terça-feira, 22 de dezembro de 2015

BOA FESTAS, CACHORRADA!!!!

CHEGA! Não aguentamos mais! Hora de dar uma parada, refletir sobre a vida, fazer um balanço deste ano... e encher a cara pra esquecer e poder começar tudo de novo!

Agradecemos aos nossos 7 leitores pela fidelidade e avisamos que voltaremos em Janeiro com a resenha crítica do Ricky Nobre do NOVO Star Wars e o VLOG anual "Retrospectiva do ano que passou" (sempre atrasado que nem as minhas contas)

Bom Natal e Feliz ano novo, galera!
Renato, Eddie, Ricky, Antero e Gabriel!

 

domingo, 20 de dezembro de 2015

Contagem progressiva para Star Wars. Episódio de hoje: O RETORNO DO JEDI

por Ricky Nobre


Antes de mais nada, atentem que não foi um erro o título que usei. Nosso distribuidor brasileiro, totalmente ignorante da trama da saga, concluiu que "Jedi" era uma pessoa, traduzindo como "retorno DE jedi". Mas nós, que não somos idiotas, sabemos do que se trata. Logo, é O Retorno DO Jedi, ok? Isto posto, vamos lá


Este que até agorinha mesmo era o último episódio da saga, carregava o peso de ser a conclusão de uma trilogia cujas primeiras duas partes haviam sido extremamente bem sucedidas e aclamadas. Porém, com os prequels e a declarada intenção de Lucas em fazer a saga funcionar do I ao VI, ganhou também a responsabilidade de funcionar como o fim da saga. Mas se a saga continua, agora que o antigo plano de Lucas de produzir os episódios VII ao IX tornou -se realidade nas mãos da Disney, a responsabilidade desta última parte não diminui. Isso porque as duas trilogias unidas dão uma dimensão nova e surpreendente para a história. Luke Skywalker continua sendo o grande herói da trilogia clássica. Mas os seis filmes unidos, porém, alteram totalmente a perspectiva, tornando esta a saga de ascensão, triunfo, tragédia, queda e redenção de Anakin Skywalker.


As conclusões da jornada trágica de Anakin e a heroica de Luke resumem o que há de épico e memorável em O Retorno do Jedi (1983). Tudo começa muito bem e somos apresentados à corte do mafioso Jabba The Hutt para o resgate de Han Solo, evocando a diversidade e o caos controlado da cantina de Mos Eisley. Porém, após um começo empolgante, inicia-se um distúrbio na força do filme cujo motivo não parece claro de inicio, mas ao longo do episódio se revela: o roteiro carrega sérios problemas.


A ideia de uma nova Estrela da Morte não é de todo absurda, mas dá uma sensação de deja vu que pode incomodar mais a uns do que outros. Porém, a característica principal que talvez possa ser identificada como a raiz de tudo o que há de realmente errado no filme seja uma lógica infantil que desdenha e fragiliza o drama. E drama era exatamente o que o episódio VI mais precisava.


É importante não confundir a crítica pela inconsistência do tom dramático do filme com as opiniões que sugerem que ele desvirtuou-se do tom ostensivamente sombrio de seu antecessor. Este episódio não deveria, de forma alguma, ser sombrio, mas sim altamente emocional. E embora não se possa fazer qualquer crítica ao embate entre Luke e Vader, sob as vistas malignas do Imperador, o teor dramático e emocional do acerto final de contas entre pai e filho é sistematicamente entrecortado por um filme infantil sobre uma tribo de ursinhos que o espectador não lembra de ter pagado ingresso pra ver. Sim, eles. Os Ewoks.


Os Ewoks podem, em primeira análise, parecer não serem necessariamente um problema. Eles carregam uma simbologia positiva ao serem os grandes aliados de Han, Leia, Chewbacca, C3PO e R2D2 na batalha contra as tropas imperiais na tentativa de desativar o campo de força que mantém a Estrela da morte protegida de ataques. Mesmo pequenos e com recursos extremamente primitivos, eles são capazes de fazer a diferença. Legal. Mas não funciona.



O fato é que nem a já anedótica incompetência dos stormtroopers dá conta de tamanha vulnerabilidade de soldados de armadura e armas laser diante de seres diminutos munidos de paus e pedras. A situação, infelizmente, beira o pastelão. Não haveria outro destino plausível para os pequenos nativos a não ser serem massacrados pelas tropas imperiais numa batalha absolutamente desequilibrada. Em determinado momento, dois ewoks junto a Chewbacca sequestram, de forma bastante convincente, um andador AT. Que a batalha tivesse sido ganha por Chewbacca pilotando um andador seria algo perfeitamente convincente. Mas não é esse o caso, nem a questão. Essas situações pueris, numa batalha cômica e sem sensação de perigo, intercalam-se com o dilema de Luke, determinado em resgatar a bondade enterrada no fundo da alma de Vader, enquanto o Imperador explora o medo e o ódio do jovem, tentando trazê-lo para o lado negro. O resultado é desastroso. A cada vai e vem entre o embate de Luke e a frota rebelde tensa em estado de alerta, tem uma gracinha de ewoks derrotando de forma estúpida tropas imperiais. Parece alguém trocando de canais entre dois filmes totalmente diferentes.


Isso, que fique bem claro, não é algo restrito às cenas dos Ewoks. É uma mentalidade que permeia diversas outras cenas. Em um momento mais trivial, Han arremessa um capacete em um oficial imperial que cai de uma murada com um grito de personagem de cartum. Em outro muito mais grave, o caçador de recompensas favorito dos fãs, Bobba Fett, tem uma morte inglória e vergonhosa numa cena pastelão. Há toda uma consistente mentalidade infantilizada no episódio VI, que não se limitou ao momento de sua produção, e estendeu-se até 1997 quando de sua special edition, onde Lucas achou uma boa ideia um novo grande número musical com personagens bem digitais para ter certeza de que contrastariam bastante com os animatronics e fantoches originais. Para cada momento inesquecível como Leia estrangulando Jabba com as próprias mãos, temos dez ewoks derrotando stormtroopers a pedradas.


