segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

OSCAR 2016 - O fim da piada do Dicaprio


por Renato Rodrigues
Uma noite morna no Oscar onde a única expectativa reinante era se o Dicaprio ia ou não ia perder o cabaço. Eu achei que a abertura do "Todo Mundo Odeia o Cris" seria mais ácida. Ele parecia em cima do muro, criticando com um humor leve o assunto que dominou esse pré-Oscar (A polêmica ausência de negros nas indicações). Achei que ele foi... posso falar chapa branca?

Mas ele acertou apontando para o óbvio: OPORTUNIDADES IGUAIS de trabalho para todos, sejam homens ou mulheres de qualquer etnia! Já é um bom começo! 

Os destaques foram para a maluquete Lady Gaga que brilhou novamente no Oscar com "Til it happens to you" para o documentário "The hunting ground", sobre agressões sexuais em instituições de ensino nos Estados Unidos. Inclusive quem a presentou foi o vice-presidente (o que acabou sendo um prêmio de consolação, pois quem levou a estatueta foi a música do James Bond). 

Minha alegria foi ver a homenagem dos 20 anos de Toy Story (com os dois bonequinhos ao vivo no palco) e a presenças ilustre dos robôs de Star Wars que quase deram brilho a noite. Só faltou um texto legal à altura para o C3PO... eles entraram e pareciam estar até improvisando. Pareciam o "Travolta confuso". Mas valeu para termos essa foto abaixo (os Droids com o garotinho do Quarto de Jack)


No clipe de homenagem aos falecidos estava todo mundo lá. Leonard Nimoy, Alan Rickman, David Bowie. Só faltou o Tutuca e o governo Dilma...

Enfim, MAD MAX faturou a maioria dos Oscars, Chris Rock amarelou na zoeira e o Dicaprio vai poder finalmente colocar o Oscar naquela estante vazia na casa dele.

E pra vocês verem como foi uma festa merda: o destaque na Internet está para os comentários na Globo da Gloria Pires... Vai entender?



MELHOR FILME
"Spotlight: Segredos Revelados" (ESSA MERDA??? - Ricky Nobre)

MELHOR ATOR
Leonardo DiCaprio ("O Regresso") (Adeus MEMES)

MELHOR ATRIZ
Brie Larson ("O Quarto de Jack") Mandou bem! Ela virou outra pessoa em cena! E o guri do filme também merecia ganhar alguma indicação.

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Mark Rylance ("Ponte dos Espiões") (Garfou o Sylvester... Cuidado, velhinho... Stallone Cobra!)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Alicia Vikander ("A Garota Dinamarquesa") ("Atriz principal ganhando por coadjuvante. Mas ela tava ótima!" Ricky Nobre)

MELHOR DIRETOR
Alejandro G. Iñarritu ("O Regresso") ("E a academia não se intimidou em premiar Iñarritú dois anos seguidos." - Ricky Nobre)

MELHOR ANIMAÇÃO
"Divertida mente". Essa foi fácil!


* Patricia Balan falou que entre um comercial e outro MAD MAX ganhou Oscar de melhor cafezinho


MELHOR FILME ESTRANGEIRO
"O filho de Saul" (Hungria) (Se o Donald Trump ganhar, essa categoria será extinta)

MELHOR TRILHA SONORA
Ennio Morricone ("Os 8 odiados") Escolher entre Morricone e Jonh Willians é cruel pra nós da velha guarda. Mas valeu a pena pois é o seu primeiro. Como disse o Ricky "Moricone sempre tão sério e sisudo, esta quase às lagrimas"

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
"Spotlight: Segredos Revelados" (Aquela onde o Batman, o Hulk e o pai do Tony Stark combatem a pedofilia)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
"A Grande Aposta" (Ricky "curtiu" com botãozinho novo do Facebook)

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
"Mad Max: Estrada da Fúria" (Sexto Oscar... Senta lá, Claudia MAD MAX!)

MELHOR FOTOGRAFIA
"O Regresso" ("Merecidíssimo numa categoria com concorrentes excepcionais." Ricky Nobre)

MELHOR FIGURINO
"Mad Max: Estrada da Fúria" (Quinto Oscar. Mel Gibson chorando em casa...)

MELHORES EFEITOS VISUAIS
"Ex Machina: Instinto Artificial" (Aquele da robô gostosa, Pelo menos algum reconhecimento pra ele. Mas só tinha concorrente phodão.)

MELHOR MONTAGEM
"Mad Max: Estrada da Fúria" (Quarto de Jack Oscar)

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
"Mad Max: Estrada da Fúria" (terceiro Oscar? Pô, Star Wars, que azar!)

