quinta-feira, 6 de julho de 2017

OS POBRES DIABOS

Por Ricky Nobre


Fazer o público rir é uma das qualidades do filme Pobres Diabos, de Rosemberg Cariry. Mas é difícil não sair dele com certa tristeza, com um nó na garganta. Isso porque o filme fala de Brasil e, em particular, de arte popular brasileira. A sensação de abandono e frustração parecem inevitáveis. 


Uma trupe de circenses cruza o nordeste brasileiro à procura de lugares para se apresentarem. Sempre "no vermelho", não podem arcar com aluguel de terrenos próximos à cidade, então acabam montando o circo num terreno distante, onde a busca por público é bem mais difícil. Em meio à escassez e o amor à arte, o dono do circo, o palhaço, a cantora mexicana falsa, a menina que está aprendendo o ofício e todos os demais artistas continuam resistindo, cruzando a pequena cidade do sertão chamando público, ensaiando, e dividindo um ovo cozido e uma caneca de leite de cabra. 


Pobres Diabos não é nem muito original nem muito profundo em sua análise e crítica social, mas não parece ser esse seu objetivo. O filme sugere uma inadequação de uma manifestação cultural do calibre de um circo itinerante dentro dos desejos e repertório de entretenimento do povo simples de hoje, como parece sugerir a obsessão por novela da própria Creusa, cantora do circo, que não aguenta mais aquela pobreza. Os poucos espectadores que o circo consegue trazer, porém, parecem gostar bastante do que veem, e o filme parece querer estabelecer que o circo, assim como as tradicionais manifestações culturais populares, não envelheceram, mas tem cada vez mais dificuldade de atrair seu público. 


Ainda assim, o anacronismo do circo tradicional é discutido, seja no leão morto de fome a tempos, com sua presença forjada através de uma gravação de seu rugido, seja através do misterioso membro da trupe que, mascarado, tenta libertar os animais, como os gatos que virarão churrasquinho para ser vendido, ou a galinha que dá o ovo diário que os dois palhaços dividem. Na mesma medida em que a exploração do povo é denunciada e criticada através de um espetáculo que mostra o cangaceiro Lamparina dando um golpe no inferno, encenado por eles, o justiceiro misterioso denuncia a exploração sofrida pelos animais no circo, numa ação que pode selar o destino da trupe. 


O filme foi produzido em 2013, viajou pelos circuitos de festivais, mas só agora ganha seu lançamento comercial. Em meio a piadas sobre as dificuldades que o grupo passa e muitas sobre infidelidade (um tanto onipresentes), e diálogos e situações às vezes mais, às vezes menos inspirados, Pobres Diabos mostra um Brasil que é carente em muitos aspectos, mas que é rico em esperança.


POBRES DIABOS (2017)

Com: Everaldo Pontes, Sílvia Buarque, Chico Díaz, Sâmia Bittencourt, Gero Camilo, Georgina Castro e Everaldo Pontes.

Roteiro e direção: Rosemberg Cariry          

Fotografia: Petrus Cariry

Montagem: Petrus Cariry e Rosemberg Cariry

Música: Herlon Robson

COTAÇÃO: 

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