Inócua, ou quase, foi a decisão de manter Lawrence Kasdan como roteirista. Com participação muito mais intensiva de Lucas no roteiro e na produção, sobrou a Kasdan, podemos supor, alguma tirada humorística mais inteligente e, quem sabe, alguns momentos mais sóbrios e dramáticos na Estrela da Morte. Diversas ideias mais ousadas do roteiro foram descartadas. Originalmente, a Lua Endor seria habitada por wookies, o que tornaria a batalha com as tropas imperiais infinitamente mais interessante e plausível. Ford queria a morte de Han, com o apoio de Kasdan, mas Lucas negou. Em outro ponto, Lando morreria, levando a Falcon com ele, mas Lucas mudou de ideia mais adiante. É claro, ninguém queria ver Han ou Lando morrerem, nem a destruição da falcon, principalmente agora com o Episódio VII. Mas foram decisões que insistiram num atmosfera infantil, excessivamente segura para o espectador infante. Para piorar, o jovem e promissor diretor Richard Marquand pareceu não ter se adaptado bem à dimensão da produção e à complexidade dos efeitos especiais, tornando Lucas um co-diretor não creditado.


Ainda assim, a dramática conclusão mantém sua força. Ian McDiarmid sempre brilhante como Palpatine, é uma figura verdadeiramente maligna e asquerosa que consegue, com sua crueldade, despertar a faísca de bondade de Vader. Luke quase sucumbindo ao medo e ao ódio ao se deparar com a horrenda possibilidade da irmã totalmente sem experiência com a Força ser seduzida pelo lado negro tem um grande impacto. Porém, Lucas continuava no propósito firme de seguir cometendo erros em O Retorno do Jedi, mesmo quase 30 anos depois. Em 2011, foi adicionado o fatídico NOOOOOO de Vader no momento em que ele decide salvar o filho das mãos de seu mestre. O silêncio extremamente eloquente de Vader, mesmo por trás de uma máscara incapaz de expressões, sucumbiu diante do óbvio. Ignorando que a cena só tinha a ganhar sob a luz dos prequels, onde o público mais jovem tinha em mente a clara imagem de Anakin por baixo da armadura e dele aguardando ansiosamente uma atitude redentora, Lucas exibe todo o seu desconhecimento de sutileza dramática, que claramente só piorou com o tempo. Nesse momento, é muito bom ter preferido manter o DVD (que ainda mantém a cena original) em detrimento do Bluray, já com a cena destruída.


Ainda assim, este episódio VI ganha em intensidade ao dar uma conclusão à saga de Anakin. Desde o momento em que Vader dá uma tênue faísca de humanidade dizendo ao filho que era tarde demais para ele mesmo ser salvo até quando ele está à beira da morte, admitindo a Luke que ele estava certo, nos surpreendemos ao ver a saga transformada em seu eixo central. E não, não foi ideia de Lucas desde o inicio. Aliás, essa é uma questão extremamente relevante ao se analisar como Star Wars se relaciona com seu criador. Lucas é um sujeito que não se furta a mudar de ideia e alterar o rumo de uma história, mesmo que isso gere conflitos com o que já foi feito. Em sua fase inicial, Anakin e Vader eram duas pessoas diferentes. O que acontece é que há fortes indícios de que O Império Contra Ataca começou a ser escrito com essa premissa. Foi durante o processo de roteirização deste Episódio V que Lucas decidiu que Vader e Anakin seriam a mesma pessoa, ainda que o fato da palavra “vader” significar “pai” em holandês leve fãs a pensar o contrário. De qualquer forma, podemos supor que, ao elaborar a trilogia original, Lucas tivesse em mente que seu protagonista era efetivamente Luke Skywalker.


Em entrevista feita por volta de 2004, porém, Lucas relaciona sua vida profissional à sua criação ao destacar a ironia de que, no processo de libertar-se do controle dos estúdios que se tornaram grandes corporações (algo que ele abominava), ele mesmo acabou dono de uma grande corporação. Ele acabou se tornando aquilo que ele odiava. E concluiu: “É o que acontece com Anakin”. Em um momento de profunda lucidez sobre sua situação, mas também de dúvidas sobre os rumos que deu à própria carreira, Lucas se viu inspirado a contar a história de Anakin sob um ângulo mais humano. Desta forma, Star Wars tornou-se, em seus seis episódios produzidos por seu criador, a saga de Anakin Skywalker, e ele é (excluindo-se a forçada presença dos androides) o único personagem presente nos seis filmes.


Em muito se assemelham os problemas de O Retorno do Jedi aos de Ameaça Fantasma. Talvez apenas a overdose letal de Jar Jar no Episódio I e a bela conclusão da saga de Anakin no VI mantenha esta última parte da trilogia clássica em posição de vantagem em relação ao primeiro prequel. Sendo o episódio VI agora não o fim, mas mais um capítulo da saga, fica mais explícita a possibilidade de duplo significado do título. Para o português é intraduzível, mas como no original o artigo “the” e a própria palavra “jedi” podem ser plurais, o retorno não é apenas o do cavaleiro jedi Luke Skywalker. É o Retorno DOS Jedi. Para a próxima geração de fãs, soa como o prenúncio de uma nova era, onde a galáxia pode voltar a se sentir segura.


Já já estaremos aqui analisando O Despertar da Força. E voltaremos ainda daqui a dez anos, analisando, distante da euforia dos lançamentos, como a saga Star Wars se parecerá completa com seus nove episódios. Não importa o quanto nós podemos relevar ou condenar seus defeitos. Se estamos sempre aqui é porque amamos. Que a força esteja com você, sempre.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

SUPER-HERÓIS BRASILEIROS: Raio Negro


Por Gabriel Maia

Raio Negro é um super-herói brasileiro criado em 1964 por Gedeone Malagola e tem uma origem parecida com a do Lanterna Verde e o uniforme lembra o do Ciclope dos X-Men. Mas, segundo o autor, o visor usado pelo herói é inspirado em um vilão das tiras Terry e os piratas de Milton Caniff.