MELHOR MIXAGEM DE SOM
"Mad Max: Estrada da Fúria" (Segundão. Mas nesse caso em particular achei O Regresso o melhor" Ricky Nobre)

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
"Bear Story" (A História de um urso ganhar deixou Dicaprio TENSO)

MELHOR CURTA METRAGEM
"Stutterer" ( Prefiro não comentar! - Gloria Pires)

MELHOR CABELO E MAQUIAGEM
"Mad Max: Estrada da Fúria" (Primeirão. E a personagem principal tava careca, heim)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
"Amy" (BlaBla... teve tudo e jogou fora... Blablabla... vidalôca... blablá)

MELHOR DOCUMENTÁRIO DE CURTA METRAGEM
"A Girl in the River: The Price of forgiveness" (“Não sou capaz de opinar” Gloria Pires)

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"Writing's on the wall" ("007 contra Spectre") (Injusto, a Gaga fez mais bonito no palco)

Os filmes do Oscar: A PONTE DOS ESPIÕES (seis indicações)


Por Ricky Nobre



 Os filmes de cunho político de Spielberg são os que menos rendem na bilheteria, sendo Munique (2005) um dos seus trabalhos menos bem sucedidos na arrecadação. Apesar de ter a espionagem como tema, A Ponte dos Espiões não é exatamente um filme do gênero. Ambientado no início da década de 60, no auge da guerra fria, é de fato um filme que tem a política como principal enfoque, para a frustração de muitos que esperavam um típico filme de espiões com ação. 


Baseado num caso real (e como tem casos reais nesse Oscar!!), o roteiro dos irmãos Coen (olha só!) conta a história de James Donovan, um advogado especialista em patentes que é escolhido para defender um russo (Mark Rylance) acusado de espionagem. Tom Hanks, impregnando seu personagem de integridade e bom mocismo como de costume, interpreta o advogado que, do momento em que assume a defesa do espião, já começa levando seu trabalho muito mais a sério do que o governo julga adequado. Conforme ele aponta falhas no processo de investigação e acusação ao defender seu cliente, as reações de autoridades à sua volta vai deixando claro que aquele julgamento nada mais é do que um grande espetáculo para mostrar ao mundo a maravilhosa democracia que é a América. O destino do espião, porém, não pode ser outro a não ser a pena de morte. Mas a defesa não colabora.


Esta é apenas a primeira parte de A Ponte dos Espiões, porém não entraremos no mérito para não darmos mais spoilers do que o necessário. Basta dizer que Donovan possui, além de uma inabalável e infantil fé nas instituições democráticas americanas, uma razão muito prática em sua defesa do russo Abel. E essa visão desencadeia os eventos na segunda metade do filme, onde Donovan irá encarar desafios que ele jamais sonhou viver.


É desnecessário entrar no mérito da narrativa de Spielberg. Mesmo em seus filmes menos interessantes, ela é sempre precisa e dramática, fazendo os 142 minutos passarem rápido. A construção e a interação dos personagens de Donovan e Abel é um dos pontos altos do filme, investindo na humanização dos cidadãos de nações que se odeiam. O resgate da história é muito interessante, porém, no geral, não é nem de longe o mais memorável dos filmes de Spielberg, tampouco a indicação a melhor filme é das mais merecidas. Mas se formos comparar com os demais indicados...

INDICAÇÕES AO OSCAR
Melhor filme
Ator coadjuvante: Mark Rylance
Roteiro original: Matt Charman, Ethan Coen e Joel Coen
Música original: Thomas Newman
Mixagem de som
Direção de arte

domingo, 28 de fevereiro de 2016

VLOG ALCATEIA #76 - Bate-papo Pré Oscar 2016

Eddie Van Feu, Renato Rodrigues, Ricky Nobre (o único que entende de cinema) e Patrícia Balan trocam figurinhas sobre suas expectativas para o OSCAR desse ano. Favoritos? Quem viu o que? Lady Gaga virá fantasiada de nave espacial? CONFIRA AÍ!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar: MEMÓRIAS DE MARNIE (uma indicação)


Por Ricky Nobre


Quando  Hayao Miyazaki, Isao Takahata, Toshio Suzuki e Yasuyoshi Tokuma se juntaram e fundaram o Studio Ghibli em 1985, sob a luz do sucesso de Kaze No Tami No Nausicaä no ano anterior, eles provavelmente não faziam ideia que estavam criando um dos estúdios de animação mais amados do mundo. Vinte filmes (vinte e um se contarmos que Nausicaä foi incorporado ao catálogo do estúdio) haviam sido feitos até 2013, quando o principal nome da empresa, o mestre Hayao Miyazaki, anunciou que Vidas ao Vento seria seu último filme, consolidando sua aposentadoria. Logo após este anúncio, o estúdio lançou uma nota oficial afirmando que o filme que estava em produção naquele momento seria o último lançado e que ele entraria em recesso para ser reestruturado. Pânico se instalou nos corações de fãs do mundo inteiro. Omoide no Marnie seria o último filme do Studio Ghibli.


