quinta-feira, 9 de novembro de 2023

ALCATEIA NO FESTIVAL DO RIO 2023: DIA 13/10

FILME 15: O SABOR DA VIDA

O novo filme do cineasta vietnamita Tran Anh Hung tinha tudo para ser um sucessor legítimo de A Festa de Babete, obra prima de Gabriel Axel. O diretor nos introduz lentamente naquele ambiente e a câmera, sempre em movimento e muito suave, captura cada detalhe de cada prato, cada receita, como num ritual, de uma solenidade discreta do dia a dia, rigoroso e, ao mesmo tempo, leve. 

 

Tran Anh Hung leva um bom tempo até apresentar algo parecido com uma história. O essencial são aquelas pessoas e preciosidade que é o ato de cozinhar e reunir pessoas queridas. Eugenie, em seu brilhantismo, mantém a dificílima posição de ser cozinheira de um grande chef, Dodin, com quem também divide a casa, os dias e, por vezes, o quarto. Um arranjo que, para ela, é perfeito, e que a proposta de casamento de Dodin só arruinaria. 

 

Tran funde com suavidade e discrição a beleza do ritual da cozinha, a paixão pela culinária e as relações de afeto entre os personagens, tornando-os um. Por isso é incompreensível que Tran decida, a cerca de 40 minutos do final, matar seu filme. Tudo o que vem a seguir parece uma coisa sem rumo, e o desfecho tem uma impessoalidade tão morna que é como se o filme não soubesse como terminar e o fizesse por obrigação. O espectador fica como quem estava experimentando um banquete e tem seu prato roubado da mesa.

COTAÇÃO:


 

O SABOR DA VIDA (La passion de Dodin Bouffant, França – 2023)

Com: Juliette Binoche, Benoît Magimel, Emmanuel Salinger, Patrick d'Assumçao, Galatéa Bellugi e Bonnie Chagneau-Ravoire

Direção: Anh Hung Tran

Roteiro: Anh Hung Tran e Marcel Rouff

Fotografia: Jonathan Ricquebourg

Montagem: Mario Battistel

 

FILME 16: A FILHA DO PAI

O diretor Le Duc parece tentar traduzir o espírito da nouvelle vague para os dias de hoje, lançando mão de uma certa leitura maneirista. Essa estilização aposta no humor em sua primeira metade, acompanhando o pai que criou sua filha sozinho após o sumiço da esposa. A ausência dela parece completamente superada até que ele a identifica numa reportagem de TV e descobre onde ela está, tornando-se obsessivo em procurá-la. 

 

É um filme feito mais de bons momentos do que de uma unidade mais coesa, tanto em seu estilo de comédia meio amalucada quanto na virada meio brusca para um drama um tanto surreal. Uma vez que sua principal discussão é o questionamento na legitimidade em buscar o passado que aquela mulher representa, tanto para o pai quanto para a filha, o filme acerta muito em seu final, quando o protagonista sabe a hora certa de virar as costas, pois aquilo tudo não era exatamente sobre ele. A química perfeita entre os atores que interpretam pai e filha meio que segura tudo nos momentos mais frágeis.

COTAÇÃO:

 

A FILHA DO PAI (La Fille De Son Père, França – 2023)

Com: Nahuel Pérez Biscayart, Céleste Brunnquell, Maud Wyler, Mercedes Dassy, Mohammed Louridi, Camille Rutherford e Alexandre Steiger

Direção e roteiro: Erwan Le Duc

Fotografia: Alexis Kavyrchine

Montagem: Julie Dupré

Música: Julie Roué

 

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