O tenente Roberto Salles era um piloto da FAB e é enviado da Barreira do Inferno ao espaço numa missão secreta em voo orbital e acaba sendo capturado por um disco voador. No interior da nave há um alienígena chamado Lid, do planeta Saturno, que estava agonizando. A nave havia sido atingida por um meteoro e Roberto recebe as instruções do alienígena e consegue desviar a nave e chegar até Saturno.
Como agradecimento de Lid, por ter arriscado a vida para salvar a do alien, recebeu o anel de luz negra feito com a energia magnética de Saturno que continha super-poderes, e, finalmente, volta à Terra, prometendo só usar o anel para o bem, assumindo uma nova identidade para combater o crime.

Entre seus poderes estão voo, superforça, velocidade e emitir raios de energia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

NOSTALGIA

por Renato Rodrigues
Em 25 de Maio de 1977 chegava ao mundo o primeiro Guerra nas Estrelas e nós Lobos éramos ainda filhotes remelentos usando conguinha. Apenas Ricky Nobre driblou a censura e, de calças curtas, conseguiu ver na telona. Em 80 veio o segundo filme e em 83 o terceiro fechando a trilogia. 
"A censura de Guerra nas Estrelas era 10 anos e eu tinha 6. Fui ver no cinema, mas numa reapresentação em 1982. Pois é, amiguinhos, antes do videocassete, os cinemas reprisavam filmes!!! (Ricky Nobre via Facebook)"
 Veio então um hiato de 16 anos até que Star Wars voltasse com uma nova aventura nos cinemas e, aí sim, já estávamos no mercado lutando por um lugar ao Sol nas bancas e pudemos fazer a cobertura desta volta (quase) triunfal da saga de George Lucas.


Capa da SS#1 trazendo em destaque a sensação da época na TV, Xena,
 e a manchete "Star Wars - o filme mais aguardado de todos os tempos".
Sabiam de nada esses inocentes!  

Em 19 de maio de 1999 estreava lá fora "A Ameaça Fantasma" e Ricky Nobre foi nossa voz fazendo a matéria para o número #1 da revista "Super Séries". A expectativa para o que viria era grande, tal qual está sendo hoje (Só não tínhamos MEMES e fotinha com sabre de luz em rede social para poder expressar tal euforia). 



Aqui está, então, a matéria interna escrita pelo Ricky e publicada na época
(E mais abaixo o texto original que saiu na revista)


