domingo, 6 de março de 2022

Os filmes do Oscar: MÃES PARALELAS – 2 indicações

Por Ricky Nobre

O universo feminino é o tema principal da filmografia de Almodóvar. Obviamente, não o único, porém o mais recorrente. A maternidade em específico já nos deu dois dos melhores filmes do cineasta: Tudo Sobre Minha Mãe e o recente Dor e Glória. Mães Paralelas chega com a difícil tarefa de suceder este último, uma de suas mais belas e sensíveis obras. A maternidade, no entanto, vem acompanhada de um segundo tema, que é a dor coletiva da nação espanhola frente ao massacre ocorrido durante a ditadura franquista, mais especificamente, a dor das famílias dos desaparecidos. 

 

O tema dos desaparecidos é introduzido logo nas primeiras cenas, onde a fotógrafa Janis (Penélope Cruz, excelente) procura o antropólogo forense Arturo para ver a possibilidade da escavação da vala onde seu avô foi enterrado ainda nos primeiros dias da guerra. Os dois se envolvem e ela fica grávida, e acaba decidindo criar a criança sozinha. Na maternidade conhece a adolescente Ana (Milena Smit), também mãe solteira e que criará a criança quase sem a ajuda da mãe, uma atriz que, depois de muitos anos de tentativas, finalmente conseguiu avançar na carreira. A relação entre Janis e Ana se estenderá para além da convivência no hospital e se desenvolverá um laço estreito e inesperado.

 

Ao longo do filme, exceto por uma citação ou outra, o tema dos desaparecidos é abandonado e a trama das duas mães domina a narrativa. Bem ao seu gosto e talento, Almodóvar investe no melodrama com sua mão mágica, que acentua o espetáculo do sofrimento e da angústia, sem perder o domínio do potencial de cafonice da abordagem. Na década de 80, a crítica cinematográfica se lambuzava com o conceito de kitsch (um jeito chique de ser cafona) para definir o cinema almodovariano e, apesar das pinceladas bem mais sutis do que as de 35 ou 40 anos atrás, o diretor mantém essa estética e esse domínio. O mais importante é que ele, consciente da corda bamba do ridículo na qual anda o melodrama, sempre se equilibra e sustenta o drama e a emoção genuína e contagiante. Nisso contribui a música do parceiro de longa data, Alberto Iglesias, ainda que, em alguns poucos momentos, ela assuma leves contornos hitchcockianos que, pontualmente, parecem deslocados na narrativa.

 

O grande problema de Mães Paralelas é que, após uma dramática reviravolta, o tema das mães é abandonado, sendo substituído pelos desaparecidos. As últimas cenas apenas pincelam a resolução do drama principal do filme, onde tudo parece ter sido resolvido longe da câmera. Além de tomar apenas um pequeno espaço do filme, o tema dos desaparecidos não é desenvolvido satisfatoriamente. São apenas pinceladas grossas, ainda que firmes, que apenas rascunham esse aspecto do roteiro. E então, o filme acaba...

 

Da forma como se apresenta, Mães Paralelas parece dois filmes incompletos em vez de um que entrelace dois temas aparentemente díspares. Ainda assim, Almodóvar sugere com perspicácia os pontos de conexão entre os dois temas, como a dor de separações súbitas e não resolvidas. O roteiro merecia muito um trabalho mais profundo que entrelaçasse os temas, em vez de trata-los em blocos, unidos de forma bruta. Ainda assim, as duas histórias conseguem deixar marcada uma mensagem em comum: ainda que doa, a verdade acaba vencendo.

COTAÇÃO: 


 

INDICAÇÕES AO OSCAR:

Atriz: Penelope Cruz

Música: Alberto Iglesias

 

MÃES PARALELAS (Madres Paralelas, Espanha/França – 2021)

Com: Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde, Aitana Sánchez-Gijón e Rossy de Palma

Direção e roteiro: Pedro Almodóvar

Fotografia: José Luis Alcaine      

Montagem: Teresa Font

Música: Alberto Iglesias               

Design de produção: Antxón Gómez

 


sábado, 5 de março de 2022

Os filmes do Oscar: OS OLHOS DE TAMMY FAYE – 2 indicações

Por Ricky Nobre

Escândalos envolvendo políticos e religiosos costumam ter um forte impacto popular e midiático, provavelmente pela percepção da hipocrisia de manter um discurso que é avesso à prática. Não é fácil para o cinema, em um assunto como esse, esquivar-se de clichês e maniqueísmos, e o clássico Entre Deus e o Pecado (1960) de Richard Brooks seja talvez o melhor exemplo de complexidade ao tratar do tema. Os Olhos de Tammy Faye tenta de alguma forma seguir por esse caminho, mas apenas para a personagem Tammy. Ela e seu marido Jim Bakker foram a grande sensação do tele evangelismo nos anos 70 e 80, até que um grande escândalo de desvio de verbas (além de outros de cunho sexual) pusesse fim ao seu império. Tammy Faye, por sua personalidade e visual excêntricos, foi motivo de piada por muito anos, principalmente após o escândalo, e o filme se esforça ao máximo para jogar uma luz diferente sobre sua vida e sua história.

