Por Eddie Van Feu
A história contada por Vitor Hugo representando uma
sociedade em colapso de fome e pobreza do século XIX ressurge com um elenco
jovem e uma amarga sensação de familiaridade com o tempo presente.
Se você não leu o livro homônimo de Vitor Hugo, certamente já viu ou ouviu falar do musical da Broadway que vem se tornando um dos maiores sucessos na história dos musicais ao longo de sua carreira. No Brasil, tivemos a montagem oficial em São Paulo em 2001, que eu nunca me perdoei por perder, pois estava em São Paulo nessa época trabalhando nos eventos de anime, vendendo nossos mangás e tudo o mais. Felizmente, em 2017 eu tive uma nova oportunidade e me emocionei com a beleza e perfeição do espetáculo de quase três horas. Fiquei imaginando quando poderia ver de novo. Me contentei revendo o filme e a mini série com Gerard Depardier.
E numa surpresa boa (porque parece que somos
constantemente alvejados no Rio com surpresas ruins), descubro que Les Mis está
no Rio! Não a versão oficial, mas a versão teen. Com um orçamento mais modesto,
a mesma letra em Português de Cláudio Botelho, Les Mis chega com uma nova
geração para contar uma história eterna.
A duração é menor e há um intervalo para quem precisar
fazer um rápido xixi ou esticar as costas. Fiquei imaginando quais músicas não
entrariam para que a versão carioca fosse mais curta. A resposta é NENHUMA!
Todas as canções estão lá, interpretadas com todo o talento que se pode
esperar. O que a torna mais curta são cenas que foram simplificadas e tornadas
mais ágeis, por falta dos recursos pirotécnicos que a versão de São Paulo
oferecia.
Mas que isso não desanime o espectador! Deixe-me contar um
pouco mais para você saber o que esperar.
Apesar da foto emblemática que representa o musical ser a
menininha Cosette, a história começa e termina com Jean Valjean, homem que
cumpre uma pena cruel por ter roubado um pão para o filho pequeno da irmã. Estamos
numa França pós Revolução que não mudou muito. Seus miseráveis continuam trabalhando
em condições inumanas, por migalhas que não conseguem sustentá-los. A Lei, dura
e cega, é representada pelo oficial Javert, que não vê nada além da lei que
deve cumprir. É ele quem presencia Jean Valjean quando este cumpre sua pena e o
sentencia a nunca ser nada mais do que um ladrão. Valjean não cumpre essa profecia
e se torna muito mais. No meio disso tudo, jovens estudantes sonham com uma
revolução que acabará com a injustiça social! Um sonho bonito, cheio de
energia, mas sem nenhum projeto real. Jovens se apaixonam, vivem o primeiro
amor, vivem o abandono e a solidão.
Isso tudo é cantado, claro! E nesse caso, muito bem cantado! Gabriel Boliclifer encarna o Jean Valjean, e JESUS, MARIA E JOSÉ!!! QUE VOZ É ESSA??? Límpida, sem um desafino, emocionante, lá fui eu chorar e embaçar os óculos em vários momentos em que esse jovem ator preencheu o palco com sua presença. Não bastasse cantar bem, ele acompanha o personagem com postura e feições, desde de sua forma quase animalesca quando decide se tornar um criminoso, até quando o tempo vai imprimindo sobre ele sua pisada.
Seu perseguidor implacável, Javert, é interpretado por
Leornardo Araújo, cuja voz alcança nossa alma e nos dá o entendimento de sua
visão de vida. Sua presença de palco é excelente, e convence como o policial
determinado a caçar seu fugitivo até o fim dos tempos. Somos apresentados à
pobre Fantine, cujo destino miserável dá a direção da história. Sophia Fried
tem uma linda voz e é bem comovente, especialmente quando brilha em sua tristeza
no clássico I Dreamed a Dream. Outra personagem de história infeliz é a também miserável
Eponine, filha do casal de picaretas cômicos, os Thenardier. Eponine é o
retrato de todos que já amaram sem ser amados e, sozinhos num sonho triste,
deixam que o amor cresça tanto que ver o ser amado feliz se torna o suficiente.
Letícia Ballard tem um jeito de menina faceira, malandra, fazendo com que Marius
nem perceba a beleza que ela esconde e o amor que ela nutre. Marius (Eric
Daumas) é o jovem apaixonado que se divide entre viver a revolução ou viver um
grande amor. Ambos são talentosos e cantam bem, considerando que estão apenas
no começo de suas carreiras. Enjolras, interpretado por Enzo Campeão, é o jovem
líder da revolução. Sua voz não possui tanto alcance, mas o talento está lá e
ele me convenveu a lutar com ele. Só não subi no palco para pegar em armas ao
lado dele porque os seguranças não deixaram. Cosette adulta é interpretada por
Danielly Ruf, que não bastasse ser uma princesa no palco, tem uma voz de sereia
que não desafina uma única vez.
