quinta-feira, 20 de abril de 2017

PAIXÃO OBSESSIVA: um velho clichê sob um novo olhar.

Por Ricky Nobre


O maior defeito de Paixão Obsessiva, que estreia neste dia 20, é sua campanha de marketing. Com o reforço do nada sutil título brasileiro, o filme chega com a identidade de mais uma cópia/variante de Atração Fatal, onde uma desequilibrada apaixonada chega para atazanar a harmonia de um casal/família modelo. Apesar de ser realmente um thriller onde uma mulher ameaça a vida de um casal, com suspense e violência, o filme, originalmente intitulado Unforgettable, difere, e muito, de seus pares. Dirigido por uma mulher, escrito por outra e com 90% do elenco composto por mulheres, ele traz ao tema o que há muito ele necessitava: um olhar feminino.

 

Julia (Rosario Dawson), é uma editora literária que decide diminuir o ritmo trabalhando apenas em casa, ao se mudar para a pequena cidade com seu namorado David (Geoff Stults), que também largou um grande emprego para se dedicar a sua própria micro cervejaria. Ao participar da guarda compartilhada da pequena Lily (Isabella Kai Rice), Julia entra em contato com a personalidade controladora da ex esposa de David, Tessa (Katherine Heigl), que acredita que Julia está roubando sua família. Ao descobrir o passado de abuso doméstico da rival, Tessa decide usar isso para tirar Julia de seu caminho, de um jeito ou de outro.

 

O longa marca a estreia na direção de Denise Di Novi, produtora ativa desde os anos 80, que viabilizou filmes como os primeiros sucessos de Tim Burton (Batman: O Retorno e Eduardo Mãos de Tesoura), além de Adoráveis Mulheres, Da Magia à Sedução e os dois filmes das Quatro Amigas e Um Jeans Viajante. Vendo sua filmografia, não é difícil perceber que ela se especializou na produção de filmes com protagonismo feminino. Não poderia ser diferente em sua primeira experiência na direção. Não é o homem que é o centro da trama, ameaçado pelo clichê da “ex maluca”. Porém, ainda melhor decisão do que tornar a personagem Julia o centro do filme, foi dar quase igual importância a Tessa. Apesar de construir para ela uma personalidade verdadeiramente obsessiva e desequilibrada, o roteiro também a humaniza ao dar-lhe uma herança abusiva e controladora herdada da mãe (a eterna pantera Cheryl Ladd) e que ela agora passa para a filha, tentando forjar uma aura de perfeição. Da mesma forma, é bastante sensível a maneira como é mostrada a relutância de Julia em compartilhar com o noivo seu passado de abuso sofrido de seu ex companheiro, devido a sua dificuldade em desassociar sua condição de vítima da ideia de fraqueza.

 

Paixão Obsessiva consegue evitar o óbvio seja desviando de vários clichês, seja se utilizando de outros de forma mais inteligente. Mas é principalmente no olhar e na voz feminina que o filme se destaca e tem seu maior trunfo. E não se pode deixar de citar (confiando de que NÃO se trata de spoiler) a espertíssima brincadeira com o velho clichê do vilão que, de alguma forma, ressurge no último segundo. Cuidado! O Mal nunca morre...


 

PAIXÃO OBSESSIVA (Unforgettable, 2017)

Com Rosario Dawson, Katherine Heigl, Geoff Stults, Isabella Kai Rice, Cheryl Ladd

Direção: Denise Di Novi

Roteiro: Christina Hodson e David Leslie Johnson

Fotografia: Caleb Deschanel

Montagem: Frédéric Thoraval

Música: Toby Chu

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