Hiromasa Yonebayashi foi animador de quase metade dos filmes do estúdio, até estrear na direção com O Mundo dos Pequeninos em 2010. Para seu segundo filme, optou por adaptar When Marnie Was There, um romance lançado pela inglesa Joan G. Robinson em 1967. No filme, Anna é uma menina órfã de 12 anos que sofre de asma. Sua mãe adotiva (que ela chama de tia) a manda para a casa de parentes no interior, onde o ar puro pode ajudar a recuperar a saúde. Na nova cidade, Anna faz o que fazia onde morava: foge desesperadamente de qualquer possibilidade de interação social. Ela acredita que exista no mundo um círculo invisível onde a maioria das pessoas está dentro e ela está fora. Exímia desenhista, ela nunca deixa ninguém ver suas obras, pois acredita estarem sempre ruins. Sentindo-se permanentemente desconectada do mundo, sonha em ser “normal”, enquanto acredita que o mundo a vê como feia, burra, temperamental, desagradável. Anna odeia a si mesma. 


Fascinada por uma mansão abandonada construída no meio de um pântano cujas águas sobem à noite, Anna a visita durante o dia a vasculha suas ruínas. Numa noite, decide visitá-la depois que a maré sobe e conhece Marnie. Ela é linda, gentil, esperta, divertida, se veste lindamente, enfrenta a tirania das babás. Marnie é tudo que Anna gostaria de ser e, o mais impressionante, possui profundo carinho e amizade por Anna. 


No desenrolar da história, um pequeno quebra cabeças vai se formando a partir de alguns fragmentos de informações para que o público e a própria Anna possa desvendar o mistério de Marnie, que vive como que numa dimensão paralela, que só existe ao subir da maré, onde a mansão abandonada se torna palco de lindas e sofisticadas festas da rica família. Mas o mistério de quem é Marnie e como ela e seu mundo aparecem apenas para Anna, apesar de ser habilmente mantido pela narrativa, onde o público conjectura diversas possibilidades, não protagonizam a trama. O espetáculo que presenciamos é a jornada emocional de Anna. Perceber-se amando e sendo amada de forma tão imensa, tão doada, é uma absoluta novidade na vida de Anna que, com as questões que tem e vão sendo reveladas ao longo do filme, não percebia o amor que já recebia, sentindo-se mais abandonada pela família morta do que acolhida pelos que a receberam. E essa enorme cumplicidade com a amiga traz profundas transformações.


Não é novidade a capacidade dos animadores nipônicos em lidarem com emoções, transformando seus personagens desenhados em atores excepcionais, tão pouco é nova a delicadeza e a exuberante beleza dos filmes do Ghibli. Memórias de Marnie, tendo ares de canto do cisne do estúdio, é uma síntese e uma apoteose do seu legado. Extraordinariamente bem animado, repleto dos mais ínfimos e sensíveis detalhes, Marnie fala de amor, amor de mulheres, entre mulheres, e como esse amor resgata corações, almas e auto-estimas despedaçadas. Talvez o filme mais completa e proeminentemente definido pelo amor desde A Cor Púrpura. Um amor que salva vidas e resgata histórias. É imperativo sentar-se pela primeira vez (ou pela segunda, terceira...) vez diante de Memórias de Marnie com uma caixa de lenços. Acredite você ou não que este é o fim do Studio Ghibli.
 


PS: O título brasileiro é tradução literal do título em japonês. O título internacional em inglês é o mesmo do livro original. O site Studio Ghibli Brasil promoveu uma enquete para escolher o título brasileiro que consistia nas traduções literais dos dois títulos oficiais e uma terceira opção, “Quando Estou com Marnie”. Venceu a tradução do original japonês.

INDICAÇAO AO OSCAR:
Melhor longa metragem de animação

DOMINGO, TAMU JUNTO AÍ NO OSCAR!!!



Nesse domingão, dia 28, tem OSCAR na TNT (Na Globo não conta pois eles cortam a metade pra enfiar o BBB) e AQUI no ALCATEIA.COM também! 

