foi criada. Julgando-se sem referências para um mundo em tão rápida mudança,
com uma juventude que ela não compreende, ela pede a ajuda de Julie (Elle
Fanning), amiga do filho e vizinha de 17 anos, e Abbie (Greta Gerwig),
fotógrafa de 24 anos que aluga um dos quartos de Dorothea e luta contra um
câncer.
Tudo neste emocionante e adorável filme funciona à
perfeição, a começar pelo roteiro, detentor da única indicação que o filme
recebeu e que, se houvesse justiça nesse mundo, levaria a estatueta pra casa. Não
é nada fácil escrever um filme sem trama, principalmente por não ser possível
usar as fórmulas e truquezinhos dos manuais. Assim como Abbie fotografa objetos
que lhe pertencem na tentativa de criar um retrato geral de si mesma, o filme é
uma série de retalhos, extremamente bem costurados, da vida dos personagens
naquele período em particular. O retrato resultante é não apenas o daquelas
pessoas, ou de uma época, mas também, e principalmente, daquelas pessoas
descobrindo a vida, vida esta indissociável daquele momento da história. Não é aleatória
a escolha do ano em que o filme se passa. O último ano da década de 70 é um
símbolo dos últimos momentos de um período efervescente na revolução dos
costumes, direitos civis, revolução sexual, feminismo. Em determinado ponto, a
narração de Dorothea chama a atenção para o fato de que os personagens, naquele
momento, não faziam ideia de que o movimento punk e todo o espírito dos anos 70
estavam de fato dando seus últimos suspiros, pois a Era Reagan estava aguardando
logo adiante, iniciando uma década marcada pelo conservadorismo e
individualismo.
É fascinante como o filme mostra essas mulheres do século
20, principalmente na derrubada de alguns mitos e pressuposições. Dorothea foi
sempre uma mulher forte e à frente de seu tempo. Alistou-se e treinou para ser
piloto de caça na Segunda Guerra, mas as guerra acabou antes que ela
conseguisse terminar o treinamento. Divorciada sem neuras, trabalha, cria o
filho e monitora diariamente seus investimentos em ações. Mas tem dificuldades
em lidar com os livros feministas que lê, e ofende-se terrivelmente quando
Abbie começa a falar de menstruação como um assunto corriqueiro. Abbie é
independente, saiu de casa cedo para cursar faculdade, possui profundo conhecimento
teórico do feminismo e enfrenta o câncer com bravura. Mas precisa montar um
teatrinho para sentir-se confortável no sexo, e a possibilidade de não ter filhos
a fragiliza e entristece. Julie ainda é menor de idade, mas tem vida sexual
bastante ativa. Sendo filha de psicóloga, gosta de analisar as pessoas e até
faz isso muito bem. Mas nunca teve orgasmo com garoto nenhum. Não são clichês
de mulheres modernas. São mulheres reais. Tudo isso é obra não apenas no
excelente roteiro mas também do elenco impecável, onde Benning pode se juntar à
Amy Adams para dar queixa contra roubo de indicação.
Mas o filme não é só das mulheres. O jovem Jamie, alter ego
de Mike Mills, aprende sobre a vida justamente através destas três mulheres. Ele
conhece o movimento punk e a vida noturna com Abbie, tenta lidar com a
amizade de infância que se transformou em paixão não correspondida por Julie e
tenta ajudar a mãe, pois acredita que ela se dedica tanto à felicidade dele,
enquanto ela mesma não é feliz. E há também William (Billy Crudup), outro
inquilino de Dorothea, remanescente da cultura hippie, que mesmo fascinado
pelas mulheres e com facilidade de levá-las para a cama, não consegue forjar
ligações duradouras com elas.
Sem a pretensão de fazer um filme feminista, Mills admite que
é uma visão masculina das mulheres daquela época ao colocar Jamie como
protagonista junto com Dorothea. Como o próprio Mills disse, é uma homenagem às
mulheres que o tornaram o homem que ele é. As narrações, a estrutura da montagem,
as fotos de época, a música (punk rock acompanhando os personagens jovens e os
sucessos dos anos trinta e quarenta com Dorothea), tudo isso funciona como a
perfeita encadernação de um belíssimo, emocional e fascinante álbum de
memórias. Mulheres do Século 20 é um filme lindo e adorável.