 

O diretor Michael Showalter (de Doentes de Amor) se arrisca ao estruturar seu filme como uma comédia (com tons dramáticos), levando em conta que é justamente o humor às custas da imagem pública de Tammy Faye que ele procura rejeitar e rever. O tom humorístico que permeia o filme procura dar leveza e uma certa credibilidade a um assunto que muitos do público consideram ridículo e até mesmo desonesto por definição. Tammy é mostrada como uma jovem verdadeiramente engajada com a evangelização desde que percorria a estrada com Bakker de cidade em cidade, enquanto, nesse mesmo período, este já era retratado com alguém que não era confiável para tratar de dinheiro. 

 

Tammy é retratada com duas características principais. A primeira é um real amor pela evangelização e pelas pessoas. Em diversos momentos do filme ocorrem choques entre autoridades religiosas e a postura de Tammy em relação a sexo, inclusão da população LGBT na igreja, sinceridade sobre a AIDS em plenos anos 80 e a noção de que a igreja é para todos. A segunda é uma ingenuidade quase infantil sempre que a questão financeira era abordada. No filme, Tammy parece não ver nada de errado no fato do casal estar nadando em dinheiro e luxo enquanto projetos financiados pelo público que doa diariamente por telefone permanecem sistematicamente atrasados. E essa ingenuidade parece capaz de isentá-la de qualquer responsabilidade sobre o ocorrido. 

 

O filme não se aprofunda em nada no que se refere aos escândalos financeiros, sexuais ou ao papel do tele evangelismo na política, principalmente na eleição de Reagan. Quem quiser algo mais aprofundado deve procurar o documentário homônimo realizado em 2000, no qual este filme se baseia. Mas o roteiro não deixa o espectador completamente deslocado nesses assuntos e dá dicas mínimas, porém precisas, espalhadas pelo filme. O foco é na personalidade esfuziante e luminosa de Tammy. E se isso é o suficiente para criar um filme charmoso, e até mesmo fascinante em alguns momentos, é graças ao monumento é que o trabalho de Jessica Chastain (que também produz o filme). Não apenas a maquiagem que a torna irreconhecível, mas a total imersão da atriz em sua personagem, que carrega o filme não só nas costas, mas na cabeça, no colo, na ponta dos dedos. Ela até mesmo canta todas as músicas do filme.

 

O filme é tão da personagem quanto é da atriz e o trabalho é de um nível tão excepcional que é capaz de suprir o vácuo deixado por todos os outros aspectos do caso que não são explorados e de todos os demais personagens que não são aprofundados. De certa forma, os demais religiosos do filme caem nos clichês dos quais Tammy é protegida pelo roteiro e direção. Por vezes, Tammy parece um oásis de luz e sinceridade, cercada de aparências de decência e hipocrisia cristã por todos os lados. Enquanto era cercada de mentiras e traição, Tammy era cobrada e julgada por ser real. E ela permaneceu real no seu mundo imaginário até o fim.

 

COTAÇÃO: 

 

INDICAÇÕES AO OSCAR:

Atriz: Jessica Chastain

Maquiagem e cabelo: Linda Dowds, Stephanie Ingram e Justin Raleigh

 

OS OLHOS DE TAMMY FAYE (The Eyes of Tammy Faye, EUA – 2021)

Com: Jessica Chastain, Andrew Garfield, Cherry Jones, Vincent D'Onofrio, Mark Wystrach e Sam Jaeger

Direção: Michael Showalter

Roteiro: Abe Sylvia

Fotografia: Mike Gioulakis

Montagem: Mary Jo Markey e Andrew Weisblum

Música: Theodore Shapiro

Design de produção: Laura Fox

sexta-feira, 4 de março de 2022

Os filmes do Oscar: RAYA E O ÚLTIMO DRAGÃO – 1 indicação

Por Ricky Nobre

O público de hoje problematiza facilmente (com certa razão), a personagem Ariel de A Pequena Sereia (1988), onde ela desiste de sua própria voz por um príncipe que mal conhece. Mas quem inserir o filme no contexto em que foi lançado, ou ter idade para ter visto em sua estreia nos cinemas, pode lembrar do impacto que foi ver, pela primeira vez, a princesa salvando a vida do príncipe. Pode não parecer nada hoje, mas na época foi um passo gigante. No filme seguinte, A Bela e a Fera, a heroína era culta, valorizava a leitura e era avessa à pequenez da mentalidade provinciana e aos avanços de Gaston, o maior “heterotop” da animação. Tá bom que o filme romantizava completamente uma relação extremamente abusiva, mas a Disney só dá um passinho de cada vez mesmo. Às vezes dois pra frente e um pra trás. E de passinho em passinho, se passam 35 anos, e chegamos a Raya.

