quarta-feira, 15 de novembro de 2017

LIGA DA JUSTIÇA ou “Superman: a morte lhe cai bem” (SEM SPOILERS)


por Renato Rodrigues 

Em 2013 eu fiz um desabafo aqui no site relatando minha DCpção com o filme “Homem da Aço” apontando os erros na abordagem do Super-Homem. Em “Batman VS Superman” o mesmo diretor (Zack Snyder) continuou errando com o kryptoniano (Falamos AQUI no VLOG) mostrando uma pessoa com muitos poderes mas sem nenhuma personalidade e incapaz de dizer uma frase que nos inspirasse a ser melhores. Ironicamente, parecia não ter vontade alguma de viver. Ele não era um herói. Não era o campeão da Verdade e da Justiça e nem aquele amigo que salva o dia com o sorriso de uma criança, o que fazia a nossa criança interior sorrir também. Era só um alienígena perdido num mundo cínico que também lhe virou as costas com desconfiança. Até que ele morresse. Aí sim, os ingratos choraram sua perda.


Assim começa Liga da Justiça, mostrando um mundo que perdeu a esperança após a morte do Superman. Começa também, do lado de cá da tela, com uma plateia que (em boa parte) começou a perder e esperança no universo compartilhado da Warner/DC mesmo depois do sucesso de Mulher Maravilha.

Aliás, eu acredito piamente que a princesa amazona tornou-se a bússola que guiou a desnorteada Warner até o presente filme. Eles finalmente parecem ter entendido que estão trabalhando com personagens que são HERÓIS. Mas que também são humanos. E ser humano não quer dizer parecer com alguém que acabou de sair de um funeral. Ser humano é rir, chorar, amar e tentar dar o seu melhor. Isso é mostrado logo na primeira cena, um flashback muito bem bolado, onde crianças filmando com um celular perguntam na rua “coisas” que crianças perguntariam ao Superman. E ele responde com simpatia, sem parecer um deus caminhando entre mortais. E nesses preciosos segundos de humanidade, ele fala mais de ESPERANÇA (que afinal é o que o seu símbolo no peito significa em kryptoniano) que nos dois filmes anteriores.


Não temos como dizer ainda até onde foi a mão do Zack Snyder (diretor dos dois filmes anteriores e desse) já que uma tragédia pessoal o tirou da finalização das filmagens. Saiu o polêmico (para alguns) Snyder e entrou (o talvez polêmico para outros) Joss Whedon (diretor de Vingadores I e II) para ajeitar a Sala da Justiça. Era como chamar o Zico pra jogar no Vasco. Em tempo, Whedon também escreveu parte do roteiro e, aí sim, dá para perceber sua presença. 

Snyder ou Whedon? Quem é o pai da criança? DNA hoje, no Ratinho
A história do cinema mostra que muitas mãos mexendo no mesmo filme nunca dá muito certo no final. Para este fã do Homem de Aço desde guri, deu e muito. 

Liga da Justiça está longe de ser um filme inovador. Não tem viradas mirabolantes e nem um vilão carismático com falas rebuscadas (O que é uma pena). É um filme de origem onde o primeiro ato é a apresentação dos novos “superamigos” do Batman enquanto o vilão corre por fora recolhendo aquelas famosas “coisas-que-quando-unidas-vão-destruir-tudo”. 

Mas é tudo muito dinâmico e funciona. As ceninhas bônus para os leitores de HQ (os easter eggs) estão espalhadas pela trama sem querer roubar a atenção de ninguém. O Flash/Barry Allen traz juventude e o bom humor que nos acostumamos a ver no desenho. Aquaman ganha profundidade (sem trocadilho) e dá uma palhinha do que está por vir em seu futuro filme. Ciborgue parecia estar sobrando nos trailers, mas sua participação é justificada, até porque sua origem é ligada a tudo o que está acontecendo. 

Bat-Affleck tá no pilotão automático, mas passa bem a culpa de ter deixado o Superman perecer em batalha. Ele na verdade parece quase envergonhado por ter caído na pegadinha do "Luthor Sérgio-Malandro". Eu espero que o Ben Affleck se anime com o resultado do filme (que eu acredito que seja um suce$$o), e continue na franquia.