INDICAÇÃO AO OSCAR:
Roteiro original: Mike Mills
Chá das Cinco #34 - Sobre o filme "Estrelas Além do Tempo"
Na trilha do Oscar: Eddie e Renato batem um papo sobre a inspiradora história de três das dezenas de calculadoras negras que trabalharam na NASA durante a corrida espacial.
3 INDICAÇÕES AO OSCAR
- Filme
- Atriz coadjuvante: Octavia Spencer
- Roteiro adaptado: Allison Schroeder e Theodore Melfi from baseado no livro de Margot Lee Shetterly
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
Os filmes do Oscar: FLORENCE: QUEM É ESSA MULHER (2 indicaçôes)
Por Ricky Nobre
Florence: Quem É Essa Mulher prova que existem três coisas
com as quais podemos sempre contar: com a estupidez dos distribuidores
brasileiros em traduzir títulos, que Stephen Frears sempre trará uma história
humana inteligentemente filmada e com o brilhantismo de Meryl Streep.
Baseado em fatos reais (mais um!!), o filme fala da estranha
história da “pior cantora do mundo”. Durante a Segunda Guerra, a milionária
socialite Florence Foster Jenkins (Meryl Streep, o que dizer...) ajudava a
manter a cena da música erudita viva em Nova Iorque, com seu Clube Verdi e
espetáculos beneficentes. Profundamente apaixonada por música, promovia
espetáculos onde ela interpretava as mais difíceis árias, ainda que fosse
absolutamente incapaz de sustentar, ou sequer acertar uma única nota. Tendo a admiração
e respeito de artistas que iam de Toscanini a Cole Porter, Florence era, por
incrível que pareça, um sucesso, seja para os amigos que sempre lhe prestariam
elogios, não importando a tragédia de sua apresentação, seja dos que curtiam
tudo como uma grande piada. Seu marido St Clair Bayfield (Hugh Grant, ótimo),
controlava a venda de ingressos apenas para conhecidos e membros da imprensa
dispostos a publicar críticas “amigáveis”. Chegou a lançar 5 discos 78rpm, que
foram as maiores vendas da gravadora Melotone. Sua maior extravagância foi um
espetáculo no Carnige Hall para duas mil pessoas.
Uma das grandes polêmicas em torno de Florence é o quanto
ela tinha consciência real de seu “talento”. O filme de Frears parte do
princípio de que ela realmente se considerava uma cantora, e das boas. Com
alguns momentos mais dramáticos e sutis, o filme se ancora mesmo no tom cômico,
e nisso o elenco garante um excelente espetáculo. Simon Helberg, como o
pianista que acompanhou Florence nos últimos anos de sua carreira, está impagável.
Mas por melhores que estejam seus companheiros de cena, o filme é mesmo de
Streep. Ótima cantora (como já mostrou em outros filmes, especialmente Mama
Mia), ela mesma foi responsável por todos os inacreditáveis sons emitidos por
Florence, sempre gravados no momento da filmagem, sem uso de playback.
Florence é retratada como uma figura fascinante e indomável,
que decidiu que seria cantora não importasse o que dissessem, que viveu com
sífilis durante 50 anos, contra os prognósticos de qualquer médico da época.
Mas tinha também algo de frágil e trágica, não apenas pela inevitável
instabilidade de sua saúde, mas também pela relação meramente platônica que
tinha com o próprio marido (também por conta da doença), que mantinha seu
próprio apartamento com outra mulher. Mesmo assim, Bayfield era profundamente
dedicado a ela, não medindo esforços para manter intacta a frágil bolha que
separa Florence da realidade de seu talento artístico.
Ainda que Florence se concentre num período muito curto já
bem avançado da vida de protagonista, até mesmo condensando excessivamente
alguns fatos, ele é um filme leve e despretensioso que deve muito do seu brilho
a seu elenco, guiado com perfeição por Frears. E, além de tudo, confirma a
urgência da criação de uma lei que proíba Meryl Streep de concorrer ao Oscar,
pra poder dar alguma chance para as outras pobres mortais.
