domingo, 6 de março de 2016

DOMINGO NO PARQUE: Capitão Aza

Todo domingo vamos botar aqui no alcateia.com uma espécie de sessão nostalgia relembrando good times da TV:

por Renato Rodrigues
Ele era o único militar dos anos 70 que não metia medo em ninguém: Capitão Aza. De 66 até 79 só dava ele entre a garotada!

Entre suas principais atrações, estavam os desenhos "desanimados" Marvel e Homem Aranha, a Turma da Pantera Cor de Rosa, Batman (a série), Anjo do Espaço, Super Robin Hood, Mr. Magoo, Esper: o Garoto a Jato, Vingadores do Espaço, Robô Gigante, e o campeão de audiência SPEED RACER!!! Em 1973, o Capitão chegou  a ter histórias em quadrinhos publicadas na revista "O Cruzeiro Infantil" da Editora O Cruzeiro.




Em 1979, depois de 10 meses sem pagamento, assim como os demais funcionários da Tv Tupi, o Capitão Aza, apresentou o último programa, dizendo como despedida que teria de partir para uma missão no espaço! Era mesmo uma outra época.Nosso intrépido Antero Leivas fez uma entrevista com ele há alguns anos para  revista "Séries TV e Cinema":


Wilson Vianna curtindo a Super Séries
(Foto de Maurício Christovão)
Com a palavra, Antero:
Célebre condutor de nossas tardes televisivas naqueles conturbados anos 70, Wilson Vianna, ou melhor, o eterno CAPITÃO AZA, estava bem para 400 anos, cercado de grandes amigos no Iate Clube do Rio de Janeiro. Dentro de seu próprio barco, ele concedeu-me esta comovente e rica entrevista em 1999, num dia nublado e muito frio, porém aquecido pela sua valente e nobre presença, como bem deve ser, a presença de um verdadeiro herói. Um Super-Herói Brasileiro. 

Capitão, onde o Senhor nasceu?
Capitão Aza:  Nasci  em Ipanema, há 400 anos...(a idade do Fantasma)

Como foi o seu começo no Show-Bizz?
C.A.: Comecei na Atlântida e fiz inúmeros filmes lá, com Oscarito, Grande Otelo...

E sobre o Tarzan Mexicano?
C.A.: Após filmar com êxito em vários países, dentre os quais França e EUA, em fins da década de 50, fui chamado para estrelar El Mondo Salvaje de Baru, não batizado de Tarzan por problemas de Trademark. Minha “Jane” chamava-se Maria (a  blondie venezuelana, Ingrid Garbol) e o mascote do herói era o chimpanzé  Joker. O sucesso foi tanto que motivou uma continuação: Baru, El Hombre de La Sielva,  sucesso no mundo todo. Pelas ruas do México, eu desfilava pelos restaurantes e lugares da moda, ao lado do macaco de fraque e cartola....

Como era o  ramo da dublagem no Brasil, nesta época ?
C.A.: Não existia. Depois de trabalhar em 9 filmes no México, voltei para cá e fui convidado para dublar uma série que estreava em nossa TV : Bonanza. Esta foi a primeira feita  no país. Sou, portanto, o primeiro. O pioneiro na arte de dublar nestas paragens... O que me possibilitou fazer um curso em Los Angeles, adquirindo know-how suficiente para consolidar por aqui esta honrosa  profissão, ao lado de nomes do porte  de Murilo Néri (o narrador de Os Intocáveis) , Dênis Carvalho (o Rusty de Rin-tin-tin), Daniel Filho, Herval Rossano e outros. Lancei  inesquecíveis séries: Charlie Chan, Bat-Masterson, Patrulha Rodoviária, Aventura Submarina, O Homem do Espaço, Desafio ao Homem, dentre outras...

Depois de estrear na TV Rio e atuar em humorísticos de sucesso, o senhor foi para os Estados Unidos. Por quê?
C.A.: Nas minhas andanças pela vida, fui parar em terras norte-americanas e acabei ficando por lá cinco anos. Trabalhei como garçon, office boy, essas coisas. Quando podia, exibia-me cantando, aqui e ali. Numa dessas exibições,  a secretária pessoal de Samuel Goldwin (o todo-poderoso presidente da MGM) me convidou para trabalhar em The Great  History Ever Told ao lado de Telly Savallas, Maximilian Schell e muitos outros. O próprio Goldwin, arrumou-me o papel.

E a TV por lá? Era uma possibilidade?
C.A  : Claro, e uma grande possibilidade. Cheguei a fazer um teste para a série Combate (produção de 1963, com Vic Morrow), porém estourara a guerra do Vietnã e tive de voltar para o Brasil, para  evitar convocação.

Como estava o nosso país, nesta sua volta? 
C.A.: Fervilhante. Mas havia trabalho. Ingressei logo na TV Rio, para a série As Aventuras do Capitão Atlas, mais um herói das selvas (Floresta da Tijuca). Enquanto isso, preparava-me para meu 71° filme:  O Tesouro de Zapata, co-produção entre Estados Unidos e Brasil, possivelmente, o primeiro western tupiniquim.

Foi nesta época que nasceu o grande herói dos anos 70?
C.A.: (Modesto) Em setembro de 1966, Paulo Pontes e Vianinha (o célebre dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho), em homenagem a um falecido herói da FAB,  Azambuja, criaram o programa que se denominou  Clube do Capitão Aza, sob a direção de Maurício Sherman (o "inventor" da Xuxa) e Alcino Diniz. Criação esta que era uma estratégia para derrubar o Capitão Furacão (o ator/dublador Pietro Mário), campeão das tardes. Funcionou. Assim que o Capitão Aza chegou, derrotou o Furacão, velho homem do mar...

Em tal período, o Senhor chegou a sofrer alguma sanção por parte do governo militar,  ou incomodar a esquerda...
C.A.: Nunca (enfático). Meu programa era para crianças e adolescentes. Nunca incomodei um lado ou outro. Preocupava-me, sim,  com a formação digna da infância e juventude brasileira.

Quando vieram Os Trapalhões...
C. A.: Pois é,  fiz dois filmes com eles: Os Trapalhões e o Mágico de Orós, com  o Didi, com quem me incompatibilizei e não trabalharia jamais (tenho meus motivos), e  Atrapalhando a Suate, com Dedé, Mussum e Zacarias.

Como vive, hoje, o “nosso” Capitão?
C.A.:  Hoje,  levo uma vida tranquila, pescando, entre os meus amigos deste Lar de Campeões, que é o Iate Clube do Rio de Janeiro. Tenho muito a agradecer a esta plêiade de vencedores, homens do mar e da paz. Os nomes são muitos, impossível enumerar aqui...

Uma mensagem, aos fãs de ontem e de sempre,  por favor, Capitão...
C. A.: Quero mandar um abraço a todos os que me conheceram e aos que estão me conhecendo agora. Meu muito obrigado a você, Antero, ao fotógrafo Maurício e aos editores de tão conceituada publicação. Não quero mais reviver nada de meus 40 anos de vida artística. Hoje, quero descansar... Vivam a vida! Muito obrigado a todos.

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Wilson Vianna  faleceu em 2003. Quem quiser saber mais detalhes da vida do homem e do mito, é só ler o livro A Vida Trepidante De Wilson Vianna, de Dora Mendonça (86 págs., Formato Grande- Ed. Lidador)

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