terça-feira, 16 de julho de 2013

QUASE UM HOMEM DE AÇO


por Renato Rodrigues
Meus 3 leitores devem estar estranhando eu estar quietinho sem falar nada do novo filme do Super-Homem, mas eu confesso que além de estar enrolado escrevendo meu ganha pão (Dragões de Titânia III) estava com o pé atrás por causa dos trailers que achei meio pedantes e da minha cisma com o diretor que considero um farofeiro.

Pois bem, fomos ver ontem "O Homem de Aço" e lá vai o meu veredicto: Zac Snyder continua sendo um diretor que faz filmes "quase" bons. Foi assim com Watchmen, 300 e Sucker Punch, filmes legais, mas que não empolgam.

É claro que US$ 619.195.000,00 de arrecadamento são dados financeiros que jogam qualquer crítica negativa deste blogueiro falido direto para a Zona Fantasma, mas se você já viu o filme e quiser saber porque eu não achei essa Coca-Cola toda, eu te conto. E prometo não comparar com os filmes do Christopher Reeve, é um NOVO filme, com tudo NOVO, então vamos seguir em frente sem saudosismo:

(Senta que lá vem SPOILERS)
É uma história de origem, vários elementos da mitologia de Krypton e Smallville estão lá bem atualizados. O fio principal é bacana, temos UM vilão com motivações convincentes e com uma conexão especial com o mocinho, graças a um arranca rabo com seu pai (Jor-el, muito bem defendido pelo Russel Crown).

Entretanto a motivação do mocinho deixa a desejar. Um marmanjo de 33 anos de idade (uma forçação de barra do roteiro para aproximá-lo de Jesus) já deveria ter tomado vergonha na cara e virado Super-Homem logo de uma vez ao invés de ficar andando pelo mundo salvando garçonete de bebum. Esse Jonathan Kent (Kevin Costner) infelizmente criou mal esse menino e fez dele um "maricas deixa disso" que não deve se intrometer em nada nem salvar ninguém. "Fica aí na tua comendo quieto que nada de mal vai te acontecer", foi a lição que ele passou naquela morte imbecil.
"OH, o mundo estará pronto para alguém como eu?"
Como? Boa pinta, fortão, mais rápido que uma bala, que salva as pessoas, indestrutível? VAI NESSA, MERMÃO!!!


Durante a primeira metade do filme você realmente fica muito curioso para ver onde vai dar a trama, ele traz alguns elementos novos e atualizados para uma história mais do que conhecida em quase 80 anos de mitologia. O elenco tava legal, a trilha a gente acaba se acostumando (mas não emociona em momento algum), os efeitos cumprem sua parte. É um filme eficiente. Depois do fiasco de Superman - O Retorno, a Warner parece ter feito todo o trabalho de casa para fazer um filme à prova de reclamações. Confiram comigo:

Faltou ação em Superman - o retorno?
Resposta: Vamos destruir Metrópolis em "O Homem de Aço"!!! Mas sem conteúdo, nenhuma perda é sentida além dos prédios. E o Superman não salva nem um coitado nessa cidade, "eles que se lasquem, eu tô brincando de UFC com meus amigos de Krypton".
 
Faltaram inimigos à altura em Superman - o retorno?
Resposta: Vamos colocar nesse novo filme uma nave cheia de kryptonianos sem nome e  tentáculos de ferro para brigar! Sem grandes planos nem conflitos, é porrada véio, porrada que o povo quer!!!

Chegamos ao momento MEGA-SPOILER

Zod merecia morrer?
Sim, picotado, frito, cozido e mal pago. O Superman tinha direito de mata-lo?
Aí chegamos no ó do borogodó. Todo vilão diz que vai dominar o mundo, que vai matar as pessoas, que vai fazer e acontecer e que ninguém irá- detê-lo. Todos! Ele é o vilão, raios! Ele é mau que nem um pica-pau, mas nem por isso um HERÓI como o Superman deve se rebaixar ao seu nível como juiz, júri e executor.

"Mas, Renato, ele não tinha escolha!"
Problema dele (e do escritor), se vira nos 30 aí pra me entreter com uma solução criativa para um problema insolúvel! Você não é um PM ou um bundão como eu. Você é o SUPERMAN!!!

