sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

CHAMA A BEBEL

Por Ricky Nobre

Chama a Bebel é um filme que parece acreditar que a importância e relevância de seus temas o isentam de desenvolver todo o resto. Bebel é uma menina cadeirante de 15 anos que sai da casa onde mora com a mãe e o avô para morar com a tia, ficando perto de sua nova escola, onde é bolsista. Lá ela enfrenta o preconceito dos colegas elitizados, enquanto procura despertar consciência ambiental nos amigos e descobrir o que acontece na fábrica onde seu tio trabalha.

Supostamente mirando o público adolescente, o diretor Paulo Nascimento parece dialogar mais diretamente com o público infantil e, infelizmente, não de uma forma que valorize sua inteligência. Toda a “mensagem”, seja ambiental, seja anticapacitista, é não apenas completamente rasa, mas também transmitida de uma forma bem tatibitate. A decupagem é incrivelmente pobre e em certos momentos temos até a impressão de que a montagem teve dificuldade em juntar os pedaços. Existe, tanto pela pobreza da linguagem visual quanto pelos diálogos, uma constante sensação de série infantil do SBT, principalmente em seu maniqueísmo caricatural. É triste ver os ótimos Giulia Benite (a Mônica dos filmes recentes) e Gustavo Coelho desperdiçados num filme que parece projeto de alunos de segundo período. O único elemento que parece profissional é a fotografia que, apesar de padrão, valoriza bem as cores e dá um ar alegre, que combina com a protagonista. 

 

Não seria razoável esperar que um filme com esse perfil mais juvenil se aprofundasse em toda a complexidade dos assuntos que propõe. Mas o que o roteiro oferece mal arranha a superfície e, de fato o mais grave, não transforma a aventura de Bebel em algo verdadeiramente divertido ou emocionante. É um trabalho que grita amadorismo e desleixo desde a lógica dos acontecimentos até o básico da linguagem cinematográfica, e tudo é simplificado ao extremo. É constrangedor o quanto o diretor e roteiristas acreditam na absoluta incapacidade de seu público alvo em absorver questões e conflitos minimamente complexos. 

 

Por fim, a resolução completamente estabanada traz, surpreendentemente, uma visão minimamente realista e digna de discussão: o poder pode ser arranhado, mas não cai com tanta facilidade. A luta é longa. Mas todo esse conteúdo do qual o filme parece tão orgulhoso teria muito mais impacto se fosse traduzido em uma linguagem que, apesar de adequada ao público infanto-juvenil, não fizesse pouco de sua inteligência.

COTAÇÃO:


 

CHAMA A BEBEL (Brasil – 2024)

Com: Giulia Benite, Antônio Zeni, Gustavo Coelho, Flor Gil, Larissa Maciel, Flavia Garrafa, Sofia Cordeiro, José Rubens Chachá e Rafa Muller

Direção: Paulo Nascimento

Roteiro: Paulo Nascimento e Ricky Hiraoka

Fotografia: Renato Falcão

Montagem: Marcio Papel

Música: Silvio Marques

Direção de arte: Eduardo Antunes

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