segunda-feira, 15 de junho de 2009

Muito papo, nada a dizer

por Eddie Van Feu



Entre a produção brasileira de novelas e a produção americana de filmes e séries, vemos um abismo cada vez maior. De tanto me perguntarem se eu estava vendo a nova novela das oito "porque ela era a minha cara", resolvi dar uma olhada. O tempo que perdi ouvindo coisa nenhuma só foi salvo pela beleza estonteante das roupas, maquiagem e cenário. Foi aí que percebi... De dez anos pra cá, pelo menos, as novelas parecem se esforçar para não dizer nada. Na verdade, a intenção é distrair. E no sentido literal da palavra.

Sempre vi séries e elas eram vazias. William Shatner eram um policial durão que resolvia todos os crimes da cidade, conhecia todo mundo, tinha todas as habilidades possíveis, e jogava em todas as posições. Ele mesmo suspeitava do crime, fazia a perícia, perseguia o criminoso, se pendurava num helicóptero e, às vezes, ainda fazia o advogado em algum tribunal muito liberal. No Esquadrão Classe A, tudo explodia, ninguém morria. MacGyver era de uma ingenuidade incomparável. E eu nem vou citar as outras coisas que eu via!

Hoje, no entanto, as séries parecem ter evoluído em linguagem e roteiro de uma forma surpreendente. Nem todos têm acesso a elas, pois a TV a cabo no Brasil ainda é um luxo. Mas ainda vale a pena alugar ou comprar séries como Justiça Sem Limites (Boston Legal), uma spin off esquizofrênica de O Desafio, ambos de David E. Kelley, que mesmo casado com a Michele Pfeiffer, ainda arruma tempo pra escrever coisas fantásticas. As discussões, os temas controversos, a realidade americana e mundial, o sarcasmo, a amizade e o amor, tá tudo lá. A gente termina de ver e se sente compelido a pensar.

Plantão Médico, Private Practice, Supernatural, Buffy, Nip Tuck, Lei e Ordem, todos são puro entretenimento. Mas todos têm algo a dizer. É só prestar atenção e sairemos com mais informação para ter uma opinião. Até Uma Família da Pesada pega pesado, mas fala alguma coisa!!!

Por outro lado, depois de ver 15 minutos de uma novela, eu me pego pensando em quanto tempo aquilo ainda vai durar e se seria muito inconveniente fingir que recebi um telefonema urgente do meu gato e preciso sair correndo. Quando passava Itália Nossa, comprei um lindo lenço de tricô de cabelo. Foi só sair com ele da loja para as pessoas me apontarem e gritarem "Ana Paula Arósio!!!!". Descobri que o lencinho era uma moda. Guardei. Não tenho nada contra nossas novelas ditarem a moda. Mas, sinceramente, elas tinham que fazer mais do que fingir dizer alguma coisa. Meu lenço foi aposentado não por causa da Ana Paula Arósio (que eu adoro), mas porque eu não queria que me olhassem e me vissem como alguém que segue a moda da novela. Eu gostaria que me vissem como algo mais.

Por isso, vamos lançar uma campanha? Quem gosta de escrever, vamos escrever? Vamos trocar idéias? Vamos dominar o ego no chicote e nos tornarmos bons escritores? Talvez assim, daqui a alguns anos, possamos ver novelas de qualidade de novo, como O Bem Amado, Pecado Capital e Roque Santeiro. Até lá, a gente espera e curte as coisas legais que a Internet democratizou.

E já que estamos falando de coisas que não dizem nada, vamos nos divertir com este clipe que não diz nada, mas diverte pra caramba!

2 comentários:

Helder disse...

Mahnahmahnah para todos!

Mostrei seu post para um amigo que é professor de português - e também diretor daquela comédia sobre Machado de Assis que você não foi ver....ai ai ai(!) - e ele gostou muito da proposta e vai levar o video e a discussão pra sala de aula: linguagem não verbal das coisas do dia a dia!

Amanhã seu nome sai dos círculos esotéricos e vai direto para as escolas da prefeitura..hehe
Quem sabe assim não aumentamos os artistas literários incubados daquelas criancinhas?

Mahnahmahnah!!!

Helder.

Eddie disse...

Mahnahmahnah pra você também, Helder!!!!

Legal a notícia do seu professor!!! Fiquei empolgada e vou começar a postar textos meus escritos sobre como escrever um roteiro, construir um personagem, vícios do escritor, ciladas, dicas, truques, etc... A vida de escritor não é lá muito fácil... Mas é muito divertida! Ah, e desculpas por não ter ido na peça. O convite ficou no mural, sumiu um, ficou outro. Fiquei com ele na agenda determinada a ir ver. Mas esqueci de Brasília, com Kodama, Avalon e tudo o mais. Quando eu vi, já tinha passado! No próximo EU VOU!!! Beijos!