segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O HOMEM-ARANHA (QUASE) SUPERIOR

por Gabriel Maia

Acabou recentemente uma das sagas mais polêmicas do Homem-Aranha. Meses atrás o amigão da vizinhança deixou de ser tão amigão. Otto Octavius, o dr Octopus, estava à beira da morte devido a problemas de saúde decorrentes tanto do acidente que lhe deu seus tentáculos, quanto das lutas que travou. Mas conseguiu colocar em prática um ultimo plano, mapeou a mente do aracnídeo e com um pequeno robô executou uma troca de mentes com o Aranha. Sim, isso mesmo, essa ridícula e tonta ideia de vilão dos anos 70 foi mostrada nos HQs como forma de uma nova abordagem sobre o personagem. Um teste, vamos colocar assim. Dan Slott, o responsável pela ideia queria colocar um Homem-Aranha mais parecido com o Batman e resolveu que este seria o melhor meio. 

Pois bem, Otto passou a viver no corpo jovem de Peter, enquanto Peter morreu no corpo do vilão. 


Mas como para o espetacular Homem-Aranha nem a morte (ou o ridículo) é o limite, o espírito de Peter passou a tentar voltar ao seu corpo durante toda a saga. 



Otto realmente dá um upgrade na vida do Homem-aranha. Monta um uniforme especial cheio de recursos, usa seu dinheiro da antiga vida de vilão para montar um laboratório especial e contrata um exército de homens para auxiliar em seu trabalho de busca e captura de criminosos, espalha milhares de pequenos robôs que vigiam a cidade 24 horas por dia, monta uma empresa chamada “indústrias Parker”, coloca o prefeito na palma de sua mão, e impõe o medo no coração dos criminosos com uma ação mais brutal, agredindo cruelmente bandidos (chegando a matar um deles), e até mesmo amigos. 


Após muitas confusões e reviravoltas, o Duende Verde conseguiu se aproveitar do ego de Otto, que se auto-denominava “Homem-aranha superior” (sim, é daí pra pior), e reuniu todos os criminosos da cidade sob suas ordens na chamada “nação duende” (não falei que piorava? Pois piora mais ainda), e neste golpe conseguiu derrubar Octavius. A cidade foi quase destruída em uma guerra civil e nesse inferno Otto entregou o corpo ao espírito de Peter, que voltou ao controle do corpo, detonou o duende de vez e salvou a cidade. Parece ridículo? Pois é muito pior quando se acompanha tudo por meses. 



Até entendo o que Dan Slott queria fazer dando uma repaginada no personagem, e admito que gostei da nova postura do personagem, mais agressivo, implacável, genial e prático, diferente do bebê chorão que tem sido mostrado nos últimos anos. Sim, Peter é um rapaz de bom coração, bem humorado e representa tudo que há de melhor nas pessoas, mas muitos escritores tem se perdido no personagem e na adaptação dele aos tempos atuais. Por isso a abordagem de Dan foi tão marcante. 


Acostumamo-nos principalmente à boa e velha explicação de que o Homem-aranha é um herói como a gente, que tem contas, problemas na vida profissional, pessoal e ainda assim mantém o otimismo. É difícil nos identificarmos com milionários, aliens, ou super seres de vários tipos, mas um carinha como Peter realmente cativa. O problema é que os tempos mudam, e nós (e nossos heróis) precisam dar sempre uma atualizada. Às vezes cansa ver Peter só levar a pior e nunca dar certo na vida. Às vezes cansa ver ele ser humilhado ou subestimado por outros heróis. Os fãs querem o melhor para quem admiram. 



Talvez por isso o Homem-aranha superior tenha agradado uma parte dos fãs, apesar dos vacilos de Slott. Na verdade, em vez dessa ideia tão tosca de troca de mentes, sabe qual ideia eu não apenas aceitaria, como adoraria? 



Se Otto tivesse mandado seus padrões mentais ao corpo de Peter, mas em vez dessa troca de mentes, fosse apenas um tipo de lavagem cerebral, ou condicionamento mental, onde a mente de Otto complementasse a de Parker. Isso se encaixaria melhor do que a tal troca de mentes. Encaixa tão bem que explicaria até melhor a presença do “espirito-Parker”, e poderia se encarada como se o Aranha estivesse passando por uma crise esquizofrênica, onde a personalidade dele lutasse contra a de Octavius, quando enfim, vencesse e complementasse a inteligência a sua inteligência com a de Otto. 

Outro ponto interessante foi pouco antes de Peter voltar ao controle, quando ele viaja pela mente de Otto desde o nascimento e vivendo toda a vida de Octopus pela sua perspectiva, fazendo referência a ideia de reencarnação do espiritismo kardecista, quando o espírito reencarna e passa a viver a nova vida. Isso é percebido quando Peter se vê como pequenas gotas de água frente a um oceano de memórias, e sua consciência tenta se manter sob um único pensamento; “eu sou Peter Parker... eu sou Peter Parker...”, pensamento este que acaba por se diluir, vivendo toda a vida de Otto até voltar ao momento em que pode recuperar suas próprias memórias. 

Muita coisa desta saga pode ser levado como interessantes pontos de discussão psicológica, e me faz lamentar não ter sido bem trabalhada, pois poderia ter sido uma grande saga. 

Agora cabe aos fãs esperarem pelo que virá. Ao que consta será a saga “aranhaverso”, onde todos os personagens baseados no universo do Homem-aranha participarão de uma saga que definirá os rumos não apenas do personagem, mas de todo universo Marvel, já que estamos à beira do fim da Marvel como a conhecemos.

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