Estaremos num vídeo hangout AO VIVO durante o tapete vermelho aqui na Blog e lá na página Alcateia (do Facebook) uma hora antes do Oscar (a partir das 20:30) comentando os filmes e dando brinde no BOLÃO DO DICAPRIO... Será que ele ganha?


E quando a festa começar continuaremos falando merda nos comentários, junte-se a nós!!! Domingo, 8 e meia da noite, na página do ALCATEIA no Facebook!

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar: CAROL (seis indicações)


Por Ricky Nobre



Todd Haynes sempre teve uma preferência de lançar um olhar ao passado para tratar de questões do presente, em filmes como Velvet Goldmine, Não Estou Lá e Longe do Paraíso. Carol guarda grande semelhança com este último. No filme de 2002, uma dona de casa branca na década de 50 se via envolvida com seu jardineiro negro enquanto seu marido tem casos com outros homens. Em Carol, uma jovem vendedora de brinquedos se percebe completamente fascinada por uma cliente que vai procurar um presente de natal para a filha. A história é baseada no livro O Preço do Sal, levemente autobiográfico, lançado em 1952 pela escritora Patricia Highsmith, porém sob pseudônimo. Ela só admitiu a autoria em 1990, quando relançou o livro com um novo posfácio e com o título Carol


Em Longe do Paraíso existia um sentimento de ameaça social constante tanto pela homossexualidade do marido da protagonista, quanto pelo seu envolvimento amoroso com o amigo negro. Em Carol, apesar das consequências sociais do amor lésbico entre Therese e Carol serem graves e determinarem os rumos da trama, existe uma surpreendente leveza na paixão lenta e delicadamente construída. Enquanto Longe do Paraíso era um forte drama, Carol, apesar dos momentos dramáticos, é de fato um romance. 


Therese é tímida, meio desajeitada, com pouco dinheiro no bolso e apaixonada por fotografia, onde árvores, pássaros e objetos lhe parecem bem mais interessantes de receberem seu olhar do que pessoas. Mas, para ela, Carol é uma visão. Com um porte, uma exuberante elegância que só Cate Blanchett e um figurino dos anos 50 podem alcançar, Carol é tão chique e cool fumando ao volante de seu Packard 1949 quanto cozinhando o almoço da família. Família, aliás, partida. Em processo de divórcio, Carol inicia o flerte com Therese enquanto seu marido insiste para que voltem. Confusa, Therese chega a perguntar a seu namorado se ele já se sentiu atraído por outro homem. Lentamente, ela se deixa envolver por Carol, que parece sempre saber o que quer, enquanto ela mal sabe o que quer para o almoço. Numa cartada baixa, o marido de Carol ameaça tirar a guarda da filha apresentando provas dos relacionamentos lésbicos de Carol, apoiado nas leis de decência da época, e aí se estabelece o grande drama do filme. 


É muito curiosa a escolha de Haynes em não espetacularizar a opressiva homofobia da época. Quando confrontados com o tema, os personagens não perdem a linha, como se estivessem diante do demônio, o que é inesperado, pois, ainda que a homofobia persista hoje, contar esta história ambientada há 60 anos atrás é, geralmente, um artifício para jogar luz sobre preconceitos que já foram mais ferozes antes. Porém, com este olhar, o filme mantém a ameaça da homofobia institucionalizada (e medicalizada) sobre as protagonistas, mas também constrói uma atmosfera mais leve, mais romântica, mais doce, ainda que este romance continue precisando se manter encoberto, reservado.


Incompreensível foi a decisão da Weinstein em apresentar Rooney Mara à Academia como atriz coadjuvante (sim, não é a Academia que decide, mas o estúdio), sendo sua Therese é o olhar principal do filme, é a partir dela que enxergamos Carol e os próprios sentimentos de Therese. Blanchett chega a ter seis minutos a menos de presença na tela, mas apenas ela foi indicada a atriz principal. 


Carol é mais um filme deste ano rodado em 16mm, mantendo a granulação da película e uma paleta de cores que nos transporta no tempo. Tendo os anos 50 como inspiração, não tem como errar: tudo é lindo. A música de Carter Burwell (indicado ao Oscar pela primeira vez, enfim!) fala sempre em que os personagens estão em silêncio, tendo especial impacto na última imagem do filme, onde o olhar de Blanchett irá, sem dúvida, derreter seu coração.

