Por Ricky Nobre
Em 1976, o cantor e compositor Belchior mostra para Elis Regina sua nova música “Como Nossos Pais”. Elis pede para poder gravar a música primeiro, antes do próprio Belchior, e a gravação é lançada naquele mesmo ano no álbum Falso Brilhante. Além de ser um tapa na cara em cada verso e uma das interpretações mais magistrais de Elis, “Como Nossos Pais” lamenta a derrota de uma geração. A luta armada contra a ditadura militar brasileira estava completamente perdida. “Por isso, cuidado, meu bem / Há perigo na esquina / Eles venceram / E o sinal está fechado pra nós / Que somos jovens”. Naquele mesmo ano, porém, um grupo de jovens da USP estava forjando uma nova forma de lutar.
A tendência estudantil Liberdade e Luta (LIBELU, numa apropriação da forma jocosa como outros grupos se referiam a ela) surgiu a partir de uma organização clandestina, a OSI (Organização Socialista Internacionalista), mas tomou rumos próprios quanto à forma de atuação. Sua postura irreverente, com festas embaladas a rock, pode ser lida hoje, talvez, como uma gênese da hoje considerada “esquerda festiva”. Era muito mal vista por seus pares, mas se espalhou, tomou força e foi capaz de resgatar e pôr de volta na boca do povo o grito “abaixo a ditadura”, silenciado após o AI-5 em 1968.
O diretor Diógenes Muniz diz que o tema lhe chamou a atenção quando descobriu um poema que Leminski havia dedicado ao grupo: “Me enterrem com os trotskistas / na cova comum dos idealistas / onde jazem aqueles / que o poder não corrompeu.” A partir daí, Diogenes traz para a tela diversos ex membros do Libelu 40 anos depois de sua dissolução e, além de remontar todo o histórico do grupo a partir dos depoimentos, investiga o que o tempo fez com esse idealismo, quão incorruptíveis e sonhadores permaneceriam. As entrevistas, todas realizadas numa sala do prédio da FAU-USP, trazem nomes como Demétrio Magnoli, Paulo Moreira Leite, Markus Sokol, Fernanda Pompeu e Reinaldo Azevedo, de uma lista de 20 entrevistados, que já mostra os caminhos díspares que cada um seguiu.
O grande feito do documentário Libelu é resgatar a herança do grupo para além da imagem de “doidões da faculdade”, estabelecendo um lugar claro de luta em um momento onde esta parecia perdida. E tão importante quanto o papel do Libelu na volta das passeatas e grandes manifestações contra a ditadura é também a importância que o grupo teve na vida de cada um dos entrevistados e como essa vivência se reflete em sua vida pós faculdade e em suas visões políticas atuais. O diretor deixa clara a importância que dá ao próprio espaço universitário ao apresentar a entrevista de Palocci, concedida quando este estava em prisão domiciliar (entrevista, aliás, de inesperada sinceridade), onde parte dela é exibida em um telão na mesma sala onde todos os demais entrevistados gravaram seus depoimentos. Ele faz questão de pô-lo ali, no mesmo nível de todos. O filme também não se furta a tratar de temas delicados, como o racismo dentro da esquerda.
Vencedor do prêmio de melhor documentário nacional no Festival É Tudo Verdade 2020, Libelu é uma viagem pelo histórico da luta contra o regime militar, pelos sonhos de juventude e pelos pedaços que vão ficando pelo caminho. Os ecos que ressoam na realidade política brasileira de hoje são inevitáveis.
COTAÇÃO:
CALENDÁRIO DE LANÇAMENTO
13/05 – Lançamento nos cinemas
27/05– Entra em cartaz no TvoD (NOW, Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes, Apple TVe Youtube Filmes)
20/07 - Estreia no Canal Brasil
Agosto - Estreia na Globonews
LIBELU: ABAIXO A DITADURA, 2020.
Direção e Roteiro DIÓGENES MUNIZ
Produção Executiva LETÍCIA FRIEDRICH
Direção de Fotografia FÉLIX LIMA
Montagem ANDRÉ FELIPE
Trilha Sonora Original SAMUEL FERRARI, TIAGO JARDIM
Produtores LETÍCIA FRIEDRICH e LOURENÇO SANT'ANNA
Produção: Boulevard Filmes em coprodução com Globo Filmes, Globonews e Canal Brasil
Um comentário:
Gente... Como assim não sabia desse filme... #partiu
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