INDICAÇÕES AO OSCAR
Atriz: Meryl Streep
Figurino: Consolata Boyle
Chá das Cinco #33 - Sobre o filme "Um limite entre nós"
Continuando nossos especiais pré-Oscar, Patrícia Balan e JM falam sobre o filme "Um Limite entre nós" que tem 4 indicações ao Oscar:
Melhor Filme
Melhor Ator: Denzel Washinton
Melhor Atriz coadjuvante: Viola Davis
e Melhor Roteiro adaptado: August Wilson
Melhor Filme
Melhor Ator: Denzel Washinton
Melhor Atriz coadjuvante: Viola Davis
e Melhor Roteiro adaptado: August Wilson
"A LEI DA NOITE" É UMA BOA SURPRESA
Por Eddie Van Feu
Nem todo filme que eu tenho visto está conseguindo prender minha atenção. Ou são bobos, ou são rasos, ou são cheios de furos. A Lei da Noite foi uma interessante exceção e uma boa surpresa.
Para começar, deixa eu falar umas coisas. Eu não gosto do Ben Afleck. Não gosto de filme de gangster. Não gosto de filme dos anos 1920. Isso posto, apesar de ter ido ver o filme com boa vontade, não estava na melhor das expectativas.
E eis que começo a me surpreender pela fotografia, linda da primeira à última cena. Em poucos minutos, eu já estava envolvida nos dilemas morais dos personagens, rindo com o texto inteligente e me prendendo na cadeira nas perseguições de carro. Admito que não via uma corrida de carros velhos tão empolgante desde Os Intocáveis.
A história
Filho de um comissário de polícia desgostoso pelas atrocidades que teve que cometer na guerra volta com a convicção de nunca mais seguir ordens. E aí vira um ladrão. Não bastasse ficar contra a lei, continua em seu caminho de autodestruição tendo um caso com a peguete do chefão. É claro que em algum momento um roubo dá errado, o namoro dá errado e tudo dá errado, levando o personagem a um plano de vingança. Porém, no decorrer do plano, ele conhece pessoas, se apaixona de novo e percebe que a vida é mais do que isso.
Efeito Manada?
Fiquei muito surpresa com as críticas negativas que o filme recebeu nos Estados Unidos. Não entendi. Das poucas críticas que ouvi, nenhuma fez sentido. Por exemplo, houve quem reclamou que o filme começa como um filme de gangster, vira filme de vingança e de repente vira romance. Isso me parece uma visão limitada de que um filme precisa se encaixar num único gênero. Se é aventura, não pode ter romance. Se é romance, não pode ter violência. E por aí vai. A outra coisa que vi foi sobre as interpretações, que eu achei boas – e isso vindo de alguém que não é grande admiradora do Ben Afleck, que estava muito bem, diga-se de passagem. Sinceramente, acho muito provável que esteja ocorrendo o efeito manada. Um pequeno grupo fala mal e todo mundo se determina a não gostar do filme para não ficar de fora.
O texto é bem legal, com boas sacadas de humor nos momentos certos. A história é bem amarrada, do início ao fim, não deixando nada sem desfecho. A trilha sonora é bem discreta e talvez pudesse ter mais personalidade. O que mais gostei de A Lei da Noite foi ver a jornada do herói, que é um bandido. Joe Coughlin, personagem de Ben Afleck, tem um amadurecimento muito bacana. Ele cresce, evolui e vai aprendendo a fazer escolhas melhores. Isso faz com que fiquemos ao lado dele, mesmo que ele seja um gangster. O paralelo entre relacionamentos foi bem interessante também. Um chefe de polícia tem um filho escroque. O pai o ama, mas não o protege de suas próprias escolhas. No entanto, faz o possível para ajudá-lo, dentro de suas possibilidades. Esse relacionamento encontra um espelho distorcido no relacionamento do mafioso Maso Pescatori (Remo Girone) e seu filho imbecil. As três mulheres do filme são fundamentais para a evolução do personagem e contribuem muito com a trama.
O filme toca em assuntos como preconceito, fanatismo religioso, a indústria do crime e a violência como um meio burro de se chegar aonde se quer. Ótimo filme e estou quase aprendendo a gostar do Ben Afleck.