E Diana? Diana é a maravilha de sempre em todas as cenas que aparece. Diana e Alfred são as vozes da razão mantendo o equilíbrio entre o humano e o super-humano neste admirável mundo novo que o Batman está para enfrentar. 


Bom, a essa altura do campeonato não é SPOILER dizer que o Superman volta a vida em algum momento. Você sabia que isso aconteceria 5 minutos depois que ele morreu, não sabia? A gente só não sabia era COMO isso iria acontecer. Enfim, talvez esse seja o ponto fraco na trama já que é uma sacada que o Batman tira sabe-se lá de onde (do Bat-cinto, não sei) e que, num passe de mágica disfarçada de tecnologia, traz Kal-el de volta ao mundo dos vivos. 

Aliás, errei. Não trás ele de volta. Traz o verdadeiro Superman para a tela. Ele nasceu nesse filme! É como se o diretor (seja lá qual) dissesse, “pode sair Henry Cavill, o castigo acabou, você está livre para ser você mesmo!”. Ele salva inocentes, bate forte nos inimigos sem quebrar o pescoço de ninguém e esbanja simpatia de bom samaritano. E tudo com a pompa de tons do tema clássico de John Willians sob a batuta do, sempre batuta, Danny Elfman. Compositor que também tirou lá do baú os acordes do seu Batman numa cena de ação. Isso é uma festa para os ouvidos da velha guarda, como nós! 
(ATENÇÃO: Quase spoiler) A coroação final vem numa narração de Lois Lane enquanto escreve uma matéria. Ela fala dos heróis e de como eles sempre estiveram lá zelando por nós. “Mesmo que nas sombras” disse ela. Eu vi isso como uma espécie de mea-culpa da Warner. Um pedido de desculpa pelas lambanças anteriores e uma promessa de que isso passou e que “agora vai”. (Fim do quase spoiler)

Obrigado por romper esses grilhões, Mulher Maravilha! Eu confesso que não sei se as pessoas que gostaram da visão anterior, sombria e lúgubre, vão gostar da simplicidade heroica de Liga da Justiça. Se vai ter aquela guerrinha nas redes ou rejeição por qualquer associação ao estilo da colorida concorrente. Se houver será algo injusto. A DC parece ter encontrado a sua cara. O humor é equilibrado na trama cheia de ação e lhe falta apenas vilões à altura. Afinal, convenhamos, tirando o Zod, nenhum prestou até agora nesse universo. 

Mas vamos manter a... ESPERANÇA. “Liga da Justiça” tem seu maior mérito ao trazer para a telona O Super-Homem que não víamos desde 2006 quando Brandon Routh o personificou no esquecido “Retorno”. Ou, ignorando esse filmeco, desde que Christopher Reeve vestia no cinema o manto sagrado azul e vermelho. Muito prazer em conhecê-lo, Superman Henry Cavill. Eu voltei a acreditar que um homem pode voar. Espero que vocês também o façam.


Elenco: Ben Affleck, Gal Gadot, Henry Cavill, Jason Momoa, Ray Fisher, Ezra Miller, Jeremy Irons e Amy Adams.
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Joss Whedon, Chris Terrio

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3 comentários:

Nanael Soubaim disse...

Ele tem competido com o Kuririn para ver quem morre mais, isto sim é que tem estragado as coisas.

Gabriel Maia disse...

Me deixou mais animado em me arriscar no filme, já que você, assim como eu, se DCpcionou (adorei o trocadilho) nos mesmos pontos anteriores.
O fato de Whedon ter se envolvido talvez tenha sido a solução (não querendo colocar a salvação em um messias, mas parece que ele achou o interruptor e ligou a luz revelando os heróis).
Minha surpresa foi a crítica sobre o Aquaman, na minha cabeça; "logo o Momoa se destacando como ator?".
Enfim, me animei aqui.

Carlos Shokozug disse...

Fantásticas palavras para um fantástico filme. Redondo, mostrando o máximo que duas horas permitem mostrar.
Que venha a Versão Estendida.