INDICAÇÕES AO OSCAR:
Atriz: Cate Blanchett
Atriz coadjuvante: Rooney Mara
Roteiro adaptado:  Phyllis Nagy, do livro The Price of Salt de Patricia Highsmith
Música original: Carter Burwell
Fotografia: Ed Lachman
Figurino: Sandy Powell

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar: STEVE JOBS (duas indicações)


Por Ricky Nobre



Cinebiografias sempre foram polêmicas. Existe uma tradição de “liberdade artística” que permite um distanciamento dos roteiros dos fatos verídicos acontecidos com os biografados que podem até atingir níveis risíveis. Reza a lenda que a maior diversão do compositor Cole Porter na velhice era assistir a sua biografia A Canção Inesquecível, onde Cary Grant o interpretava, numa história que não continha um único fato compatível com sua história de vida.  E existe, igualmente, a tradição do público em acreditar nas cinebiografias, ainda que a experiência sugira que isso não é muito esperto.


 Steve Jobs é o terceiro filme lançado sobre o homem que criou a Apple e mudou a relação das pessoas com a informática. Depois da interessantíssima produção para a TV Piratas da Informática (que também retratava Bill Gates) e o recente Jobs, estrelado por Ashton Kutcher e muito mal recebido, o diretor Danny Boyle (Trainspotting, A Praia) assume um projeto do roteirista Aaron Sorkin, que também escreveu A Rede Social (sobre a criação do Facebook) e o clássico Questão de Honra, além de ser criador das muito bem sucedidas séries The West Wing e The Newsroom. Por mais personalidade que o cinema de Boyle tenha, ele acabou ofuscado pelas polêmicas escolhas do roteiro de Sorkin. 


O filme pretende resumir 14 anos da trajetória de Jobs se concentrando nos momentos anteriores a três grandes lançamentos: o McKintosh em 1984, o NeXT em 1989 e o iMac em 1998. Supostamente baseado na biografia escrita por Walter Isaacson, que a Sony comprou por três milhões de dólares antes de desistir e vender o projeto para a Universal, tanto defensores quanto críticos do filme concordam em um ponto: o filme Steve Jobs é uma obra de ficção. Ao construir o roteiro em torno dessa ideia de contê-lo em três momentos breves e específicos, muitos eventos que aconteceram em outras ocasiões tiveram que ser adaptados para aquelas circunstâncias e outros tantos jamais ocorreram de modo algum, como por exemplo, o defeito de som na apresentação do McKintosh, que jamais aconteceu, mas foi criada para exemplificar como Jobs reagiria se a situação ocorresse. 


Desta forma, o filme se assemelha mais às biografias de antigas figuras históricas de séculos atrás, onde se cria histórias em torno de fatos históricos básicos, pois qualquer detalhe é impossível de comprovar. Ou ainda, possui toda a semelhança de uma biografia teatral, onde os limites físicos do palco determinam severas adaptações, ainda que seja possível ser fiel aos fatos principais e aos personagens reais. De fato, seria extremamente fácil adaptar o roteiro a uma peça teatral, pois possui a mesma estrutura.


Mas se os fatos reais foram adaptados, o quanto que o filme carrega em sua essência a realidade da pessoa e da obra de Steve Jobs? Isso continua dependendo que quem vê. Dentre as pessoas que conheceram e conviveram com Jobs ao longo dos anos, as opiniões variam entre os dois extremos. O fato é que praticamente não há qualidade redentora no Jobs retratado no filme. Egocêntrico à beira da psicopatia, péssimo pai, patrão irascível, teimosia beirando o irracional. Diz-se que não apenas as piores características de Jobs foram pinçadas e ampliadas, mas também a pior fase. A fase pós- iMac poderia ter mostrado justamente um homem muito mais centrado, consciente de seus erros e com mais empatia com demais seres humanos. Isso é sugerido, de alguma forma, na conclusão da relação dele com a filha. 


Aliás, é justamente a relação dele com a filha Lisa que pode ter sido o aspecto que norteou o roteiro de Sorkin. Lisa jamais quis falar sobre o pai enquanto ele estava vivo, portanto sua visão está ausente do livro de Isaacson. Mas ela concedeu entrevista a Sorkin, e essa conturbada relação acaba sendo um dos principais fios condutores do filme, ainda que a interação entre eles seja quase exclusivamente ficcional. 


