Por Ricky Nobre
SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO – 1 indicação
Todd Heynes olha para o passado de forma menos literal do que em seus filmes anteriores, como Longe do Paraíso, Velvet Goldmine e Carol, mas para uma versão atualizada e meio satirizada de um melodrama sensacionalista "baseado em fatos reais". A história de uma atriz que faz seu estudo de personagem diretamente com sua inspiração serve de base para uma obra que acaba não indo tão fundo nem na sátira, nem na sordidez do tema.
O embate entre as excelentes Portman e Moore é o grande trunfo de Heynes, que não esconde que não está, de forma alguma, conduzindo o filme com uma seriedade sisuda, o que fica muito claro na forma como Marcelo Zarvos adapta a música de Michel Legrand originalmente composta para o filme O Mensageiro (1971) que, não coincidentemente, também tratava do relacionamento de um garoto de 13 anos com uma adulta, evidenciando a dramaticidade exacerbada da trilha. A brincadeira com a música na cena da geladeira, logo no início, sugere que se seguirá uma sátira mais rasgada. Mas ela não vem.
Heynes balança nessa corda bamba entre seu olhar satírico ao sensacionalismo de tabloide e a extrema delicadeza do tema, onde o maior desafio é essa discussão sobre a normalidade de subúrbio de um casal composto por abusadora e abusado. A cena onde a personagem Gracie se mostra completamente incapaz de enxergar sua responsabilidade sobre seus atos a partir da confrontação do marido é o mais perto que Heynes chega do desenvolver esse tema em específico. O principal foco é em como a atriz Elizabeth vai se enfiando na vida da família e, especificamente, na de Gracie e as mudanças que o processo causa nas duas. Talvez se Heynes tivesse menos medo do ridículo do melodrama e sentisse menos necessidade de satirizá-lo, talvez conseguisse um maior engajamento do espectador a partir de algo mais honestamente despudorado. Parece um filme que não consegue decidir entre o escracho e a sutiliza e acaba não escolhendo nenhum, deixando o resultado morno. O trio principal do elenco acaba segurando tudo com certa coesão. Portman e Moore seguem num jogo claramente inspirado em Persona de Bergman, enquanto que Charles Melton dá a seu personagem, praticamente sozinho, toda a dimensão de sua tragédia através de um constante sentimento de falta.
COTAÇÃO:
INDICAÇÃO AO OSCAR:
Roteiro original: Samy Burch, argumento de Samy Burch e Alex Mechanik
SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO (May December – 2023)
Com: Natalie Portman, Julianne Moore, Charles Melton, Chris Tenzis e Gabriel Chung
Direção: Todd Haynes
Roteiro: Samy Burch
Fotografia: Christopher Blauvelt
Montagem: Affonso Gonçalves
Música original e adaptação: Marcelo Zarvos
GODZILLA MINUS ONE – 1 indicação
O extraordinário em GODZILLA MINUS ONE é que ele em momento algum tem vergonha em ser um filme de gênero. Abraça 100% o espírito de "filme de monstro" (o primeiro ataque é com 3 minutos de filme) e sequer se acanha de fanservice, com reproduções de cenas do primeiro filme de 70 anos atrás e apresentação completa do tema musical original em duas ocasiões chave. E, ainda assim, é um drama de pós-guerra não apenas emocionante, mas até um pouco perturbador, onde o ataque à Tóquio passa uma sensação de tragédia humana, de um horror para além do espetáculo visual. Mas, acima de tudo, é uma Nação encarando os horrores que sofreu e que infringiu, principalmente a si mesma. Uma obra que se posiciona firmemente contra a cultura de desvalorização da vida. Um filme sobre o verdadeiro fim da guerra. Tradicionalmente, Godzilla é uma metáfora sobre a era atômica e todo o trauma do pós-guerra. Em GODZILLA MINUS ONE, Godzilla é uma outra guerra, é sobre a culpa dos que sobreviveram, dos que não se consideravam dignos da vida. E sobre o POVO japonês assumindo seu próprio destino.
COTAÇÃO:
INDICAÇÃO AO OSCAR:
Efeitos Visuais: Takashi Yamazaki, Kiyoko Shibuya, Masaki Takahashi e Tatsuji Nojim
GODZILLA MINUS ONE (Gojira -1.0, Japão – 2023)
Com: Sakura Andô, Minami Hamabe, Ryunosuke Kamiki, Rikako Miura e Kuranosuke Sasaki
Direção e roteiro: Takashi Yamazaki
Fotografia: Kôzô Shibasaki
Montagem: Ryûji Miyajima
Música: Naoki Satô
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