MATÉRIA publicada em Super Séries #1 (1999): 
Star Wars é um fenômeno. Ao contrário de outras imensas e ramificadas séries de cinema e TV (que encontrou extremos na multimídia Star Trek), George Lucas conseguiu com apenas três filmes e a mera promessa de outros seis construir a grande mitologia do século XX e, de quebra, um império de alguns bilhões de dólares. 
Dezesseis anos após o término da trilogia 2, Lucas finalmente nos trás a aguardada trilogia 1, carregando nas costas o imenso desafio de tornar interessante uma história da qual todo mundo já sabe o fim. É claro, não estamos esquecendo os romances e as séries em quadrinhos que compõem a cronologia oficial de Star Wars, mas eles não passam de azeitonas em meio ao banquete do universo de Lucas e da fome dos fãs. O aperitivo veio na forma dos special editions dos filmes anteriores, onde Lucas, munido da mais moderna tecnologia, consertou um monte de coisas de que ele não gostava. O relançamento desses filmes que todo mundo já tinha visto literalmente dezenas de vezes rendeu uma verdadeira fortuna, confirmando a sobrevivência do interesse do público pela série e dando a largada para a nova empreitada de três novos filmes a serem lançados até 2005. Lucas volta à direção, cargo que não exercia desde o primeiro filme da série, mas chegou a dizer que entregaria os demais filmes a outros diretores. Recentemente ele não tem tocado no assunto. 
Mas o que esperar dos novos filmes de Star Wars? Bem, se uma coisa é garantida, é o espetáculo áudio-visual. Nunca um filme foi tão “especialmente enfeitado” como este Episódio I. Segundo Lucas, 95% do filme é digital, pois em quase todas as cenas, mesmo que não exibissem efeitos rebuscados, alguma coisa foi adicionada ou retocada digitalmente. O filme também inaugura o novo sistema de som Dolby Digital Surround EX, que adiciona um canal no teto do cinema. O trabalho de concepção do filme começou muito antes das filmagens, quando, após terminar o roteiro, Lucas dividia seu tempo entre diversos artistas que criavam e desenhavam armas, naves, prédios e criaturas. Doug Chiang, o designer principal da equipe, tinha cerca de 6 novas coisas para criar toda semana e criava 4 ou 5 opções para cada uma, chegando a fazer até 40 desenhos por semana. Ele lembra desta fase: “Era um pouco frustrante, pois eu passava a semana toda desenhando todas aquelas opções e em 15 segundos Lucas escolhia seus preferidos”. Ele diz ter criado literalmente “milhares de coisas” para este filme. A desenhista Terryl Whitlatch, formada em zoologia, criou belíssimos desenhos de estranhos animais imaginários que serviram de base para várias criaturas do filme. 
Com os desenhos prontos o trabalho passou para os escultores, que criaram modelos em argila do que viria a ser reconstruído em computador, enquanto os diretores de arte e decoradores construíam os objetos de cena. Os figurinos são um espetáculo à parte. Lucas determinou que a Rainha aparecesse em cada cena com uma roupa diferente. A equipe de estilistas saiu com uma mistura de Rainha Elizabeth com estilos tradicionais japoneses, numa suntuosidade que saiu até na revista Vanity Fair. A roupa que a rainha usa na Sala do Trono foi toda feita a mão por uma única mulher durante um mês inteiro, trabalhando seis dias por semana, dez horas por dia. As filmagens tiveram seus contratempos, como a tempestade que arrasou os sets de filmagem no deserto da Tunísia – o que Lucas considerou um bom sinal, já que a mesma coisa aconteceu nas filmagens de Guerra nas Estrelas. Dos seis sets apenas um sobreviveu. O cronograma foi rapidamente modificado e as filmagens foram transferidas para lá enquanto os demais eram reconstruídos. 
O som do filme ficou a cargo do lendário Ben Burtt, que cunhou o termo sound designer e estava entre os garotos que tiveram sua primeira chance no primeiro Star Wars, em 1977. Usando os mais inusitados elementos, ele cria sons que realmente parecem de outro planeta, mesmo que o som de Jabba se movendo seja apenas um monte de toalhas molhadas dentro de um saco de lixo e os motores da grande corrida no novo filme sejam um barbeador elétrico dentro de uma forma de bolo. Quanto à história, Lucas nos dá as raízes de seu conto de fadas interplanetário, do Império e seus heróis e vilões. A nova trilogia promete acompanhar passo a passo a transformação de Anakin Skywalker em Darth Vader e detalha como a Aliança de Comércio aliou-se a membros do Senado para dar o golpe que originaria o terrível Império Galáctico. Esta aliança entre os poderios militar e monetário e os maiores representantes do “lado negro da força” cria uma dualidade dentro do Império, totalmente evidente na cena da reunião na Estrela da Morte em Guerra nas Estrelas (“Acho perturbadora sua falta de fé.”). 
Para dar vida a esses novos velhos personagens, Lucas se deu ao luxo de contratar algumas estrelas, coisa com que ele não podia arcar no primeiro filme com seu minúsculo orçamento. Liam Neeson é o mestre Jedi Qui Gon, Ewan McGregor é o jovem Obi Wan Kenobi e a estrelinha em ascensão Natalie Portman é a Rainha. Ian McDiarmid, que nos deu uma extraordinária interpretação como o Imperador em O Retorno de Jedi, volta como o senador Palpatine antes de dar o golpe. Frank Oz novamente interpreta e manipula o mestre Yoda, numa surpreendente decisão de Lucas de manter uma marionete no meio de uma verdadeira avalanche de criaturas em CG (computação gráfica). Além disso, Lucas ainda deu um jeito de colocar os amados e babados andróides C3PO e R2D2 e o asqueroso mafioso Jabba no meio da história. E ainda promete Boba Fett para o próximo filme. Tudo isso saiu a um custo de 120 milhões de dólares, 12 vezes mais que Guerra nas Estrelas, o que um dos melhores amigos de Lucas, Steven Spielberg, considera uma pechincha. “Se fosse eu que fizesse esse filme ele custaria quatro vezes mais”, referindo-se ao fato de que Lucas possui as duas empresas que seriam as maiores responsáveis pelo custo do filme, a Industrial Light and Magic, responsável pelos efeitos especiais, e a Skywalker Sound, responsável pelo som. Mas o que o público achou disso tudo? Apesar de ter decepcionado os analistas de Lucas e da Fox Film, Star Wars – Episode I – The Phantom Menace quebrou o recorde nos primeiros cinco dias de exibição, arrecadando mais de 100 milhões de dólares. 
A esperança dos executivos é a de que o filme bata o recorde mundial de Titanic, que somou 1,2 bilhão de dólares. Na internet se consegue achar opiniões divididas: uns adorando o filme, outros achando um verdadeiro lixo. Entre os defeitos, alguns apontam o excesso de efeitos especiais e o insuportável Jar Jar, personagem que promete ser mais chato que um Ewok. Estas reações, porém, são totalmente previsíveis para quem ficou 27 horas (ou duas semanas) na fila do cinema, como ficaram muitos ansiosos fãs à espera da primeira sessão. O dia da verdade para o público brasileiro é 24 de junho, quando nós poderemos saber se nossos sonhos de criança resistem ao tempo, ao dinheiro e ao circo da mídia. 
(Ricky Nobre)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Contagem progressiva para Star Wars. Episódio de hoje: O IMPÉRIO CONTRA ATACA

por Ricky Nobre


Peço licença para iniciar este post da mesma forma que o anterior. Pois, definitivamente, não existe forma de dizer isso que não seja direta: O Império Contra Ataca é um filme PERFEITO.

Pensar sobre o Episódio V nos força a um caminho semelhante ao feito no post anterior sobre o quarto episódio, porém numa amplitude mais restrita. Explicando: a dimensão e o impacto deste episódio à época de seu lançamento diferem dessas mesmas características no âmbito de sua apreciação dentro da cronologia da saga. Entretanto, ao contrário do Episódio IV, não difere em qualidade, mas sim no que tange a quais características o tornam... enfim, perfeito.

"A Força é forte com você, jovem Skywalker. Mas você ainda não é um jedi."

Ao ser lançado, continuações não costumavam ser tão intimamente ligadas aos filmes anteriores. A série 007 não possuía rigorosamente conexão alguma entre os filmes. Planeta dos Macacos era repleta de furos e os filmes conectavam-se muito mal. O Império Contra Ataca (1980) surgiu fluindo com perfeição de seu antecessor. E mais: não era um mero derivativo do original. Era uma história bem diferente, rica e mais profunda (o que é raro até hoje em dia). Toda a simplicidade e inocência que foram o grande trunfo de Guerra nas Estrelas levaram um severo golpe, como que obscurecidos pelo manto do lado negro. Mais do que o choque dramático (já suficientemente poderoso), a revelação de Vader a Luke sepulta a percepção definida e inquestionável da oposição bem x mal. O horror de Luke é o nosso. O que acreditávamos não existe mais, nunca existiu.

"Ajudaria se eu descesse para empurrar?"
"É possível."