O mais interessante de perceber nos indicados a melhor longa-metragem de animação deste ano são os três lançados pelo gigante conglomerado Disney, dois da Disney Animation (Raya e Encanto) e um da Pixar (Luca). Por mais radicalmente diferentes que esses três filmes pareçam (ou sejam) entre si, eles guardam um denominador comum: o efeito que os filmes do Studio Ghibli, particularmente os de Hayao Miyazaki, tiveram sobre seus criadores. O sucesso que cada um teve em usar algumas características desses filmes é variável, mas está claramente lá. E dos três pode-se dizer que Raya foi o mais bem-sucedido. 

No Reino de Kumandra, os mágicos dragões se sacrificaram para salvar a humanidade dos terríveis Drunn, e tudo que sobrou de sua magia foi guardada numa esfera luminosa. A cobiça da humanidade pelo poder da esfera dividiu Kumandra em cinco nações inimigas e, após 500 anos, um ataque termina com a quebra da esfera em cinco partes e a volta dos temidos Drunn. Cabe à jovem Raya, filha do líder que protegia a esfera, procurar o último dragão e tentar restaurar o artefato a partir de seus fragmentos e restaurar Kumandra, quase totalmente devastada.

Raya segue o caminho já iniciado em Moana (pois é, passinhos...) ao tomar para si a tarefa de salvar sua terra, com o agravante de carregar na consciência parte da responsabilidade pelo ocorrido. Tendo sido treinada como guerreira, ela vaga por pelo cenário pós apocalíptico por seis anos numa busca desesperada por uma solução. Em mais um passo adiante para o estúdio do rato, Raya é a primeira princesa Disney que não canta, e essa ausência de números musicais é um dos vários elementos que contribuem para um perfil um pouco menos infantil e mais juvenil do filme. A forma como o mundo de Kumandra e seus posteriores reinos, sua política e cultura, o cenário desolador pós quebra da esfera, tudo isso constrói uma ambientação que remete facilmente a filmes de Miyazaki como Nausicaä e Princesa Mononoke, assim como a própria figura de Raya lembra as heroínas não apenas do Studio Ghibli mas vários outros animes.

Todo o visual do filme é deslumbrante, seja pela cuidadosa pesquisa da cultura do sudeste asiático que inspirou Kumandra, mas também pelo apuro técnico, excelente qualidade da animação e belíssimo design. Como Disney é Disney (lembrem-se, passinhos...), o filme mantém diversos elementos mais infantis e clichês do estúdio, como os personagens fofinhos e cômicos, com destaque para o sensacional tatu-bola Tuk Tuk, um misto de pet com montaria e que é por si só um elemento de fantasia brilhante, e a bebê vigarista Noi, fofíssima e hilária, mas que guarda o risco de tirar alguns espectadores do clima de aventura do filme, por ser um pouco (pouquinho) excessivamente cartunesco. Todos os personagens que Raya vai encontrando e que vão se juntando à empreitada são ótimos, mas o grande destaque é mesmo Sisu, principal ponto de humor do filme mas também uma personagem de uma inocência que colide com a alma endurecida de Raya. Awkwarfina dá um show na voz de Sisu, que gravou seus diálogos no mesmo estilo de Robin Williams como o Gênio de Aladdin, improvisando boa parte do texto. 

Talvez o principal acerto de Raya ao se inspirar nos filmes do Ghibli seja em um aspecto em que Encanto também acertou e Luca falhou miseravelmente: os vilões. Em Raya não há vilão, mas antagonistas, a e principal é Namaari. Ao escrevê-la como uma personagem que não é “má” (nem a mãe de Namaari é vilã, apesar de tudo), os roteiristas dão à história uma dimensão mais delicada, menos maniqueísta, e uma verdade maior para cada um que busca proteger seus próprios reinos. Isso enriquece o drama, mas não diminui a força da mensagem do filme, de que toda a fonte do “mal” que devastou aquele mundo vem das disputas de poder dos humanos e de seus maus sentimentos, inclusive a própria existência dos Drunn. A relação entre Raya e Namaari mantém sempre uma tensão dramática elevada, e suas semelhanças, mais que suas diferenças, farão diferença ao final.

Os passinhos lentos da Disney a trouxeram até aqui, ainda que a equipe criadora de Raya tenha planejado algo mais ousado. Em versões preliminares do roteiro e dos desenhos de produção, a história tinha bem mais violência e Raya possuía um braço prostético. Não é mais do que o público é capaz de lidar hoje em dia. Mas é mais do que a Disney está disposta a arriscar. Raya podia ser um pouquinho só mais bruto, um pouquinho só menos fofo e engraçado. Mas do jeito que é já entrega uma princesa como o estúdio jamais mostrou. Raya faz história e nos traz um belo filme.