Sendo o filme tão distante da realidade e sua fidelidade ao “espírito” dos fatos e das pessoas retratadas forte objeto de debate, talvez seja melhor encarar a obra como realmente uma ficção, ainda que mencione pessoas e fatos reais. Quem não conhecer nada da vida e Jobs ou aceitar a adaptação extremamente “inventiva”, encontrará um filme muito bem planejado, com excelentes interpretações, direção segura e bela concepção visual. Em mais um exemplo em como os cineastas estão criativos na escolha do suporte de captação dos filmes, a primeira parte foi rodada em 16mm, a segunda em 35mm e a terceira em digital, dando uma textura diferente a cada época. Talvez o principal problema da visão quase exclusiva de um Jobs, com o perdão da palavra, escroto, seja que, mesmo se formos encará-lo como um personagem ficcional, ele perde um pouco a tridimensionalidade e sua relação com os demais personagens se torna fragilizada. O filme em momento algum parece tentar explicar como pessoas tão legais insistem em serem amigos de alguém que não parece merecer em momento algum o carinho de ninguém. Mais ainda, o filme dá a impressão não de que a Apple deu certo por causa de Steve Jobs, mas apesar dele. 


De qualquer forma, as indicações para Fassbender e Winslet são merecidas. Apesar de não ter semelhança alguma com Jobs, Fassbender cria uma postura corporal e um tom de voz perfeitamente consistentes com a visão que temos do criador da Apple. Esta não será a última cinebiografia de Steve Jobs, nem a última cinebiografia que ficcionaliza fatos reais à exaustão. Muito menos a última que você verá achando que é verdade. 

INDICAÇÕES AO OSCAR:
Ator: Michael Fassbender
Atriz coadjuvante: Kate Winslet

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar: SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS (seis indicações)


Por Ricky Nobre



Os feitos do jornalismo investigativo costumam dar bom cinema, seja partindo de histórias reais como em Todos os Homens do Presidente ou ficcionais, como em A Montanha dos Sete Abutres. Para mostrar a investigação que durou um ano feita pelos repórteres da equipe do Spotlight do jornal Boston Globe, o diretor e ator Tom McCarthy disse ter se inspirado nos filmes citados e também em JFK, Cidadão Kane, O Informante, Rede de Intrigas e Boa Noite e Boa Sorte. Bom, na cabeça dele, pelo menos.


Apesar da entrega e comprometimento dos atores, Spotlight não é, de forma alguma, um filme elaborado. Ele demonstra com muita precisão e detalhamento a longa investigação que a equipe de jornalistas fazem sobre um caso específico de um padre abusador de crianças. Conforme o trabalho se desenrola, eles acabam descobrindo não apenas mais casos com mais padres, mas todo um esquema de acobertamento por parte da Igreja Católica num período de décadas, com anuência de autoridades na cidade de Boston, a metrópole mais católica dos protestantes EUA. 


Talvez o único detalhe que escape dos limites restritos da investigação são parcas cenas onde os personagens de Ruffalo e McAdams falam sobre os efeitos da investigação em sua fé. Fora isso o filme é absolutamente linear e limita-se a detalhar a investigação sem nenhuma criatividade na linguagem, na construção dos personagens ou construção de suspense ou inquietação. De fato, o filme lembra produções para a TV, não a TV de hoje, que anda muito melhor do que o cinema, mas seria facilmente um bom filme de TV da década de 90. 


Para quem quer saber como tudo aconteceu, o filme é indispensável. Não é o tipo de filme que faça a cadeira “dar formiga”. A proposta documental do filme é bem realizada o suficiente para manter o espectador interessado na investigação durante seus 128 minutos. Mas, se indicação a melhor filme é um enorme exagero, o de direção e montagem só se explica por uma Academia que se permitiu confundir a extrema importância do tema com bom cinema.

INDICAÇÕES AO OSCAR:
Melhor filme
Direção: Tom McCarthy
Ator coadjuvante: Mark Ruffalo
Atriz coadjuvante: Rachel McAdams
Roteiro Original: Josh Singer e Tom McCarthy
Montagem: Tom McArdle

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar: A GRANDE APOSTA (cinco indicações)


Por Ricky Nobre



O mercado financeiro é uma ilusão. Dinheiro não existe.

Sim, é um exagero e uma simplificação, mas essa foi a realidade palpável na crise de Wall Street em 2008 que não apenas levou a economia americana ao colapso mas carregou o mundo inteiro junto. Como diz um personagem do filme A Grande Aposta, ligando para a mãe em um momento de pânico: “É o fim do capitalismo”. 

 O peixe que ninguém pediu no restaurante de Anthony Bordain não vai pro lixo. Vira ensopado. Isso é CDO.

Em 2015, a seriedade do mundo atual parece ter preocupado cineastas antes dedicados à comédia. Assim como Jay Roach, diretor da franquia Austin Powers, realizou Trumbo relembrando a caça aos comunistas nos anos 50, sob a luz (ou escuridão) da crescente popularidade de Donald Trump como candidato à presidência, Adam McKay, com histórico resumido ao programa Saturday Night Live e uma longa lista de comédias do Will Farrel, faz uma autópsia bizarra no cadáver da economia americana vítima da ganância, irresponsabilidade e brutalidade dos bancos. 