O choque foi também estético. Além do estilo sombrio da fotografia, a qualidade dos efeitos especiais melhorou drasticamente em apenas três anos (mais que o triplo do orçamento do primeiro filme certamente ajudou). Reflexo de tudo, a música de John Williams foi ainda melhor, incrivelmente rica em temas. E talvez o mais chocante de tudo: EXCELENTES DIÁLOGOS!

"Você gosta de mim porque eu sou um canalha. Não existem muitos canalhas na sua vida".

Toda essa drástica diferença do anterior tem um motivo bem definido. Lucas sofreu muito com a iminência de perder o controle sobre seu filme quando produziu Star Wars, tendo, inclusive, que colocar um milhão de dólares do próprio bolso (que era todo o dinheiro que ele tinha no mundo) para conseguir completar o filme. Quando este se tornou a maior bilheteria de todos os tempos, a Fox logo convidou Lucas a realizar a sequência. Este, porém, estava decidido a não se submeter mais a estúdio algum e a produzir o filme de forma independente e para isso precisava conseguir financiamento bancário. No entanto, este esforço era incompatível com a vultosa tarefa de escrever e dirigir um filme. Com a história pronta, Lucas resolveu contratar um diretor e um roteirista. Irwin Keshner, que foi professor de Lucas na faculdade, assumiu a direção, com toda a sua experiência com filmes mais intimistas e seu talento para direção de atores. Leigh Brackett, renomada escritora de ficção científica, foi contratada para escrever o roteiro sobre a sinopse de Lucas. Ela conseguiu entregar uma primeira versão, porém faleceu logo após devido a um câncer. Lucas não ficou muito satisfeito com o resultado e escreveu mais duas versões. Lucas então passou para o então novato Lawrence Kasdan, que acabara de entregar o roteiro de Caçadores da Arca Perdida, que reescreveu tudo em seis semanas.

"Desculpas aceitas, Capitão Needa".

Sem tirar os inquestionáveis méritos de Lucas com a história e Kershner com a direção, principalmente com os atores, é o ouvido perfeito de Kasdan para diálogos que é o grande segredo do Episódio V. Kershner queria humor, mas que não fosse bobo ou exagerado. Queria romance, mas que não fosse meloso. Kasdan atendeu à perfeição. C3PO nunca foi tão engraçado e, mesmo assim, ele nunca "sobra" no filme. Os diálogos rápidos e afiadíssimos entre Han e Leia lembram as antigas comédias românticas dos anos 50 (com um toque de Billy Wilder). Yoda é um verdadeiro sábio e as palavras que saem da boca da marionete criada, manipulada e interpretada pelo veterano dos muppets Frank Oz soam como verdades cósmicas para o público. Aliás, um tributo honradíssimo deve ser prestado a Oz. Seu Yoda marionete é mais simpático, sábio, crível, sereno e "humano" do que sua contraparte digital nos prequels (que, sejamos justos, ficou muito boa). E o motivo da marionete de Ameaça Fantasma ter ficado tão ruim é um absoluto mistério.


O ritmo é perfeito. A verdade emocional dos personagens é perfeita. O senso de drama é perfeito. A ação é perfeita. A voz de Vader não estava apenas muito melhor equalizada, não dando mais a impressão de vir de dentro de uma lata como no filme anterior, mas de todo lugar, de todo o império, de dentro do seu mais intimo temor do que ele pode fazer com você. James Earl Jones estava perfeitamente dirigido, com os mais perfeitos diálogos, com as atitudes mais assustadoras. Kasdan CRIOU Vader como o conhecemos. Vader não é mais um capanga de luxo. Ele é O vilão mais phoda do cinema! E também não podemos esquecer a extrema ousadia para a época que foi terminar um filme deste porte com um gancho, mais uma vez referenciando os antigos seriados de cinema. 

"Pois minha aliada é a Força, e que poderosa aliada é ela! A vida a cria, a faz crescer. Sua energia nos envolve e nos une. Seres luminosos nós somos, não esta rude matéria. Você precisa sentir a Forca em torno de você."

Voltando à ideia do início do texto, o filme sofre mudanças na percepção que se tem dele ao ser assistido na sequência dos eventos, sob a luz dos prequels. Muitos defendem assistir a saga na ordem de produção para não tirar o impacto da revelação de Vader a Luke. Porém, uma visão mais cuidadosa revela uma contrapartida interessantíssima para quem já começa o filme sabendo do parentesco dos personagens. A expectativa do público é como ele vai descobrir. Ele entende a preocupação de Yoda e Obi-Wan. Ele entende o perigo que é para Luke enfrentar Vader despreparado. Ele percebe a iminência da revelação e se inquieta, fica na ponta da cadeira. Como um recurso hitchcockiano, o público sabe de tudo que o protagonista não sabe e teme por ele, quer gritar para a tela "cuidado, Luke! Ouça Yoda! Você corre grande perigo!". Sem preparo, com tão pouco treinamento, Luke seria presa fácil para o lado negro quando descobrisse a verdade. Mesmo assim, sabe que ele DEVE ir salvar seus amigos. A grande pergunta que inquieta o público é: terá ele o mesmo destino do pai? Não podemos esquecer a absoluta tragédia que foi o desfecho do Episódio III, principalmente para o público que não sabe o que vem adiante. Palpatine deu seu golpe de estado e criou o Império. Todos os jedis foram massacrados. O herói da série foi queimado, mutilado e transformado num quase ciborgue, agora do lado do vilão. O máximo que foi possível salvar foram DOIS jedis e os gêmeos de Padme. Apenas isso! Quando vemos o depressivo final, com Luke com mão decepada e com uma horrenda revelação sobre os ombros, Han Solo congelado e levado até Jabba, o público mais jovem pensa: "oh não, está acontecendo tudo de novo! Eles vão todos morrer!"

"Luke, você pode destruir o Imperador. Ele previu isso. É o seu destino. Una-se a mim e juntos governaremos a galáxia como pai e filho!"

