quinta-feira, 11 de maio de 2017

ALIEN - COVENANT: A volta do monstro maldito!


Por Ricky Nobre


A franquia cinematográfica de ALIEN é bastante peculiar. Desenvolvido como um filme sem qualquer pretensão a uma sequência, a produção original de 1979 tomou o público de assalto em um momento muito específico. Dois anos antes, Star Wars tinha acabado de tirar a ficção científica ambientada no espaço da esfera do cinema B ou cult. O Império Contra Ataca nem havia chegado ainda nos cinemas quando o jovem Ridley Scott (Blade Runner), especializado em comerciais com um único longa metragem no currículo, chegou subvertendo as expectativas, levando o monstro alienígena dos velhos filmes B dos anos 50 para o espaço sideral, onde as vítimas são um grupo de rudes “caminhoneiros espaciais”, numa obra de uma sofisticação e brutalidade sem precedentes. Oito anos se passaram até que viesse uma continuação, onde o também novato James Cameron (O Exterminador do Futuro) transformou o monstro solitário numa horda de aliens que enfrentam um grupo de fuzileiros armados até os dentes numa escala totalmente superlativa, como é típico do diretor. Mais seis anos e o estreante David Fincher (Se7en) revisitava a claustrofobia do filme original, com doses extra de morbidez, na terceira parte da série, retalhada e desfigurada pelo estúdio e que levou dez anos para ser recuperada em DVD na sua glória original, no capítulo mais subestimado da franquia. Mais cinco anos para o quarto filme, inteligentemente escrito por um garoto chamado Joss Whedon (Os Vingadores) mas fatalmente mal interpretado pelo cineasta francês Jean Pierre Jonet (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain), com seu senso de humor e de grotesco totalmente inadequados à franquia. 

 

Ignorando as duas partes da sub franquia Aliens vs Predador, foi com imensa surpresa que os fãs receberam o anúncio de que Ridley Scott ressuscitaria a franquia original após 15 anos de hiato com um prequel que, supostamente, contaria a história da nave encontrada pelos personagens no primeiro filme e apresentaria a origem dos mais perfeitos e assustadores monstros da história do cinema. Após uma série de constantes mudanças no roteiro, Prometheus chegou com pouquíssima relação com os filmes originais, porém com elementos reconhecíveis o suficiente para ser impossível ignorar que se tratava do mesmo universo. Com um roteiro falho, personagens constrangedoramente desinteressantes e cortes de cenas que tornariam o filme menos tolo e mais plausível, o filme foi uma imensa decepção para os fãs, além de um fracasso de crítica. Por causa disso, a segunda parte do que se anunciou ser uma “trilogia de prequels”, cinco anos depois da anterior, vinha sendo aguardada com muita desconfiança, ainda que o bom e velho alienígena xenomorph original tenha finalmente dado o ar de sua graça no pôster e nos trailers.

 

Não, o velho gênio Ridley Scott de Alien, Blade Runner ou Gladiador não está novamente em sua plena forma. Porém, se comparado a sua filmografia (variadíssima, por sinal) nos últimos 15 anos, podemos dizer que um pouco de seu velho talento ressurgiu das cinzas junto com o monstro ácido e gosmento. Logo a princípio, percebemos que esses novos personagens (cuja expectativa de vida, todos sabemos, será bastante curta) são muito mais interessantes do que os de Prometheus, onde só a protagonista e o androide despertavam qualquer atenção. Apesar da superficialidade imposta pelo pouco tempo para desenvolver tantos personagens, eles são bem escritos o suficiente para o público conseguir se importar com suas mortes, algo impossível no filme anterior. Katherine Waterston compõe muito bem a heroína involuntária Daniels, seguindo a tradição de mulheres fortes da franquia, e Michael Fassbender dá um verdadeiro espetáculo, capaz de sutilezas que falam ainda mais do que seus excelentes diálogos. 

 

Até certa medida, o roteiro é bastante feliz ao expandir o tema de Prometheus sobre criador e criatura, as motivações da criação, e a relação entre os dois. E também até certo ponto, ele até consegue consertar o filme anterior, tapando alguns buracos e dando até significado para sua existência dentro da proposta dos prequels. Por outro lado, todo esse conteúdo é concentrado nos personagens dos androides, enquanto os humanos acabam tendo como objetivo quase exclusivo a sobrevivência.

 

Desnecessário falar da qualidade e beleza visual do filme, uma vez que isso sempre foi uma característica do cinema de Scott, mesmo em sua pior fase. O visual, porém, não imprime ao filme uma personalidade própria e original, mas procura, em certa medida, evocar a estética do primeiro filme. Daí podemos identificar um dos dois principais problemas de Covenant. Passando por diretores e roteiristas completamente diferentes, cada filme foi imprimindo sua visão própria do monstro e seu universo, além, é claro, da personagem Ripley, a grande heroína da série. Personagens, atmosfera, visuais e o tom geral de cada filme era único. Nesses novos prequels, Scott evoca o visual original, porém atendo-se mais às criaturas e aos designs externos das espaçonaves. Enquanto vemos os novos filmes de Star Wars evocarem o designs originais dos velhos filmes, procurando não provocar um contraste tecnológico inverossímil, em Covenant (da mesma forma que em Prometheus), a tecnologia parece muito mais avançada do que a nave Nostromo no clássico de 1979. Porém, mais importante do que isso, é um design bonito e competente mas que não apresenta nada de novo, e originalidade sempre foi uma característica da franquia. 

 

Na mesma medida, os compositores da série sempre apresentaram trilhas musicais que faziam parte indissociável da identidade de cada filme. Em Covenant, Jed Kurzel pega emprestado os temas originais de Jerry Goldsmith para o primeiro filme, usando-os em momentos específicos, citando até mesmo o tema musical de Harry Gregson-Williams para Prometheus (o que foi feito com bastante inteligência, é necessário reconhecer). Em todo o restante, ouve-se nada mais do que sound design travestido de música (o que se tornou padrão em Hollywood nos últimos 15 anos) e tentativas de replicar a sonoridade de Goldsmith para o filme original. Não há originalidade nem voz própria. 

 

Outro problema, que vai incomodar particularmente aos fãs, é a aparição limitada do xenomorph original e o baixo número de vítimas abatidas por ele. Ainda que cada criatura do filme apareça de forma gradativa e bem pensada dentro da trama do filme, a participação do bicho não é compatível com a expectativa do público em revê-lo. 

 

Com suas qualidades e defeitos, Covenant pode seguramente ser considerado o melhor filme da série desde Alien 3. Sim, o que veio depois não era grande coisa, mas é uma volta da franquia aos trilhos, com um desfecho impactante, capaz de gerar ansiedade para a conclusão da trilogia de prequels que, esperamos, não demore tanto para ser produzida. 

 

ALIEN: COVENANT
Com: Katherine Waterston, Michael Fassbender, Billy Crudup, Danny McBride, Carmen Ejogo, Demián Bichir e Callie Hernandez.
Direção: Ridley Scott
Argumento: Jack Paglen e Michael Green
Roteiro: John Logan e Dante Harper
Fotografia: Dariusz Wolski
Montagem: Pietro Scalia
Música: Jed Kurzel

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