 

COTAÇÃO:


INDICAÇÃO AO OSCAR:

Melhor longa de animação

 

RAYA E O ÚLTIMO DRAGÃO (Raya and the Last Dragon, EUA – 2021)

Com: Kelly Marie Tran, Awkwafina, Izaac Wang, Gemma Chan, Daniel Dae Kim, Benedict Wong e Sandra Oh

Direção: Don Hall e Carlos López Estrada

Co-direção: John Ripa e Paul Briggs

Roteiro: Qui Nguyen e Adele Lim

Fotografia: Rob Dressel

Montagem: Fabienne Rawley e Shannon Stein

Música: James Newton Howard

Design de produção: Helen Mingjue Chen, Paul A. Felix e Cory Loftis

quarta-feira, 2 de março de 2022

Os filmes do Oscar: NÃO OLHE PARA CIMA – 4 indicações

Por Ricky Nobre

Adam McKay parece ser o novo amado da Academia. Desde o excelente A Grande Aposta, seus filmes são presença obrigatória na lista de indicados. Seu novo filme parece que pegou a tempestade perfeita. Originalmente concebido como uma metáfora dos tempos atuais de negacionismo, manipulação da opinião pública e fake news em geral e do aquecimento global em particular, Não Olhe Para Cima é uma sátira um tanto desconfortável e absurda (como é próprio das sátiras) que conjectura como um evento catastrófico global seria absorvido em uma conjuntura social e cultural como a atual. Provavelmente seria um filme de pouco alcance e impacto no público. Talvez sua sátira fosse compreendida de forma diferente, não se sabe. Mas algo aconteceu que alterou completamente o perfil da obra em comparação à sua concepção: o filme foi lançado durante um evento catastrófico global.

 

A pandemia de Covid-19 surgiu como um cometa no início de 2020 trazendo, quem diria, fake news, negacionismo e manipulação da opinião pública, além de um longo adiamento no início das filmagens, que aconteceriam em abril e passaram para novembro. Não é possível mensurar o impacto da pandemia e de que forma os artistas envolvidos absorveram as semelhanças entre o roteiro e o que de fato aconteceu nos EUA e no mundo no que se refere ao enfrentamento da doença. Mas com certeza foi significativo, e adicionou mais camadas à sátira. 

 

No filme, dois astrônomos descobrem um cometa de 9 quilômetros de diâmetro (um “assassino de planetas”) rumando diretamente para a Terra. Ao se encontrarem com a Presidente dos EUA e outras autoridades, descobrem que a prioridade são as eleições e a imagem do governo. O filme acompanha o desespero dos cientistas em alertar a população, a letargia alegre da mídia, polarização política e a ganância do capitalismo. 

 

Com os cinemas pouco frequentados por causa da Covid, o filme teve um lançamento limitado nas salas por três semanas, sendo lançado depois na plataforma da Netflix, que havia comprado o projeto da Paramount ainda em fevereiro de 2020. Lançado no final de dezembro de 2021 no streaming, o filme caiu como uma bomba, tornando-se o conteúdo recordista de visualização da Netflix. O público em sua maioria enxergou uma metáfora da pandemia e tornou o filme assunto onipresente nas redes sociais. 

 

Não dá pra fingir que Não Olhe Para Cima não foi lançado num mundo completamente diferente daquele em que o roteiro foi escrito. Ou melhor, não tão diferente assim. Diferente, mas igual. E esse é o segredo do sucesso do filme. Ao se relacionar a posteriori e muito diretamente à pandemia, o filme expandiu drasticamente seu público alvo, tornando a sátira muito mais evidente, mas também mais incômoda e perturbadora. Uma sátira não deve necessariamente ser engraçada. Ser perspicaz ou mordaz é, em diversas ocasiões, mais importante do que a busca do riso. Mas não é tarefa fácil apontar o quanto que esse incômodo vem da forma como o filme foi escrito e dirigido e o quanto vem do fato de que a proximidade do público com o assunto em questão faz a mensagem descer rasgando.

 

O filme tem um excelente elenco, mas o brilho de fato está com DiCaprio e Lawrence. O primeiro constrói um cientista inseguro, esmagado pela máquina estatal e midiática, que, ao tentar contornar sua inabilidade de comunicação com o público em geral, acaba por se tornar mais uma peça das engrenagens do poder. Já Lawrence representa a visão do público e sua vontade de xingar e socar todos os demais personagens do filme. Os dois dão a impressão de carregarem o filme nas costas, mas de fato eles nos carregam através de um emaranhado de absurdos muito bem armado por McKay e pela montagem de Hank Corwin. A piada aparentemente tola do general que cobra por água e amendoins que seriam de graça é uma versão micro da ganância capitalista, que surge bem mais adiante no filme, e que é apresentada como o grande carrasco da Humanidade no fim das contas. O filme até que poderia tem alguns minutos a menos (a relação entre os personagens de DiCaprio de Blanchet não é muito bem escrita e poderia ser encurtada), mas o tempo dispendido nas relações entre personagens não é perdido, pois essas relações são essências para se contrapor à loucura e à desonestidade (e desumanidade) que os protagonistas enfrentam.

