Por Ricky Nobre
Faleceu no último dia 24 de agosto o cineasta japonês Satoshi Kon, vítima de um câncer no pâncreas. Nascido em 12 de outubro de 1963, Kon formou-se na Faculdade de Artes Musashino, pretendendo tornar=se um pintor. Começou no mangá trabalhando com Katsuhiro Otomo (Akira) em World Department Horror. Ainda com Otomo, estreou nos animes em 1991 como desenhista de cenários em Roujin Z e em 1995 como roteirista em outra produção de Otomo, o filme Memories, onde Kon escreveu o primeiro episódio.
Em 1997, Kon fez sua estréia como diretor com Perfect Blue, uma série OVA que acabou se tornando um filme para cinema no meio da produção. O anime é um thriller psicológico extremamente violento e perturbador sobre uma cantora adolescente perseguida por um fã psicopata onde, aos poucos, a moça vai perdendo a sanidade e o contato com a realidade.
Em 2001, Kon realizou Milennium Actress, sobre a história de vida de uma atriz onde passado e presente se unem numa narrativa entrelaçada. Kon volta a ultrapassar as barreiras da realidade, mostrando que essa passaria a ser uma das principais características do seu estilo.
Em 2003 foi a vez de Tokyo Godfathers, adaptação de O Céu Mandou Alguém, do cineasta americano John Ford, onde três sem teto encontram uma criança no lixo e decidem cuidar dela e encontrar seus pais. Aos poucos, as histórias de cada um, um travesti, uma moça obesa e um pai que abandonou a família, vão se revelando. Kon abraça uma narrativa mais objetiva e pé no chão e acabou realizando um dos mais belos filmes daquele ano. Lançado no Brasil em DVD.
No ano seguinte, Kon produziu e dirigiu sua única série de TV, Paranoia Agent, sobre pessoas que são atacadas por um garoto com um taco de baseball. Com 13 episódios, a série enfia o pé na jaca do bizarro, uma mistura de Lost com David Lynch, e acabou não dando uma conclusão satisfatória, mas a viagem é mais do que fascinante.
Em 2006 veio sua obra prima. Paprika é baseado no livro de ficção científica homônimo e mostra um futuro próximo onde psicólogos utilizam uma máquina para entrar nos sonhos de seus pacientes e assim poder ajudá-los. A utilização dessa tecnologia fora da instituição de pesquisa desencadeia uma série de eventos que podem ter conseqüências cataclísmicas (claro, ou não seria um filme japonês). Um filme que trata quase que exclusivamente de sonhos se mesclando com a realidade tornou-se um campo perfeito pra Satoshi Kon desenvolver seu estilo e abrir totalmente sua imaginação. Foi muito comentada, inclusive, a semelhança de Paprika com o novo filme de Christopher Nolan, A Origem. Perto do final do filme, é possível ver fachadas de cinemas com chamadas e posters dos filmes anteriores de Kon, o que, coincidentemente, tornou-se um perfeito canto do cisne de um gênio que nos deixou tão cedo. Lançado no Brasil em DVD e Bluray.
Ainda não há uma confirmação oficial de que seu filme seguinte, The Dream Machine, será lançado postumamente, nem de quanto do anime chegou a ser produzido. Kon declarou que seria uma fantasia de aventura pra o publico jovem, mas que tanto os seus antigos fãs quanto o público mais velho iria gostar. Sem personagens humanos, o filme seria, em suas palavras, um “road movie de robôs”.
Só nos resta esperar se poderemos ter uma última pérola de Satoshi Kon para sonharmos acordados.
Um comentário:
Eu só liguei o nome a obra quando você citou o "Tokio Godfathers", foi o único que eu vi na lista (tremendo filmaço mesmo)!
Que puxa...
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