E ainda temos os pequenos Gavrauche e a pequena Cosette.
Lia Campos empresta a Gavrauche a malandragem das ruas e seu jeito destemido,
enquanto a pequena Cosette na pele de Alice Pinheiro canta seu sonho com um
castelo onde não precise varrer o chão e possa ser amada. Dá vontade de levar
os dois pra casa!
Cereja do bolo é o casal de Thenardier, que são
detestáveis, mas ao mesmo tempo, engraçados, graças à interpretação de Matheus
Ananias e Elisa Toledo, que dão personalidade e graça aos seus personagens.
Alguns dos atores se repetem em outros papéis menores,
enquanto temos também miseráveis, estudantes, prostitutas, mães em luto, guardas
e clientes da taberna, sem os quais a peça não teria brilho nem cor. Cada um se
doou ao seu personagem, e isso ficou claro nas pequenas ações, como no bocejo
da revolucionária de vigia na barricada e as palavras duras da prostituta que
Fantine encontra. O cenário, cru e em madeira, simples e direto ao mostrar a
pobreza onde a maioria dos personagens vive, é o pano de fundo para que vejamos
tudo acontecer.
A peça tem direção de Menelick de Carvalho, direção
musical de Claudia Elizeu e preparação vocal de Léo Wagner, que já foi Jean
Valjean no Brasil, onde se destacou tanto que foi convidado a fazer o mesmo
papel na versão mexicana. São essas pessoas que tornaram esse projeto viável,
colocaram esses jovens no palco e os ajudaram a brilhar.
O elenco pode mudar nos dias de apresentação, pois há uma
alternância de papéis para que mais pessoas tenham oportunidade de mostrar seu
talento, o que é uma ótima ideia.
Ao fim da peça, o elenco vende rifa e copos comemorativos
para ajudar a pagar a produção. Tenho meu copo dos Miseráveis e estou feliz!
‘Les Misérables School Edition’ terá sessões em diferentes datas
durante dezembro. Estreando no dia 3 (sexta-feira) às 20h, dia 5 (domingo) às
18h, dia 8 (quarta-feira) às 16h, dia 18 (sábado) às 16h e 20h, dia 21
(terça-feira) às 16 e 20h e finaliza a temporada no dia 22 (quarta-feira) com
sessões às 16h e 20h.
Os
ingressos estão à venda pelo https://bileto.sympla.com.br/event/70234/d/116334
Serviço
Local:
Teatro Prudential
Rua do Russel, Glória, 804, Rio de Janeiro
Ingressos a
partir de R$ 25
Temporada:até
22 de dezembro
Dias:
Dia 8 (quarta-feira) às 16h, Dia 18 (sábado) às 16h e 20h, Dia 21 (terça-feira)
às 16 e 20h, Dia 22 (quarta-feira) com sessões às 16h e 20h.
Duração: 150 min
Classificação
etária: 12 anos
Ficha Técnica
Texto,
músicas e letra original: Bolbill e Schonberg
Baseado no romance Les Misérables de Victor Hugo
Versão
Brasileira: Cláudio Botelho
Direção
geral: Menelick de Carvalho
Assistente
de Direção: Vitor Louzada
Direção
Musical: Claudia Elizeu
Assistência
de Direção Musical: Sulamita Lage
Preparação
Vocal: Léo Wagner
Preparação
de Atores e Coordenação Pedagógica: Reiner Tenente
Direção
de Produção: Joana Mendes
Produção
Executiva: Duda Salles
Cenário
e figurino: Nícolas Gonçalves, Jovanna Souza,Rebecca Cardoso,
Gabriel Boliclifer e Luisa Rossi
Elenco:
Letícia Ballard, Nico Leão, Julia Vilhena, Thaíssa Aceti, Sophia Fried, Sidarta
Senna, Laura Rabello, Cecilia Diniz, Fernanda Bicudo, Matheus Ananias, Lia
Campos, Ísis Câmara, Eric Daumas, Luísa Rossi, Juliana Queiroz, Enzo Campeão,
Tereza Neves, Leonardo Araújo, Dani Ruf, Gabriel Boliclifer, Alice Pinheiro,
Mariana Magalhães, Maria Luisa Amado, Elisa Toledo.
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