 

Qualquer argumento que aponte como um problema os absurdos do roteiro, como a quase exclusiva (quando acontece) ação estadunidense na crise, a reação popular e governamental diante de uma ameaça tão extrema, ou qualquer coisa do gênero, colide frontalmente com o perfil satírico com o qual o filme foi concebido, onde o exagero de situações bizarras evidencia questões do mundo real. O absurdo é um dos principais instrumentos da sátira. E muito da agonia que venha a ser sentida pelo espectador vem de percepções pontuais de que os absurdos na tela se apequenam diante dos absurdos da realidade. “Não Olhe Para Cima”, que é o contra slogan do governo ao “Olhe Para Cima” dos cientistas, é o resumo do negacionismo e da política que mata, trazendo por trás sempre algum grande interesse econômico e político. O filme pode não possuir o brilhantismo de A Grande Aposta. Mas Adam McKay conseguiu, ainda que inadvertidamente, realizar um filme símbolo de seu tempo, que poderá ser usado como exemplo de sua época daqui a décadas.

 

COTAÇÃO:


 

INDICAÇÕES AO OSCAR:

Melhor filme

Roteiro original: (argumento: Adam McKay e David Sirota)

Montagem: Hank Corwin

Música original: Nicholas Britell

 

NÃO OLHE PARA CIMA (Don’t Look Up, EUA – 2021)

Com: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett, Rob Morgan, Jonah Hill, Mark Rylance, Tyler Perry, Timothée Chalamet, Ron Perlman, Ariana Grande, Himesh Patel e Melanie Lynskey.

Direção: Adam McKay

Roteiro original: (argumento: Adam McKay e David Sirota)

Fotografia: Linus Sandgren

Montagem: Hank Corwin

Música original: Nicholas Britell

Design de produção: Clayton Hartley

 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Les Misérables School Edition: Garotada Fazendo Trabalho de Gente Grande

Por Eddie Van Feu

 

A história contada por Vitor Hugo representando uma sociedade em colapso de fome e pobreza do século XIX ressurge com um elenco jovem e uma amarga sensação de familiaridade com o tempo presente.

 


Se você não leu o livro homônimo de Vitor Hugo, certamente já viu ou ouviu falar do musical da Broadway que vem se tornando um dos maiores sucessos na história dos musicais ao longo de sua carreira. No Brasil, tivemos a montagem oficial em São Paulo em 2001, que eu nunca me perdoei por perder, pois estava em São Paulo nessa época trabalhando nos eventos de anime, vendendo nossos mangás e tudo o mais. Felizmente, em 2017 eu tive uma nova oportunidade e me emocionei com a beleza e perfeição do espetáculo de quase três horas. Fiquei imaginando quando poderia ver de novo. Me contentei revendo o filme e a mini série com Gerard Depardier.

E numa surpresa boa (porque parece que somos constantemente alvejados no Rio com surpresas ruins), descubro que Les Mis está no Rio! Não a versão oficial, mas a versão teen. Com um orçamento mais modesto, a mesma letra em Português de Cláudio Botelho, Les Mis chega com uma nova geração para contar uma história eterna.

A duração é menor e há um intervalo para quem precisar fazer um rápido xixi ou esticar as costas. Fiquei imaginando quais músicas não entrariam para que a versão carioca fosse mais curta. A resposta é NENHUMA! Todas as canções estão lá, interpretadas com todo o talento que se pode esperar. O que a torna mais curta são cenas que foram simplificadas e tornadas mais ágeis, por falta dos recursos pirotécnicos que a versão de São Paulo oferecia.

Mas que isso não desanime o espectador! Deixe-me contar um pouco mais para você saber o que esperar.



Apesar da foto emblemática que representa o musical ser a menininha Cosette, a história começa e termina com Jean Valjean, homem que cumpre uma pena cruel por ter roubado um pão para o filho pequeno da irmã. Estamos numa França pós Revolução que não mudou muito. Seus miseráveis continuam trabalhando em condições inumanas, por migalhas que não conseguem sustentá-los. A Lei, dura e cega, é representada pelo oficial Javert, que não vê nada além da lei que deve cumprir. É ele quem presencia Jean Valjean quando este cumpre sua pena e o sentencia a nunca ser nada mais do que um ladrão. Valjean não cumpre essa profecia e se torna muito mais. No meio disso tudo, jovens estudantes sonham com uma revolução que acabará com a injustiça social! Um sonho bonito, cheio de energia, mas sem nenhum projeto real. Jovens se apaixonam, vivem o primeiro amor, vivem o abandono e a solidão.