A Grande Aposta pode, a princípio, parecer identificar como culpados pela tragédia o punhado de investidores espertos o suficiente para perceberem que o mercado de fundos de hipoteca, tradicionalmente o investimento mais seguro da América, estava prestes a entrar em colapso. Numa manobra arriscada, apostaram milhões de dólares que os fundos iriam quebrar, pois a inadimplência das famílias que pagavam suas casas só crescia. Os bancos escondiam que os fundos apodreciam, criando novos fundos categorizados como AAA (os mais seguros) quando de fato eram compostos por investimentos BB ou B (os mais arriscados e inseguros). Tudo isso com anuência dos órgãos fiscalizadores do governo e das agências de classificação. O que acabamos percebendo é que, ainda que esses investidores que apostaram contra a economia americana (e mundial) tenham faturado alguns poucos bilhões de dólares, o sistema em si era tão fraudulento, tão criminoso, que as consequências seriam as mesmas.


Oito milhões de americanos perderam o emprego. Seis milhões perderam suas casas. CINCO TRILHÕES de dólares simplesmente desapareceram da economia. 

 Em Las Vegas, Selena Gomez está ganhando no Black Jack. Ela acha que continuará ganhando e aposta 10 milhões. Uma senhora de óculos aposta que a Selena continuará ganhando. Um outro cara aposta que a senhora de óculos vai ganhar a aposta de que a Selena continuará ganhando. Essa insanidade chama-se "CDO sintético".

 Não é tão complicado quanto parece. É muito mais. Por isso, a forma como Adam McKay conduz o filme é sensacional. Com montagem excepcional, numa linguagem ao mesmo tempo cômica e dramática, cínica e sensível, tradicional e ousada, A Grande Aposta trata do monstruoso macrocosmo da podridão do sistema financeiro e das angústias pessoais de seus personagens (Christian Bale e Steve Carell dão show!). Sempre que o nível de complexidade dos absurdos do sistema (que confunde e surpreende até os personagens) torna-se demais para o público, a quarta parede é quebrada, onde não só os personagens mas também celebridades como a atriz Margot Robbie, o chef de cozinha Anthony Bordain, o doutor em economia Richard Thaler e a popstar Selena Gomez explicam tudinho de um jeito que as nossas cabecinhas lesadas consigam entender. E ainda assim parece difícil. Parece difícil porque é absurdo, impensável e desumano. 

"Tudo com 'subprime' no nome é merda". Com Margot Robbie explicando mercado financeiro, até eu presto atenção. 

No fim (afinal, esse spoiler todo mundo sabe), o governo salvou os bancos e os discursos culpavam os pobres e os imigrantes, enquanto a economia mundial caía como pedras de dominó. Um último aviso: Michael Burry, o homem que previu a bolha imobiliária antes de qualquer um e pôs todo o seu dinheiro nisso, hoje faz apenas pequenos investimentos. Todos concentrados em um produto: ÁGUA. 

INDICAÇÕES AO OSCAR.

Melhor filme

Diretor: Adam McKay

Ator: Christian Bale

Roteiro adaptado: Charles Randolph e Adam McKay baseado no livro The Big Short de Michael Lewis

Montagem: Hank Corwin

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar: O REGRESSO (doze indicações)


Por Ricky Nobre



No Oscar do ano passado, o cineasta mexicano Alejandro Iñárritu saiu consagrado com a vitória de seu Birdman, que lhe deu os prêmios de melhor filme, diretor e roteiro. Este ano, ele volta como favorito. O Regresso soma 12 indicações, porém a grande questão fica se a Academia gostará da ideia de premiar Iñárritu dois anos seguidos. Talvez, se essa hesitação for real, outros filmes menos cotados acabem por se sair melhor na premiação. 


De fato, é preciso um gosto específico para apreciar o cinema do mexicano que arrebatou Hollywood. Desde seu primeiro filme que o projetou mundialmente, Amores Brutos, passando por 21 Gramas, Babel e Biutiful, Iñárritu mostra uma predileção por dramas esmagadores. Ele testa ao máximo a resistência emocional de seus personagens, enquanto explora e esgarça os limites do quanto é possível representar cinematograficamente o mais extremo sofrimento da alma humana e, talvez, de como fazê-lo sem cair na caricatura do dramalhão e, consequentemente, na paródia involuntária.