"Mas Renato, a execução foi a coisa certa!"
Sob que aspecto? Moral, ético, religioso, jurídico? Não vi nenhum se encaixando nos padrões de um Super-homem. Talvez do Wolverine ou outro herói de segunda divisão. Foi uma SAÍDA FÁCIL e covarde do roteirista para chocar a audiência e criar polêmica. Isso não foi nem discutido durante o filme!

O Clark mendigo salvou pessoas pelo mundo. O Super-homem vestido de Super-homem não tirou nem um gatinho de uma árvore. O filme é legal como ficção científica, mas Kal-el não é um herói ainda. É um ET que defendeu a Terra.

Este Superman não me representa!

6 comentários:

Laís Ferreira disse...

Ainda não vi o filme. Pra ser sincera, não me empolguei nem um pouco com os trailers. Tudo bem que eu prefiro o Batman, mas nem é por isso. Sei lá, desde que o Christopher Reeve se foi, não consigo enxergar um Superman decente. Tom Welling foi um ótimo Clark, mas só, sem capa vermelha.

Márcia Pires disse...

Acho que não quero ver esse Superman! kkkkkk Quase entrei nesses "Plex-da-vida", mas já vi que desisti antes mesmo de uma nova tentativa.

Anônimo disse...

Concordo com os dois aspectos mais marcantes levantados: o senhor Kent foi um completo imbecil! E a sua morte não foi nenhum pouco significativa. A mensagem dele foi algo como: Para que ajudar os outros com o seu poder quando você pode ser um fazendeiro o resto da vida? (nada contra fazendeiros!). E a morte de Zod é muito estranha! Quem acompanha o Superman nos quadrinhos sabe que ele não se posiciona como um executor. Ainda que na cena o nosso amigo Zod estivesse pronto para matar inocentes (que não se comparam em quantidade aos que morreram com a queda dos prédios XD), senti falta de uma solução criativa para a morte, totalmente desnecessária ao meu ver.

Outro ponto que eu achei chato foi a onipresença da Louis Lane, totalmente desnecessária a ida dela à nave. E ainda falando nisso, acho que os diretores estão com uma mania muita feia de colocar o "beijo" (herói e mocinha) depois ou durante um momento de tensão em filmes de super-heróis (vide Thor). Hipotéticamente poderia ser o "momento certo", mas sempre da a sensação: "acabaram de matar alguém, ou estão matando alguém, e estão se beijando para ficar legal na camera". Lógico que depende do contexto, mas acho que simplicidade funciona bem com romances fantásticos para nao ficar rápido e forçado demais!

Eu gostei do filme, achei ele bem rápido e as cenas de ação são fantásticas. Mas ainda acho que esse superman precisaria amadurecer muito para ficar a altura do cara com os padrões morais que conhecemos (ainda que muitos o considerem chato).

Copernico Vespucio disse...

O filme tem um monte de pontas soltas, tanto sociais quanto científicas.

Não vi problema com o Superman matando o Zod no final. A era do herói hipócrita que coloca a vida de um único vilão acima das várias vítimas passou. A natureza escolhe o bem da maioria.

Vi problema em como um soldado profissional criado geneticamente para isso se deixa apanhar num mata-leão por um amador e se permite matar com uma fratura de cervical (quem fez ninjutsu como eu sabe a facilidade que é pra sair dessa chave e da impossibilidade de se quebrar um pescoço com o alvo resistindo).

O filme resolve o problema da Lois Lane burra, mas substitui pelo dilema do resto do mundo burro. Para manter sua identidade secreta Kal resolve se "esconder" de cara limpa justamente na redação de um jornal de grande circulação.

Eu achei que o Jor-El era cientista, mas o filme me mostrou que ele era o James Bond de Krypton.

Porque os habitantes do planeta estavam condenados a morte, se tudo o que eles são cabe na palma de uma mão aberta? UMA única nave, levando pai, mãe, filho e o cortéx, salvaria toda uma civilização. A solução "a gente manda nosso filho sozinho e morre aqui" fez mais sentido no Once Upon a Time.

