domingo, 27 de junho de 2010

O FUTURO DA MÚSICA

Se me perguntassem quem vai morrer primeiro, o CD ou o vinil, eu responderia "Ué, mas o vinil já não tinha morrido?". E como, sempre, eu estaria redondamente (foi mal) errado!

Pelo menos é o que acredita Dave Kusek, um crânio cabeçudo que já ajudou a desenvolver numerosos programas de gravação e lançou livros (entre eles, o fundamental "The future of music", de 2005) sobre o assunto. Em entrevista ao GLOBO, Kusek afirma que nunca a máxima do "faça você mesmo" foi tão importante: Como funciona a escola on-line da Berklee? Qual a diferença para a tradicional escola de música de lá?
A escola on-line da Berklee surgiu quando percebemos que a indústria musical estava entrando no reino digital e teríamos, forçosamente, que acompanhar esse processo. Foi uma forma de nos reinventarmos também. Ensinamos a lidar com esse novo mundo: como gravar, como distribuir, como fazer o marketing etc. Além disso, mantemos coisas do formato tradicional, como o ensino de teoria musical, composição, arranjos etc. É muito excitante ver um campus on-line, com pessoas do mundo inteiro interagindo, cada uma delas trazendo a sua experiência local.

É possível imaginar o que vem por aí nos próximos cinco anos?
É sempre um excelente exercício de imaginação pensar nisso. Acredito que, em breve, vamos ter anúncios importantes vindos do Google e da Apple, em termos de serviços musicais on demand. Acredito também que vão surgir aplicativos para iPhones e semelhantes para baixar música diretamente, sem a necessidade do computador. Isso vai nos ajudar a ter o serviço que tanto sonhamos, que é o acesso à música em qualquer lugar, a qualquer hora, à sua escolha.

O que representou o duelo entre a indústria do disco, simbolizada pelo Metallica, e o Napster, há alguns anos, que acabou levando ao fechamento do serviço?
Aquilo representou, claramente, o embate entre uma forma antiga de pensar e um futuro que já nos atingiu. Infelizmente, o Metallica se ofereceu para esse papel não muito glorioso. Mas acredito que a banda tenha uma outra visão hoje, tanto que abraçaram várias das possibilidades trazidas pelo Napster.

Qual a mensagem que a RIAA, que representa a indústria fonográfica americana, dá quando anuncia processos contra pessoas que baixam música?
A mensagem é que essa indústria não entendeu, até hoje, o apetite das pessoas pela música e não sabe como se adaptar para saciá-lo. Ela tenta manter o seu monopólio de distribuição e de preços à força. Se a indústria tivesse entendido que o consumidor quer mais música do que aquela que era era oferecida, e a preços baixos, talvez não estivesse na situação em que está hoje. Acredito que seja uma luta perdida para a RIAA.

O que as gravadoras terão de fazer para sobreviver?
O que algumas já estão fazendo, que é lidar com licenças e ajudar a promover e gerenciar carreiras. Mas acho que nem Sony, nem Universal ou qualquer outra major que tenha restado serão capazes de fazer isso bem. Esse papel, me parece, está reservado para as independentes, que são mais ágeis. As majors eram muito dependentes da venda dos discos, e não acredito que vão conseguir se adaptar aos novos tempos e às exigências do público e do artista.
Vivemos tempos acelerados, nos quais o gosto do público muda rapidamente também. Será que ainda veremos artistas tendo longas carreiras, como os Rolling Stones, por exemplo? Ou a tendência será uma banda sobreviver por um ou no máximo dois discos?
Acho que estamos mais próximos do segundo caso. Acho que a longevidade não vai ser medida por números de discos feitos e vendidos. Talvez pela popularidade: quantas pessoas sabem de você, quantas o acompanham e o ouvem.

Na escola, ainda há pessoas que sonham com um contrato com uma gravadora? O que pode ser dito para elas sobre sobrevivência?
Ainda há muita gente que sonha com um acordo com uma gravadora. Isso é normal. Afinal, o sonho de ser uma estrela da música ainda é muito forte. Só que chegar ao topo está mais difícil do que nunca. Em termos de sobrevivência, há inúmeras possibilidades que merecem ser exploradas. Uma delas são os shows virtuais, on-line, um tipo de experiência musical única, que poderia ser cobrada, gerando um novo filão para os artistas que souberem desenvolver ferramentas para aproveitar esse filão.

A música vai deixar de existir no formato físico?
É uma boa questão. Acredito que o CD está mais perto da extinção que o vinil. Talvez o formato não seja mais tão importante assim.

E qual é, afinal, o futuro da música?
O futuro da música vai ser decidido por essas pessoas que ainda buscam uma carreira, mesmo sabendo que é cada vez mais difícil ganhar dinheiro com ela. Essas pessoas já estão buscando novos caminhos, expandindo os limites, e elas mesmas vão ajudar a definir o futuro da música. Está nas mãos delas, e eu acho isso fantástico.

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