Outra grata surpresa é, mais uma vez, Vader. O Anakin apresentado nos episódios II e III (este último principalmente) é perfeitamente reconhecível. O que foi apenas um relance no episódio IV (veja na resenha anterior sobre a cena da "falta de fé"), aqui é constante. A presença de Anakin é real, assim como seu desejo de trazer o filho para seu lado, dando um golpe no Imperador.

 "É claro que eu já estive melhor!!"

Este foi o filme que menos sofreu com as mudanças do special edition de 1997, que foram, em sua grande maioria, estéticas. Apesar de desnecessárias, em nada atrapalharam. Em 2004, Ian McDiarmid substituiu a esposa do maquiador Rick Baker na breve aparição do Imperador, substituição, honestamente, bem vinda. O diálogo, porém, sofreu ligeira mudança, onde Vader se mostra surpreso com a informação do Imperador de que Luke é filho de Anakin. Pode ser uma alusão ao fato de que no episódio III Vader acredita que o filho morreu com Padme. Mas como Vader já começa o filme numa busca ferrenha por Luke, talvez ele tenha apenas dissimulado, escondendo seu plano de tomar o poder do imperador e assumir Luke como aprendiz. Afinal, é assim que os Sith agem.

"É mais fácil eu beijar um wookie!"
"Eu posso arranjar isso!"

Mesmo que no episódio seguinte Lucas tenha escrito junto a Kasdan novamente e outro diretor tenha sido contratado, O Império Contra Ataca é o filme da saga que menos teve participação e decisões diretas de Lucas. E é o mais adorado pelos fãs. É evidente que Lucas não aceita isso muito bem. Seu apego ao ego, a recusa à parceria criativa na criação dos prequels sugerem que ele está mais interessado em ter os méritos do resultado para si (mesmo que sejam ruins) do que garantir a qualidade do trabalho. Afinal, Lucas passou mais de 20 anos apenas atuando como produtor e, ironicamente, o cineasta criativo que abandonou o sistema de estúdios para não ter seu trabalho prejudicado por produtores sem visão criativa tornou-se um produtor que acredita que a qualidade é ditada pelas bilheterias. Tendo se tornado um gigante poderoso em Hollywood, Lucas cercou-se equipes externamente competentes, mas também de bajuladores. Não existe ninguém para chegar até ele e dizer "isto está ruim".


A importância de O Império Contra Ataca para a saga é incalculável, principalmente para as gerações mais antigas que cresceram com a trilogia original. Toda a percepção do que é excelente em Star Wars vem das magníficas qualidades deste episódio e, em consequência, toda a severa exigência que os fãs mais radicais tem em relação a todos os demais filmes nasceu desta sensação de momento perfeito que se tem ao terminar de assistir a um dos melhores filmes de ficção científica e aventura já feitos.

SUPER -HERÓIS BRASILEIROS; O Judoca


Por Gabriel Maia

O Judoka
Antes de Daniel Larusso sair golpeando valentões com lendários chutes, Carlos da Silva era quem sofria nas mãos de brigões até conhecer Shiram Minamoto, que lhe ensinou sobre o judô. Sim era a versão do senhor Miyagi.
O judoca foi criado em 1969, lá pela época da ditadura militar e tinha como característica o forte patriotismo (deve ter sido um dos motivos pelo qual os militares deixaram ele de lado na censura).
Quando Carlos e sua namorada Lúcia se tornaram judocas fizeram o que qualquer um faria; foram surrar bandidos usando uniformes legais. 

(Você não faria? Poxa...até o Bruce Wayne fez, ele foi lá, aprendeu a bater e arrumou uns brinquedos)
O sucesso foi tanto que ganhou até live-action nos anos 70.




terça-feira, 15 de dezembro de 2015

TOP 5 MELHORES PARÓDIAS DE STAR WARS



por Renato Rodrigues
Graças ao sucesso da primeira trilogia nos anos 70/80, Star Wars está no inconsciente coletivo de toda uma geração. Mesmo quem não viu os filmes SABE quem é Darth Vader ou reconhece os dois robozinhos da saga. Selecionei 5 sátiras e homenagens aos filmes, se lembrar de mais, coloca aí nos comentários:


A PRINCESA E O ROBÔ
George Lucas, esperto, lançou Guerra nas Estrelas em 1977. Mauricio de Sousa, mais esperto, fez um longa em 1983 levemente baseado na saga galática levando a Turma da Mônica para seu segundo filme nas telonas. Lembre-se, era um tempo em que a gente só via desenho da Mônica no Natal (Feliz Natal pra tooodos) então poder ver um longa dela no cinema era como ter um lugarzinho no Céu. Veja aí o trailer:


 

MUPPET BABIES
O desenho que passava no Show Maravilha no SBT trazia o humor afinado dos Muppets em bem boladas sátiras de cinema e, claro, teve um episódio zoando a saga estelar. Veja um pedacinho dublado com a voz inconfundível do Silvio Navas (que fazia o Vader nas dublagens dos filmes também na época, e que hoje foram desgraçadamente redublados)

 

SPACEBALLS
Em 1987, Mell Brooks se aventurou em fazer "S.O.S - Tem um louco solto no espaço", um filme zoando várias franquias de ficção científica e o carro chefe era um certo império galático e seu mais sinistro general: Lorde Capacete (Ricky Moranis).

 

UMA FAMÍLIA DA PESADA
Seth MacFarlane fez sua homenagem em três episódios especiais de Famliy Guy sacaneando os três filmes dos anos 80 e são tão cáusticos (e engraçados) que eu tenho medo até de rever. É tipo os Honest Trailers... destroem tudo o que tocam, sabe?



OS TRAPALHÕES NA GUERRA DOS PLANETAS
Por último, aquele que eu vi primeiro: E vi no Cine Baronesa, muito antes de sequer saber o que era Star Wars. Essa tosquera que eu adoro até hoje (Tenho o DVD, me julguem!) levada ao cinema em 1978 (Seria a primeira sátira mundial de Star Wars? Veja você o pioneirismo do Renato Aragão!) foi o décimo terceiro filme dos Trapalhões (E o primeiro com o Zacarias).