Ninguém pensou em resolver o problema do "sou superforte mais eu realmente preciso de um ponto de apoio pra mover as coisas".

Etc, etc. A lista é longa.

Renato Rodrigues disse...

Cada comentário que eu faço sobre esse filme me faz gostar MENOS dele. Uma pena...

Ricky Nobre disse...

Seguinte: saí do cinema com um gosto bom na boca, apesar dos muitos problemas.

SPOILER ROLA SOLTO!!!


O QUE EU GOSTEI:
Dizer que um filme do Snyder é deslumbrante visualmente é chover no molhado. Gostei muito do Henry Carvill e da Amy Adams. Michael Shannon como Zod estava ótimo e foi um personagem muito bem escrito. Aliás, gostei do entrelaçamento das tramas da destruição de Kripton e da tentativa de golpe do Zod. Os comentários sobre a civilização kriptoniana condizem com a arrogância e o delírio de um povo que destruiu o próprio planeta pela ganância. Só não me convence que eles não tinham pra onde fugir, mas enfim...

Gostei que o plano contra a arma planetária lá tenha sido um esforço conjunto. Deu uma dimensão melhor de que a humanidade é algo pelo qual vale a pena lutar.

Gostei muito também de partirem do princípio de que a Lois não é uma imbecil e tiraram logo a identidade do Clark do caminho de uma vez para o próximo filme.

A porradaria finalmente é CÓOOOOOSMICA, digna do homem de aço.

O QUE NÃO GOSTEI:

Pra começar, Jor-El gladiador porradeiro já não faz muito sentido, ainda mais numa reformulação onde os kriptinianos são programados na concepção para serem isso ou aquilo. Se o cara nasceu pra ser cientista, como ele mete tanta porrada em quem nasceu pra ser soldado? Mas releva-se. Filme hoje não pode começar lento e contemplativo, tem que ser porradaria desde o começo.

Mas nada contra o Russel Crowe no papel. Tava maneiro.

Clark parado vendo o pai morrer não me convenceu mesmo com a explicação.
Quando li o que Renato escreveu sobre o pai, concordei em partes. Gostei dele ter criado o Clark pra não revidar nas brigas, faz sentido. Mas ele permancer no discurso "fica na tua" depois da cena do ônibus, foi bem fora do personagem, seja versão Donner ou Smallville, e tira bastante da bela mitologia de que Clark é o que é por causa dos pais adotivos.

Achei a Lois eficiente ao extremo pra sair da nave matando todo mundo, mesmo sendo guiada pelo Jor-El. Mas releva-se, porque a cena é muito legal.

Achei destruição demais e pouca atenção dele pra pessoas em perigo no chão. Não custava nada (quer dizer, custava, isso leva tempo, trabalho, criatividade...) mostrar o superman sobrecarregado, sem conseguir salvar todo mundo, porque não dá mesmo pra salvar todo mundo, é impossivel, mas parece que ele não tentou. Aliás, parece que o próprio Snyder sequer parou pra pensar na quantidade absurda de gente morrendo e em perigo no chão.

E finalmente....

Não compartilho do horror do Renato com a morte de Zod. O que EU acho é que a cena não foi bem construída o suficiente pra me convencer de que não tinha nada que ele não pudesse fazer pra desviar ou interromper a visão de calor do Zod naquele momento. Ele podia levantar voo, ele podia arremessar ele pra trás, pra cima, qualquer porra. Acho um BOM caminho para esse reboot, já na segunda década do século 21, por em discussão essa questão do superman não matar. Eu considero irreal. Talvez não precisasse ser tratado AGORA. Mas não considero ruim. Só acho que a circunstância não foi convincente o suficiente de que ele não tinha outra alternativa.

Bom, vamos ver o que o tempo vai fazer pra mim com esse filme. Não desgostei TANTO de Returns da primeira vez, mas ele foi piorando muito quanto mais eu pensava nele. Mas tenho a tendência de perdoar as cagadas do Snyder. Daí meu apreço por Watchmen e meu amor por Sucker Punch. Pelas qualidades apesar dos erros.