quinta-feira, 18 de junho de 2009

TROPA DE ELITE - Vai pra casa, Padilha!

por Patricia Balan



A crítica da Eddie Van Feu foi um bocado irritante. Ela tem a vantagem de não dormir e não parar. Ela sempre escreve o que eu quero escrever antes de mim!
Então vamos ver o que sobrou prá mim. Ela já falou da fotografia do filme... do roteiro do filme... Ah, mas não basta que uma loba só fale! O filme é muito BOM. O filme é bonito, sim – e muito bem dirigido. José Padilha ainda está sendo chamado de “extrema direita”, de glorificar a violência policial. Eu detesto ficar falando frase feita, mas: Vai pra casa, Padilha! Não tem como discutir com jornalistas que estão apavorados achando que o povo vai querer o regime militar de volta.
Honestamente... O que a mídia achou que iria acontecer? O povo está SEM VOZ NENHUMA! A mídia não enfrenta ninguém! As novelas estão cada vez mais burras, os humoristas estão cada vez mais politicamente corretos. Ficar fazendo piadas sobre sexo e pum não faz de ninguém um contestador – você é só mal educado. Quem tem poder de comunicação faz questão de tratar matérias profundas com superficialidade e matérias superficiais com profundidade.

Mas o Padilha... O que é que o Padilha tinha na cabeça? Se ferrou! Se ferrou de todos os lados. Porque é que ele não continuou com o discurso batido sobre as vítimas da sociedade?! Por que é que ele não apontou o dedo para a sociedade em geral, para o poder em geral, para o sistema EM GERAL para não apontar coisa nenhuma?! Mas o Padilha... O Padilha não tem juízo. Ele foi fazer um filme bom, honesto com os princípios da arte. Um roteiro bom, honesto com os princípios do roteiro. Pegou atores bons e fez uma preparação séria com atores que já eram bons!!! O Padilha não tem jeito! Se ferrou! O filme foi pirateado antes que a crítica e as distribuidoras pudessem falar qualquer coisa. Qualquer marketing enganoso ou correto foi por água abaixo porque o povo todo já aprovou! O filme está causando uma febre sem precedentes! Eu não me lembro de Rambo, Guerra nas Estrelas, ou qualquer final de novela que fosse tão popular. O Padilha deu voz a quem já estava de acordo com a Lei do Silêncio. Milhões de dólares investidos em um filme genuinamente BOM e o Padilha não vai ver nem metade do lucro que este filme já está dando. Coitado do Padilha... Mas, também, ele ESTAVA PEDINDO PARA SER ROUBADO! Igualzinho ao Luciano Huck. Quem manda fazer um filme bom e honesto sobre o Rio de Janeiro? Estava pedindo para ser roubado! Qualquer coisa linda de morrer e de qualidade acaba sendo arrancada de você nesta cidade. Esta é a lição que ficou para mim.

Oito entre cada dez pessoas que eu chamo para ver o filme comigo dizem: “Já vi! Estou com o filme lá em casa.” Chama o Nascimento!!! Pombas! Isso a Eddie já falou, mas eu vou falar também! Que tiro no próprio pé que o brasileiro deu! Ver esse filme trancado em casa com uma cópia inacabada é compactuar com a Lei do Silêncio. É como o policial corrupto que te olha com desdém perguntando se você tem provas. “O filme é um sucesso mesmo? Cadê as estatísticas? Filme pirata não entra em estatísticas, meu filho. Até onde se pode ver o filme não tem nada de especial...”

Mesmo que o filme seja um tremendo sucesso de bilheteria, como está prometendo ser, ninguém vai saber o quanto poderia ter sido melhor. Isso já foi dito milhares de vezes, até mesmo pelo José Padilha. A única coisa que eu posso dizer é... VAI PAGAR UM INGRESSO DE CINEMA, SEU ANIMAL!!! CONTRAVENTOR MISERÁVEL! TU TÁ DEVENDO UM INGRESSO PRO CINEMA NACIONAL, SEU FILHO DE UMA @¨%&$¨$(&%)*¨&!!!!!! TU PENSA QUE EU NÃO SEI QUE VOCÊ É DESONESTO, CONIVENTE COM TRAFICANTE, SEU IMBECIL!!! DESISTE DE FICAR NA MOITA E VAI PRO CINEMA!!! VAI PRO CINEMA, SEMENTINHA DO MAL!! Pega o saco aí, Eddie!