Genero: Ação
Titulo original: Live By Night
Ano: 2016
Pais: EUA
Duracao: 2h 09min
Diretor: Ben Affleck
Elenco: Ben Affleck, Zoe Saldana, Elle Fanning, Sienna Miller, Brendan Gleeson, Scott Eastwood, Chris Cooper e Anthony Michael Hall.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
Chá das Cinco #32 - Sobre o filme "A Lei da Noite"
Convidados pelo Kal J Moon do Poltrona Pop fomos conferir o novo filme do Ben Affleck e tentamos descobrir porque ele não tá dando certo nas bilheterias... Será que conseguimos?
Confira aí!
Confira aí!
HAN SOLO APRONTANDO TODAS
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
Chá das Cinco #31 - Sobre o filme "Manchester à beira-mar"
JM fala conosco hoje sobre "Manchester à beira-mar", filme com 6 indicações ao Oscar 2017. No bate-papo estão também Patrícia Balan, Eddie Van Feu e Renato Rodrigues.
Lembrando que estaremos ao vivo neste domingo, dia 26, uma hora antes da festa do oscar aqui na nossa página (www.facebook.com/sitealcateia) comentando nossos favoritos, as curiosidades desse ano e coisas e tal!
domingo, 19 de fevereiro de 2017
Os filmes do Oscar: LION: UMA JORNADA PARA CASA (6 indicações)
por Ricky Nobre
Além dos filmes com temática afro americana, os “baseados em fatos reais” também estão marcando forte presença nesse Oscar. Com apenas cinco anos de idade, o pequeno Saroo (Sunny Pawar, desde já, uma das crianças mais adoráveis da história do cinema) ajuda a mãe e o irmão que vivem em extrema pobreza numa pequena vila no interior da Índia. Ao acompanhar o irmão que ia procurar trabalho, ele acaba adormecendo em um vagão de trem vazio, de onde não consegue sair, e acaba a 1.600 quilômetros de distância de casa. Após enfrentar diversos perigos a que estão expostas as crianças de rua indianas, ele acaba num orfanato, onde é adotado por um casal australiano (Nicole Kidman e David Wenham). Vinte anos se passam e Saroo, já adulto (Dev Patel, indicado como ator coadjuvante... OI???), enfrenta as inquietações quanto à sua origem (da qual se lembra pouco) e parte numa busca por sua família e o lugar onde viveu, onde sua principal ferramenta é o recém lançado Google Earth.
A teimosia dos produtores acabou por garantir que o filme
fosse realizado da forma correta. Eles tentaram financiamento americano, mas
todos os estúdios exigiam que a ação na segunda parte do filme se passasse nos
EUA e não na Austrália, condição que eles se recusaram a aceitar. Insistindo em
ambientação e equipe australianas, o filme, com um orçamento mais modesto, tem
uma estética mais realista e menos “envernizada”. O olhar que o filme tem sobre
a Índia e sobre a miséria de parte de seu povo é destituído de sensacionalismos
ou de uma fotografia feita para embelezar ou glamurizar a pobreza, o que é uma
agradabilíssima surpresa vindo de um diretor que fez carreira em publicidade,
aqui em seu primeiro longa-metragem.
Ainda que a busca de Saroo por suas origens seja envolvente
e as atuações de Patel e Kidman sejam ótimas, o filme brilha mesmo é em sua
primeira metade. Mesmo muito esperto pra sua idade, Saroo é jovem demais para
enfrentar os perigos de uma grande metrópole, sendo que jamais saiu das
proximidades de seu vilarejo, com o agravante que fala apenas hindi, e não a língua
mais comum na cidade, o bengali. A naturalidade do jovem ator Sunny Pawar é
impressionante e é essencial para sensação agridoce de sua adoção, onde ele
sabe que finalmente terá um lar, mas ainda com sua família original na cabeça e
no coração.
Com uma história simples que tem um apelo emocional
considerável, o diretor Garth Davis evita a pieguice melosa que poderia ser a
ruína do filme. Mesmo assim, não é recomendável assistir o Lion sem uma caixa
de lenços do lado. Da grande.
INDICAÇÕES AO OSCAR
Filme
Atriz coadjuvante: Nicole Kidman
Ator coadjuvante: Dev Patel
Roteiro adaptado: Luke Davies baseado no livro A Long Way Home de Saroo Brierley e Larry Buttrose
Música original: Dustin O'Halloran and Hauschka
Fotografia: Greig Fraser
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