Isso tudo é cantado, claro! E nesse caso, muito bem cantado! Gabriel Boliclifer encarna o Jean Valjean, e JESUS, MARIA E JOSÉ!!! QUE VOZ É ESSA??? Límpida, sem um desafino, emocionante, lá fui eu chorar e embaçar os óculos em vários momentos em que esse jovem ator preencheu o palco com sua presença. Não bastasse cantar bem, ele acompanha o personagem com postura e feições, desde de sua forma quase animalesca quando decide se tornar um criminoso, até quando o tempo vai imprimindo sobre ele sua pisada.

Seu perseguidor implacável, Javert, é interpretado por Leornardo Araújo, cuja voz alcança nossa alma e nos dá o entendimento de sua visão de vida. Sua presença de palco é excelente, e convence como o policial determinado a caçar seu fugitivo até o fim dos tempos. Somos apresentados à pobre Fantine, cujo destino miserável dá a direção da história. Sophia Fried tem uma linda voz e é bem comovente, especialmente quando brilha em sua tristeza no clássico I Dreamed a Dream. Outra personagem de história infeliz é a também miserável Eponine, filha do casal de picaretas cômicos, os Thenardier. Eponine é o retrato de todos que já amaram sem ser amados e, sozinhos num sonho triste, deixam que o amor cresça tanto que ver o ser amado feliz se torna o suficiente. Letícia Ballard tem um jeito de menina faceira, malandra, fazendo com que Marius nem perceba a beleza que ela esconde e o amor que ela nutre. Marius (Eric Daumas) é o jovem apaixonado que se divide entre viver a revolução ou viver um grande amor. Ambos são talentosos e cantam bem, considerando que estão apenas no começo de suas carreiras. Enjolras, interpretado por Enzo Campeão, é o jovem líder da revolução. Sua voz não possui tanto alcance, mas o talento está lá e ele me convenveu a lutar com ele. Só não subi no palco para pegar em armas ao lado dele porque os seguranças não deixaram. Cosette adulta é interpretada por Danielly Ruf, que não bastasse ser uma princesa no palco, tem uma voz de sereia que não desafina uma única vez.

E ainda temos os pequenos Gavrauche e a pequena Cosette. Lia Campos empresta a Gavrauche a malandragem das ruas e seu jeito destemido, enquanto a pequena Cosette na pele de Alice Pinheiro canta seu sonho com um castelo onde não precise varrer o chão e possa ser amada. Dá vontade de levar os dois pra casa!

Cereja do bolo é o casal de Thenardier, que são detestáveis, mas ao mesmo tempo, engraçados, graças à interpretação de Matheus Ananias e Elisa Toledo, que dão personalidade e graça aos seus personagens.

Alguns dos atores se repetem em outros papéis menores, enquanto temos também miseráveis, estudantes, prostitutas, mães em luto, guardas e clientes da taberna, sem os quais a peça não teria brilho nem cor. Cada um se doou ao seu personagem, e isso ficou claro nas pequenas ações, como no bocejo da revolucionária de vigia na barricada e as palavras duras da prostituta que Fantine encontra. O cenário, cru e em madeira, simples e direto ao mostrar a pobreza onde a maioria dos personagens vive, é o pano de fundo para que vejamos tudo acontecer.

A peça tem direção de Menelick de Carvalho, direção musical de Claudia Elizeu e preparação vocal de Léo Wagner, que já foi Jean Valjean no Brasil, onde se destacou tanto que foi convidado a fazer o mesmo papel na versão mexicana. São essas pessoas que tornaram esse projeto viável, colocaram esses jovens no palco e os ajudaram a brilhar.

O elenco pode mudar nos dias de apresentação, pois há uma alternância de papéis para que mais pessoas tenham oportunidade de mostrar seu talento, o que é uma ótima ideia.

Ao fim da peça, o elenco vende rifa e copos comemorativos para ajudar a pagar a produção. Tenho meu copo dos Miseráveis e estou feliz!

 

‘Les Misérables School Edition’ terá sessões em diferentes datas durante dezembro. Estreando no dia 3 (sexta-feira) às 20h, dia 5 (domingo) às 18h, dia 8 (quarta-feira) às 16h, dia 18 (sábado) às 16h e 20h, dia 21 (terça-feira) às 16 e 20h e finaliza a temporada no dia 22 (quarta-feira) com sessões às 16h e 20h.