O filme foi uma co-produção da Globo e Renato Aragão Produções e, para baratear os "efeitos especiais", foi filmado em videotape  e posteriormente enviado aos EUA para ser ampliado em 35 mm. Isso tudo nas coxas pois a legislação considerava ilegal o envio de material ao exterior. Mas quem ligava? Eu tinha 6 anos e ri pra dedéu com os tombos e brigas falsas em câmera lenta, ignorando o roteiro inexistente, a trilha sonora repetitiva e os efeitos sofríveis. Coitado do meu pai que teve que ir comigo ver isso no cinema, kkkk...

Destaque para o Mussum vendo a nave pousando e gritando "Uma tartaruga voadoris!!!". 

 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

TRAILER DO NOVO STAR TREK: SEM FRONTEIRAS... ou algo parecido



por Renato Rodrigues
Vê aí que depois a gente conversa sobre...



Tipo... Deixa eu tentar colocar em palavras o que pensei durante as horas entre eu ter visto o trailer pela manhã e a minha postagem agora a tarde: Eu gostei MUITO do primeiro filme desta nova franquia rebootada. Também gostei (com restrições) do segundo filme e verei esse terceiro independente do trailer parecer um blockbuster qualquer de verão e não uma aventura da mais famosa tripulação da ficção científica da TV/Cinema.

Vou apontar então um viés positivo nele: Numa época em que os trailers estão resumindo tudo o que acontecerá no filme (como foi em "Vingadores 2" e "Batman vs Superman") ver um trailer que não conta nada sobre a história é até um alívio. 

Infelizmente não deixa nenhuma lacuna do tipo QUE? COMO? POR QUE? PRECISO VER!

Mas sejamos sinceros... Mesmo que o trailer mostrasse apenas a tripulação comendo mariola eu iria querer ver assim mesmo. Por que? Porque é JORNADA NAS ESTRELAS!!!

É cover, mas é!



Será que vai passar antes do novo Guerra nas Estrelas?

domingo, 13 de dezembro de 2015

Contagem progressiva para Star Wars. Episódio de hoje: UMA NOVA ESPERANÇA

por Ricky Nobre

 

Não há outra forma de dizer isso, além de bem direta: Star Wars é um verdadeiro clássico do cinema. Assim como os contemporâneos e amigos pessoais de Lucas criaram na década de 70 clássicos inquestionáveis, como Spielberg com Tubarão, De Palma com Carrie, Scorcese com Taxi Driver e Coppola com O Poderoso Chefão, ele criou Star Wars ou, como os brasileiros acima dos 40 conhecem, Guerra nas Estrelas. Se hoje ele não é percebido desta forma, a culpa é do próprio criador. Ao alterar sistematicamente o filme desde 1997, com mudanças menores em 2004 e 2011 (da mesma forma com os dois filmes seguintes), George Lucas, em sua busca por diminuir o abismo técnico e estético com a trilogia prequel, foi descaracterizando seu trabalho, tola e inutilmente tentando esconder que se tratava de um filme produzido em 1977, descontextualizando-o do momento histórico altamente relevante pelo qual Hollywood passava naquela década.




O desejo de Lucas de tornar a saga uma experiência capaz de ser apreciada como uma história única, do episódio I ao VI, não apenas o levou a intermináveis alterações, mas modificou também a percepção do público. Espremido entre os excelentes episódios III e V, Uma Nova Esperança (como foi rebatizado em 1981) tem seu frescor e extraordinária originalidade diminuídos e ofuscados. E era isso que Guerra nas Estrelas era originalmente: um filme maravilhosamente simples, divertido e, pela forma como reciclou tudo que veio antes dele, novo!



Desde fins da década de 60, a cultura ocidental foi bombardeada por uma enorme descrença nos governos, desesperança no futuro e cinismo diante da realidade. O cinema e as artes em geral refletiam isso. O simplismo maniqueísta bem x mal já não convencia ninguém. Os finais felizes não apenas deixaram de ser uma regra como passaram soar como uma mentira. Filmes como Chinatown, Um Dia de Cão, Perdidos na Noite, Rede de Intrigas, Operação França e tantos outros pareciam sepultar o verniz otimista e moralista da Hollywood clássica.


Então, dois anos após o fim da guerra do Vietnã, fato que mudou radicalmente a percepção dos americanos em relação ao seu governo, aparece um conto simples sobre um rapaz fazendeiro, uma princesa guerreira, um contrabandista, um velho meio eremita meio mago e um vilão oculto numa armadura sinistra que ocuparam um lugar muito especial no imaginário do público. Um filme escapista de aventura e fantasia, com o bem e o mal muito bem definidos e inquestionavelmente separados. Um filme com forte apelo infantil, porém realizado com excelência tal que seria capaz de conquistar adultos sem esforço. E em vez de ser rechaçado por um público já entregue à desesperança e ao cinismo, foi calorosamente abraçado, como que libertando a todos de uma asfixia.


Não vamos entrar no mérito das dificuldades absurdas enfrentadas por Lucas na produção do filme. Basta dizer que, analisando todas as histórias escabrosas da produção, podemos dizer, sem nenhum medo de errar, que foi um absoluto milagre o filme ter ficado pronto. E mais miraculoso foi ter alçado o primeiro lugar em bilheteria mundialmente.


   
"E para de andar com seus amigos rebeldes maconheiros! Já pro seu quarto!"

Como todos sabem, esta pequena fatia da grande história de Star Wars foi escolhida para ser filmada primeiro pois Lucas acreditava que era a que melhor se adaptava para funcionar como um filme único. Ele sabia o que estava fazendo. Apesar de ter esse ambicioso plano de múltiplos filmes, ele procurou cativar o público com uma história mais simples, direta que pudesse começar e terminar de forma independente. Lucas sempre soube ganhar dinheiro.