Chama o Nascimento!



Nana, playboy, que o Bope vai pegar
o foguete foi pro saco e o
Nascimento vai chegar...


A verdade é que a gente quer o Nascimento para os outros, e não para a gente. A violência policial já está sendo vista como resposta por muitos programas de AM e programas de televisão. Tanta gente já fala que tem que prender e matar e torturar. De qualquer maneira foi bom ver, depois de muito tempo, o medo dos bandidos com nome e sobrenome. Roberto Nascimento, figura fictícia que agora faz parte de todos nós. Quem sabe com esse nome acontece algum “nascimento” de inconformismo e a conivência morre.

Eu vivo com medo. Tenho medo do meu chefe, do meu governo, do meu gerente de banco, DO ASSALTANTE, do meu vizinho que eu não sei quem é... Foi bom para mim conhecer, ou pelo menos imaginar, qual seja o medo dessa gente que me dá medo. “Olha, seu traficante, pára de vender drogas aqui na escola senão vou chamar o Nascimento, viu? A polícia normal não vem, mas ele vem. Olha ele lá na esquina!”

o Nascimento não vem coisa nenhuma, mas vale a pena sonhar. O filme é uma boa fábula neste sentido.

Então, chama o Wagner Moura!
A escolha dos atores foi fantástica. Nada melhor do que escolher um ator que a gente viu crescer para interpretar o anjinho do Neto. Foi perfeito escalar um ator talentoso e desconhecido para viver o André Mathias, um sujeito que está desesperadamente tentando não ser reconhecido. Só que existe outro culpado para o sucesso deste filme. Com a devida admiração ao Caio Junqueira e André Ramiro, o Wagner Moura é show. Quando é que a gente ia acreditar que um capitão do Bope ia ter aquela cara bonitinha e ainda iria meter medo nos outros? O Wagner Moura mesmo não pode subir o morro para enfrentar os caras porque as mulheres iriam pular no pescoço dele muito antes! Desculpe, Seu Wagner. Com todo respeito. Seu talento é impressionante. Eu quase esqueci que o senhor é uma gracinha. Mas eu já vi o filme três vezes e, quando é assim, a gente nota certos detalhes.

Legal mesmo é descobrir que o cara que deu vida ao pavoroso Nascimento é um baiano tão sem pressa que tem um Fusca 68! Ele nem pode vender o carro porque deve respeito aos mais velhos. O carro é mais velho que ele! Não é a primeira vez que Wagner Moura faz com que o público se apaixone pelo vilão. Ele marcou presença ainda no sistema de roteiros sem sentido e repetitivos. Quando colocaram um roteiro de verdade na mão do sujeito ele arrebentou. Com mais alguns anos ele descobre que o Passat já foi fabricado e chega no estúdio mais rápido.

O bacana é que, para se livrar da pele do Capitão Nascimento, Wagner Moura está querendo fazer uma peça de Shakespeare. Ele vai ser Hamlet! Ora, bolas. Ele quer se livrar do Capitão Nascimento encarnando um sujeito depressivo que se veste de preto e que faz discursos com caveiras nas mãos?! Ô, Seu Wagner, pensa de novo. Eu já não consigo lembrar da peça do jeito que lembrava antes...

Gertrude: Meu bom Hamlet, tira estas cores noturnas e deixa que teus olhos te façam olhar como um amigo à Dinamarca. Bem sabes que é comum...
Hamlet: Mãe, meu uniforme é PRETO. E tu, Claudius! És moleque! És safado e corrupto! Mataste meu pai, não é, seu safado??!!! Olha-me nos olhos! Perdeste, dinamarquês incestuoso, assassino, maldito!! Perdeste!

Essa versão de Hamlet vai ser curtinha...

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