Os ingressos estão à venda pelo https://bileto.sympla.com.br/event/70234/d/116334

Serviço
Local: Teatro Prudential
Rua do Russel, Glória, 804, Rio de Janeiro
Ingressos a partir de R$ 25
Temporada:até 22 de dezembro
Dias: Dia 8 (quarta-feira) às 16h, Dia 18 (sábado) às 16h e 20h, Dia 21 (terça-feira) às 16 e 20h, Dia 22 (quarta-feira) com sessões às 16h e 20h.

Duração: 150 min
Classificação etária: 12 anos

Ficha Técnica
Texto, músicas e letra original: Bolbill e Schonberg
Baseado no romance Les Misérables de Victor Hugo
Versão Brasileira: Cláudio Botelho
Direção geral: Menelick de Carvalho
Assistente de Direção: Vitor Louzada
Direção Musical: Claudia Elizeu
Assistência de Direção Musical: Sulamita Lage
Preparação Vocal: Léo Wagner
Preparação de Atores e Coordenação Pedagógica: Reiner Tenente
Direção de Produção: Joana Mendes
Produção Executiva: Duda Salles
Cenário e figurino: Nícolas Gonçalves, Jovanna Souza,Rebecca Cardoso, Gabriel Boliclifer e Luisa Rossi

Elenco: Letícia Ballard, Nico Leão, Julia Vilhena, Thaíssa Aceti, Sophia Fried, Sidarta Senna, Laura Rabello, Cecilia Diniz, Fernanda Bicudo, Matheus Ananias, Lia Campos, Ísis Câmara, Eric Daumas, Luísa Rossi, Juliana Queiroz, Enzo Campeão, Tereza Neves, Leonardo Araújo, Dani Ruf, Gabriel Boliclifer, Alice Pinheiro, Mariana Magalhães, Maria Luisa Amado, Elisa Toledo.




 


domingo, 12 de setembro de 2021

Dylan Dog e as Criaturas da Noite: Um Equívoco do Início ao Fim

 Eddie Van Feu
 
O filme é de 2011, mas eu só vi agora e a experiência foi tão esquisita que eu tinha que compartilhar com você! 





Inspirado em uma série de quadrinhos que rola até hoje e tem uma grande base de fãs, ele traz Brandon Routh no papel título. Nos quadrinhos, Dylan Dog é um detetive que investiga casos paranormais em roteiros interessantes, como no caso do homem que era tão inexpressivo em sua vida que acaba se tornando invisível, literalmente. Aí eu pensei: “Ah, um filme baseado em quadrinhos com terror e Brandon Routh! O que pode dar errado?” Então, tudo!
Pra começar, direção e roteiro são medíocres em essência e me ofende que essa gente tenha ganho dinheiro por isso. A inspiração nos quadrinhos começa no título e termina no fusquinha que Dylan dirige. As atuações são terríveis. A trama parece ter sido escrita por um Mestre de RPG Lobisomem de 12 anos em um dia ruim.



Dá pra perceber que tem algo errado nos primeiros três minutos de filme. Foi, aliás, quando eu parei e só retomei por teimosia alguns dias depois. Na primeira sequência, que já é um cliché em si, há uma tremenda falta de ritmo que já aponta que a direção é desastrosa. O momento de suspense com amimais mortos empalhados em uma sala escura não funciona, graças à atriz com cara de papel em branco e a trilha sonora inexistente. A seguir, vemos Brandon Routh jogando pela janela qualquer referência ao personagem agindo como um detetive super mega fodão que acerta todas, prevê o futuro e não tem medo de nada. Atenção! Não é culpa do ator! Ele seguiu o roteiro e o diretor.




Daí em diante é ladeira abaixo. O amigo de Dylan, Marcus, que deveria ser um alívio cômico, fracassa retumbantemente e não sei se podemos culpá-lo. Suas falas são péssimas, o humor não funciona, e o texto se detém tempo demais em piadas sem graça (na esperança de que se esticarem bastante consigam fazer alguém rir). A mocinha não tem fala, expressão, carisma e é tão esquecível que ninguém lembra dela no final, depois da batalha que deveria ser o clímax.



As cenas de ação são tão ruins, mas tão ruins, que eu comecei a me perguntar se o filme era dos anos 80. “Não pode ser! O Brandon Routh está ali! Eu o estou vendo!”, pensei. Gente! É sério! As lutas são piores (BEM PIORES) que qualquer episódio de Buffy e Angel, que são para a TV e anteriores! Os efeitos de vampiros, inclusive, são muito similares aos de Buffy. O lobisomem que aparece no começo é claramente alguém de macacão peludo! Aí eu pensei: “Coitados! Deve ter sido uma produção com pouco dinheiro!” Eles tiveram 20 milhões de dólares! VINTE MILHÕES! E segundo alguns sites, 35 milhões! Ah, eu pedia uma auditoria! CPI neles!
O roteiro é simples e previsível, com direito a artefato mágico que faz algo incrível. Só que nada é explicado corretamente, graças ao texto horrível e a péssima direção, deixando tudo um pouco confuso. Só dá pra entender porque é muito básico mesmo e porque alguém depois faz questão de explicar para a audiência que cochilou no meio.
Enfim, eu vi até o final porque era como alguém vendo um acidente acontecendo. Não encontrei uma explicação para o filme ser tão ruim. Para os fãs do quadrinho, foi uma ofensa. Para os que só queriam um bom filme, foi uma decepção. Não funciona nem como um, nem como outro. Sinceramente, eu teria feito bem melhor.



