por Eddie Van Feu
O ex-Lobo Antero já tinha falado de Tropa de Elite no Festival de Cinema aqui no Alcateia.com, mas o restante dos Lobos estava preso na senzala e só pôde ir ao cinema agora. Portanto, “Aspira 06” se apresenta agora para falar sobre o filme mais polêmico do ano.
Pra começar, temos um fator tão óbvio que deveria saltar aos olhos. Todo mundo já viu esse filme. Como? Pirataria. Que a pirataria é um fato, a gente já sabe. O espanto é todo mundo achar extremamente natural compactuar com um crime. Mais do que isso, é a falta de companheirismo com um filme que é nacional. Estamos roubando de nós mesmos, e, aparentemente, sem a menor consciência disso...
O que nos leva aos estudantes que vivem na ilusão, aos policiais que vivem de propina, à máquina que não anda, ao sistema que não funciona, numa linda e fatal alquimia que acaba explodindo na nossa cara. Tropa de Elite mostra muito bem e com detalhes essa explosão (que acontece todo dia, em todo lugar, o tempo todo...).
O filme é bom. Tem roteiro amarrado, diálogos marcantes, personagens interessantes e convincentes e uma fotografia linda, apesar de nem sempre mostrar algo muito bonito. Isso, você já deve ter ouvido falar também, então não vou me estender muito. Vamos nos concentrar então no mérito do filme. Violento? Fascista? Unilateral? É o Capitão Nascimento um herói nacional?
Admito que pelo que me contaram do filme, achei que o Capitão Nascimento fosse uma espécie de Rambo ou Charles Bronson. Pra minha surpresa me deparei com um pai de família tentando sobreviver a um comando estúpido. Ou seja, o mesmo papel que eu e você interpretamos todo dia num país em que o Governo inexiste em questão de segurança pública, saúde, educação, etc..., etc..., etc... É claro que ele é um herói nacional! Ele representa tudo o que nós gostaríamos de fazer! Ele tem a coragem que gostaríamos de ter, a inteligência e o discernimento que todos sonhamos ter um dia. E ele é maluco! Exatamente como nós ficaremos a qualquer momento, depois de viver mais alguns anos sob a pressão que estamos vivendo. Ninguém consegue viver sob pressão o tempo todo e sai impune. Daqui a pouco estaremos como os americanos, que de vez em quando sobem numa torre e atiram em estranhos.
Isso deveria ser um aviso muito importante. Mas ninguém parece estar ouvindo. Vimos claramente que o sistema está corrompido e ninguém parece ter a menor idéia de como consertá-lo. Mais do que isso, ninguém parece querer que isso aconteça. Para muitos, a situação é estranhamente cômoda. Em contrapartida, temos as discussões que deveriam estar acontecendo, mas não estão. Quer dizer, estão, mas numa direção meio torta. Não é um filme fascista, especialmente porque abriu um monte de discussões. Não exalta a violência, mas mostra uma realidade que o faz. O filme fez o que se propôs: mostrou em cores sóbrias e com bom humor o que acontece a nossa volta.
E agora? O que fazemos? Já vimos que o sistema não funciona porque está corrompido até o talo. Já vimos que essa... coisa (não tem outra forma de chamá-la) continuará a crescer até devorar a cidade, e depois o país, até não sobrar nada. O que fazemos? Abraçamos a Lagoa? Fazemos uma passeata de branco? O que fazemos??? Insistimos em não reagir na esperança de que o bandido tenha algum senso de ética e não nos mate assim mesmo? Gente! É sério! O que nós vamos fazer?
Não sei. O problema parece tão grande que cansa só de começar a pensar nele. Por hora, podemos prestigiar o filme no cinema, não por ser nacional, mas por ser bom. Podemos criar um pouco de vergonha na cara também e começar a agir como pessoas mais íntegras nas pequenas e grandes coisas. Como? A proposta é simples lição comercial: sem procura não tem demanda. Vamos parar de usar drogas. Ah, você já não usa? Ótimo, mais fácil ainda! Então, vamos parar de confraternizar com quem usa. Se você conhece pessoas que compram, exclua-as de sua agenda social. É um projeto de EXCLUSÃO SOCIAL mesmo. Puro preconceito, sem a menos culpa. Basta virar para seu colega de faculdade, seu vizinho que vive doidão, colega de escritório, seu irmão, ou mesmo seu filho e dizer: “Se você usa qualquer tipo de droga, não entra na minha casa, não senta na minha mesa e nem olhe na minha cara, porque não vou falar com você. Você é uma pequena peça de uma engrenagem que faz um estrago danado e permitir sua existência pacificamente do meu lado me torna cúmplice dessa máquina horrorosa”.
Note que não estou pedindo pra você subir o morro ou coisa assim. Mas simplesmente tomar partido. Ou você está do lado de lá, ou do lado de cá. E então, 02? Vai pedir pra desistir? Porque ficar no meio, não dá mais...
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