Paradoxalmente, de forma intencional ou não (é discutível), Iñárritu não envolve completamente seu público no horror dos personagens. Enquanto ele arranca invariavelmente interpretações memoráveis e abnegadas de seus atores e a empatia do público com eles é inevitável, uma certa distância é mantida, uma frieza formal, talvez, que contrasta com incêndio emocional dos personagens. 


O Regresso é um projeto que chegou a andar de mão em mão até chegar em Iñárritu. É conhecida dos americanos a história de Hugh Glass (Leonardo Di Caprio, querendo muito mesmo seu Oscar), mercador de peles que em 1823 foi abandonado para morrer por seus companheiros e que, milagrosamente, após incontáveis obstáculos, sobreviveu para contar a história. No filme, a vilania é concentrada em Fitzgerald (Tom Hardy, sempre um camaleão), homem egoísta e cruel, cujas ações são a grande força motriz que mantém Glass no inabalável propósito de sobreviver. 


Formalmente, O Regresso é sublime. Iñárritu filma com absoluta maestria, conduzindo a câmera com precisão e enorme inteligência através das superfícies gélidas do oeste americano, sem uma única lâmpada iluminando as cenas. Todo fotografado com luz natural, são fogueiras e tochas que iluminam as cenas noturnas, extraindo enorme realismo e firmando um compromisso estético que é essencial para transportar o público para aquele ambiente, com o auxílio da excepcional mixagem de som, repleta de detalhes perfeitamente equilibrados. Tudo aparece na tela exatamente como foi filmado, com intervenções digitais apenas em momentos absolutamente essenciais, como a queda do cavalo do penhasco ou na sublime sequencia do ataque do urso. Não deixa de ser revigorante ver não apenas Iñárritu, mas Miller em Mad Max e JJ Abrahams em Star Wars optarem por CGI apenas em cenas em que ela é indispensável, filmando elementos ao vivo o máximo que podem. São esforços assim que podem, gradualmente, ir salvando Hollywood de um verniz fake que o cobriu na última década. 


Tudo é magistralmente controlado. Talvez até demais. Leva tempo para reconhecer o compositor japonês Ryuichi Sakamoto no comando da trilha musical. Quem se lembra de seu trabalho em filmes de Bertolucci como O Céu que Nos Protege e O Pequeno Buda percebe que seu estilo habitual foi controlado e sintetizado de tal forma que chega a parecer uma caricatura minimalista dele mesmo, com os temas aparentemente reduzidos às notas rigorosamente essenciais. Tivesse o diretor deixado Sakamoto mais solto, talvez aflorasse uma emoção mais incontrolável e sabemos que, na Hollywood de hoje, melodia é cafona, e Iñárritu é super sério e cool. Podemos também voltar à ideia inicial do quanto o seu cinema mantém-se livre da caricatura de dramalhão, mesmo com o constante sofrimento dos personagens e a música mais emotiva poderia representar uma manipulação das emoções do público que seria completamente desinteressante para o diretor.


Mas então chegamos a aspectos do roteiro (ausente da lista de indicações) que poderiam por isso em xeque. A saga impressionante de Hugh Glass poderia ser vista como um triunfo da vida em si, a luta pela sobrevivência no mais inóspito dos ambientes, o que de fato corresponde ao pouco que se sabe sobre o personagem real. Ao dar a Glass um filho que ele nunca teve na história real e a Fitzgerald uma crueldade atroz, o roteiro transforma a luta pela vida em uma luta por vingança. Não que isso seja exatamente um problema. Contos de vingança sempre fizeram parte da história do cinema, desde Era Uma Vez No Oeste num extremo até A Vingança de Jennifer no outro. Porém, com interpretações do nível que DiCaprio e Hardy oferecem, o envolvimento emocional do público e o desejo de catarse acabam, de alguma forma, florescendo, ainda que Iñárritu mantenha seu controle habitual. A decisão de Glass no filme em manter firme seu propósito de vingança em oposição ao Glass real que perdoou os dois homens que o abandonaram, reforça a visão de mundo sombria e pessimista de Iñárritu, coerente com sua filmografia, pois uma luta pela vida por amor à própria vida seria luz demais em seu cinema que sempre mostrou a escuridão que acompanha a alma humana.

INDICAÇÕES AO OSCAR:
Melhor filme
Diretor: Alejandro Iñárritu
Ator: Leonardo DiCaprio
Ator coadjuvante: Tom Hardy
Montagem: Stephen Mirrione
Fotografia: Emmanuel Lubezki
Maquiagem
Direção de Arte
Figurino
Efeitos visuais
Edição de som
Mixagem de som