Fazer o público rir é uma das qualidades do filme Pobres Diabos, de Rosemberg Cariry. Mas é difícil não sair dele com certa tristeza, com um nó na garganta. Isso porque o filme fala de Brasil e, em particular, de arte popular brasileira. A sensação de abandono e frustração parecem inevitáveis.
Uma trupe de
circenses cruza o nordeste brasileiro à procura de lugares para se
apresentarem. Sempre "no vermelho", não podem arcar com aluguel de
terrenos próximos à cidade, então acabam montando o circo num terreno distante,
onde a busca por público é bem mais difícil. Em meio à escassez e o amor à
arte, o dono do circo, o palhaço, a cantora mexicana falsa, a menina que está
aprendendo o ofício e todos os demais artistas continuam resistindo, cruzando a
pequena cidade do sertão chamando público, ensaiando, e dividindo um ovo cozido
e uma caneca de leite de cabra.
Pobres Diabos
não é nem muito original nem muito profundo em sua análise e crítica social,
mas não parece ser esse seu objetivo. O filme sugere uma inadequação de uma
manifestação cultural do calibre de um circo itinerante dentro dos desejos e
repertório de entretenimento do povo simples de hoje, como parece sugerir a
obsessão por novela da própria Creusa, cantora do circo, que não aguenta mais
aquela pobreza. Os poucos espectadores que o circo consegue trazer, porém,
parecem gostar bastante do que veem, e o filme parece querer estabelecer que o
circo, assim como as tradicionais manifestações culturais populares, não
envelheceram, mas tem cada vez mais dificuldade de atrair seu público.
Ainda assim,
o anacronismo do circo tradicional é discutido, seja no leão morto de fome a
tempos, com sua presença forjada através de uma gravação de seu rugido, seja
através do misterioso membro da trupe que, mascarado, tenta libertar os
animais, como os gatos que virarão churrasquinho para ser vendido, ou a galinha
que dá o ovo diário que os dois palhaços dividem. Na mesma medida em que a
exploração do povo é denunciada e criticada através de um espetáculo que mostra
o cangaceiro Lamparina dando um golpe no inferno, encenado por eles, o
justiceiro misterioso denuncia a exploração sofrida pelos animais no circo, numa
ação que pode selar o destino da trupe.
O filme foi
produzido em 2013, viajou pelos circuitos de festivais, mas só agora ganha seu
lançamento comercial. Em meio a piadas sobre as dificuldades que o grupo passa
e muitas sobre infidelidade (um tanto onipresentes), e diálogos e situações às
vezes mais, às vezes menos inspirados, Pobres Diabos mostra um Brasil que é carente
em muitos aspectos, mas que é rico em esperança.
POBRES DIABOS
(2017)
Com: Everaldo
Pontes, Sílvia Buarque, Chico Díaz, Sâmia Bittencourt, Gero Camilo, Georgina
Castro e Everaldo Pontes.
Roteiro e
direção: Rosemberg Cariry
Fotografia: Petrus
Cariry
Montagem: Petrus
Cariry e Rosemberg Cariry
Música: Herlon
Robson
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