quinta-feira, 9 de setembro de 2021

"Um Casal Inseparável", com Nathalia Dill e Marcos Veras, estreia hoje nos cinemas

Hoje é dia de lançamento nos principais cinemas da cidade. “Um Casal Inseparável” estreia hoje com distribuição da H2O Films. Na história, o relacionamento da professora de vôlei de praia Manu (Nathalia Dill) e do pediatra Leo (Marcos Veras) fica em risco após um mal entendido. A produção do filme é da TvZERO, com coprodução da Globo Filmes e Telecine, e direção de Sergio Goldenberg.  Confira o trailer. 




A agência Atabaque é a responsável pela campanha de lançamento e ativação em todos os aplicativos de música de “Água de Chuva no Mar”, clássico originalmente gravado por Beth Carvalho, que ganhou uma versão exclusiva interpretada por Mart'nália, feita para a trilha original do filme “Um Casal Inseparável”.

 “Um bom lançamento de uma trilha sonora original potencializa o lançamento do filme e vice-versa. A Atabaque acredita nessa sinergia e estamos confiantes com essa parceria com a TV Zero”, afirma André Izidro, sócio da Atabaque.



A Atabaque tem a proposta de trabalhar a música como negócio em todos os âmbitos, sendo uma aceleradora de talentos e um laboratório de experiências para desenvolver carreiras, projetos e criar oportunidades. Liderada pelo ex-CMO da powerhouse Kondzilla, André Izidro, e pelo sócio Odilon Borges, advogado com especialização em Direitos Autorais, contratos internacionais e licenciamento; a Atabaque tem o objetivo de analisar dados, conectar pessoas e criar hits.

Saiba mais em @atabaque.biz


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

A Cisterna: Suspense de Corrupção e Vingança

por Eddie Van Feu


Uma jornalista ambiciosa é sequestrada e colocada em um poço. Suas matérias sobre corrupção na distribuição de água parecem uma boa causa, mas nem tudo o que parece é. Nesse dirigido por Cristiano Vieira (“Eu Sinto Muito”), acompanhamos o desespero de Lorena para sobreviver, com um pano de fundo que envolve corrupção, ambição e erros fatais de quem julga rápido demais.



Filmado com simplicidade e elegância, A Cisterna toca em uns pontos interessantes, nevrálgicos na nossa sociedade. A personagem principal, interpretada por Fernanda Vasconcelos, é uma jornalista ambiciosa e destemida que não se omite na hora de confrontar crimes, seja a corrupção no sistema de água que tira seu lucro da seca e da escassez, seja acusando um padrasto de pedofilia e fazendo-o perder a guarda da filha. Sua gana e coragem, a princípio admirável, é o que a coloca em perigo. Sua ambição também compromete a criação da filha única e coloca na mesa a questão: mulheres podem ser profissionais de sucesso E serem boas mães? Deveríamos mesmo cobrar isso delas? Por que não cobramos o mesmo dos homens?



Ao mesmo tempo, acompanhamos o ator chileno Cristobal Tápia Montt, um homem melancólico, amargo e infeliz, que vive um conflito interno invisível aos que o rodeiam.

O filme cumpre seu papel de abrir questionamentos para quem estiver disposto a olhar os detalhes além da trama. Também não deixa nada a desejar quando o tema é suspense. A trilha de Dudu Maia é discreta, parece um coração batendo em tensão enquanto nos sentimos presos dentro de um poço sem saída.

Cristiano Vieira, que também escreveu além de dirigir, faz um bom trabalho ao mostrar uma coisa com uma mão, enquanto prepara uma surpresa com a outra, como um bom truque de mágica. É um filme todo certinho, sem grandes arroubos, mas também sem grandes erros. É uma boa diversão para quem gosta de uma boa história. Destaque para as ótimas interpretações da belíssima Fernanda Vasconcelos e do talentoso Cristobal Tápia Montt que convencem do início ao fim.

A Cisterna foi filmada em Brasília em 2019 e teve seu lançamento atropelado pela pandemia, como tantos outros. Com estreia para o dia 09 de setembro nas plataformas iTunes, Now, Google Play, Vivo e Oi.

Incluído na seleção oficial do New York Cinema Festival, o filme terá sua estreia internacional no festival que terá início em 24 de outubro. O filme também fez parte da seleção oficial do Festival de Havana na edição de 2020.