Porém, uma vez que estamos nessa série de postagens analisando a saga em ordem cronológica da história, como de fato é este Episódio IV e como ele se conecta com os anteriores? Sendo honesto, muito bem em alguns momentos, muito mal em outros.



O grande problema deste filme assistido à luz da trilogia prequel é que o encanto de sua ingenuidade original, responsável por seu enorme carisma, se apaga, ofuscado pelo intenso drama do Episódio III e pela prévia perda de inocência do público, pois ele já sabe que bem e mal ali não são uma certeza definida, um estado permanente, inerente. Ver Darth Vader e saber que ali está Anakin Skywalker dá ao público de hoje uma dimensão talvez até mais condizente com o espírito dos anos 70, mas que o filme original, em seu estado puro, venceu e conquistou. De certa forma compreende-se perfeitamente os que preferem a trilogia original ser assistida antes dos prequels. Num macrocosmo, a escuridão da nova trilogia (primordialmente, o Episódio III), obscurece a inocência do Episodio IV. Em microcosmo, a analogia é perfeita. Tecnicamente, por mais que Lucas futuque obsessivamente a trilogia original e este filme em particular, o abismo técnico e estético é incontornável. Simplesmente aceitá-lo, por mais doloroso que possa ser para o criador, causaria menos danos. Ao afogar Mos Esley com figuras CGI, inclusive em tolas situações cômicas, torna os efeitos especiais e criaturas originais ainda mais datadas do que já são, tirando até um pouco da dimensão da absoluta maravilha que é o design deste filme e do testemunho histórico daqueles que foram, disparados, sem concorrência, os melhores efeitos especiais já vistos até aquele momento. Múltiplos são os depoimentos do impacto dos primeiros segundos de filme, com o destroyer imperial passando lentamente pela tela. Ninguém jamais havia visto nada parecido.


Exatamente da mesma forma, a história sofre. Apesar de ter a história na cabeça em linhas gerais, Lucas não pensou em tudo previamente. E ao escrever os prequels, não se importou com inconsistências. Ver Obi-Wan sem reconhecer R2D2 é absolutamente incompreensível para um espectador novo (o que só reforça o erro que foi insistir em pôr os androides nos prequels). Vader fica numa posição estranha, não parece ser "O" homem de confiança do imperador, mas um capanga de luxo (Leia chega a comentar sobre Tarkin "segurar a coleira de Vader"). Por outro lado, a super clássica fala "acho sua falta de fé perturbadora" e sua respectiva cena, cresce enormemente ao sabermos estar ali Anakin, inabalável em suas convicções, alertando a todos o quanto a arrogância tecnológica é "insignificante diante do poder da Força". Definitivamente, é a cena que mais se beneficia com os prequels.



Incontornável também é a tão esperada revanche entre Vader e Obi-Wan. A luta dos dois foi exatamente o que poderia ser em 1977, com um ator sexagenário e um fisiculturista numa armadura, sem nenhuma das facilidades atuais de CGI, que fizeram atores bem mais velhos tornarem-se mestres espadachins nos filmes mais recentes. Embora perfeitamente satisfatória para a época, a luta entre os dois torna-se um constrangedor anti clímax. Quem acabou de ver no filme anterior uma batalha épica, que parecia travada no próprio inferno, pode ter uma imensa decepção ao ver a revanche os antigos amigos. E isso não é culpa de ninguém. É simplesmente o que é. Entretanto, chama a atenção Obi-Wan chamando Vader de “Darth”, como se fosse um primeiro nome e não um título de um lorde Sith. Deixa claro que era uma parte da história que Lucas ainda não havia pensado.


Com tudo isso, podemos compreender também aqueles que preferem ver apenas a trilogia original, e sem nenhuma das alterações posteriores, algo que Lucas tenta evitar a todo custo. Em 2006 a trilogia original inalterada foi lançada finalmente em DVD, porem a partir de uma master feita em 1993, com qualidade técnica sofrível. Hoje já está fora de catalogo, mas dá pra achar nos torrents da vida, assim como as "edições desespecializadas" em que fãs reconstruíram as versões originais em excelente qualidade, num esforço hercúleo.



Star Wars chegou aos cinemas exatamente no momento certo para ser avidamente absorvida pela cultura pop, tornando-se mesmo uma parte essencial dela. É inquestionavelmente um trabalho muito pessoal de Lucas. Ali, ele forjou o mais perfeito amálgama de todas as suas influências como artista: os filmes de Kurozawa, os seriados de Flash Gordon e Buck Rogers, westerns, filmes sobre a segunda guerra mundial, e uma fascinação obsessiva pela obra de Joseph Campbell. E da mesma forma em que ele pegou toda essa cultura pré-existente e transformou em algo totalmente novo e original, John Williams fez exatamente o mesmo ao tomar o romantismo do século XIX, o estilo clássico dos compositores de Hollywood, morto e enterrado nos anos 70, e promover um renascimento das grandes trilhas sonoras sinfônicas, porém imprimindo-lhes modernidade. Esse foi o nível de compreensão de Williams sobre o que Lucas estava tentando fazer com Star Wars. Não é a toa que, na batalha sangrenta que foi cada fase da produção do filme, a música foi a único setor que não apenas não apresentou problemas e atingiu suas expectativas, como as superou.


  

Em ultima análise, com ou sem prequels, com ou sem novas cenas e efeitos CGI, com ou sem contexto histórico, o que permanece no episódio IV? Permanece uma história heroica, simples, engraçada, divertida, com visuais que impressionam quase 40 anos depois, música espetacular, elenco perfeitamente escalado, um vilão histórico e, como não podia faltar, alguns diálogos bem estranhos (como os atores viviam dizendo no set, “quem é que fala desse jeito?”).

E antes que se esqueça,



HAN SHOT FIRST!!!