sábado, 4 de março de 2023

Os filmes do Oscar: NADA DE NOVO NO FRONT – 9 indicações

Por Ricky Nobre

Esta produção alemã vem preencher uma lacuna histórica, uma vez que o impactante livro de Erich Maria Remarque lançado em 1929 já foi adaptado duas vezes, mas apenas nos EUA, uma em 1930 e que levou os Oscars de melhor filme e direção, e outra para a TV em 1979. Uma visão alemã era esperada há muito tempo. Talvez tempo demais.

 

Em Nada de Novo do Front tudo é correto. A jornada dos amigos que decidem se alistar após um inflamado discurso ufanista do diretor da escola é trágica e violenta como o esperado. A empolgação das promessas de heroísmo é rapidamente esmagada pela realidade do confronto, onde tudo é caótico, urgente e não há tempo para chorar pelo companheiro que tomba. A ocupação alemã na França, que avançou míseros quilômetros em quatro anos de guerra, deixa seus soldados em momentos que alternam a violência cruel das batalhas e longos períodos de tédio onde nada acontece, sempre entremeado com a fome. Concomitante, os políticos e generais que decidem desfrutam de fartura e conforto em segurança.

 

Tudo isso chega à tela de forma estritamente padrão. A fotografia dessaturada, mas com fortes vermelhos, que Spielberg apresentou em O Resgate do Soldado Ryan há 25 anos, e que mudou para sempre o visual dos filmes de guerra, ainda é seguida aqui à risca. A câmera que acompanha o pânico dos soldados ao longo das trincheiras, que se joga no chão junto com eles em busca de proteção, o design de som que te joga dentro do conflito. Tudo correto e bem feito, assim como o ritmo da montagem e a ocasional alternância que acentua o contraste das condições dos soldados e das autoridades. É tudo tão padrão e clássico que causa espanto e estranheza os vários momentos em que a trilha musical se utiliza de fortes sonoridades eletrônicas e que parece que pertence a outro filme. 

 

Onde o filme parece acertar mais é na gradual desumanização do protagonista. Na última batalha, decidida num arroubo de frustração cruel de um general, o personagem quase que desiste da humanidade e sua expressão é vazia, movendo-se como uma máquina. É triste e trágico, mas não faz o filme se diferenciar de tantas dezenas de outros, ainda que filmes sobre a Primeira Guerra ainda sejam raros. O olhar de um cineasta alemão poderia ser muito valioso na tentativa de explorar um pouco mais o contexto político da época e talvez esmiuçar melhor qual foi esse sentimento que levou a Alemanha a uma guerra que estava perdida desde o início. Infelizmente, Edward Berger preferiu ser só correto e competente. E, sorte dele, esse é o tipo de mediocridade que a Academia aprecia tanto.

 

COTAÇÂO


 

INDICAÇÕES AO OSCAR:

Melhor filme

Melhor filme de língua não inglesa

Roteiro adaptado: Edward Berger, Lesley Paterson e Ian Stokell, baseado no livro de Erich Maria Remarque

Fotografia: James Friend

Música original: Volker Bertelmann

Som: Viktor Prášil, Frank Kruse, Markus Stemler, Lars Ginzel e Stefan Korte

Design de produção: Christian M. Goldbeck e Ernestine Hipper

Maquiagem e cabelo: Heike Merker e Linda Eisenhamerová

Efeitos visuais: Frank Petzold, Viktor Müller, Markus Frank e Kamil Jafar

 

NADA DE NOVO NO FRONT (Im Westen nichts Neues, Alemanha – 2022)

Com: Felix Kammerer, Albrecht Schuch, Aaron Hilmer, Moritz Klaus, Adrian Grünewald e Edin Hasanovic

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