quinta-feira, 18 de maio de 2017

ANTES QUE EU VÁ – um novo clássico teen para os anos 10.

Por Ricky Nobre


A premissa do “dia da marmota” ou time loops/day loops já deu origem a diversos filmes. Apesar de já ter aparecido em algumas obras antes (inclusive no anime Urusei Yatsura), foi no hoje clássico Feitiço do Tempo (1993) que as desventuras de um herói preso no mesmo dia que se repete indefinidamente caiu no imaginário popular. A ideia foi repetida em vários seriados, como Day Break e até mesmo um episódio de Arquivo X, e recentemente voltou a inspirar filmes como Contra o Tempo (2011) e No Limite do Amanhã (2014), além do recente filme da Netflix ARQ (2016). É impressionante o fascínio que a ideia exerce sobre público e autores, uma vez que, normalmente, esse tipo de apropriação de premissa é considerado falta de imaginação ou, até mesmo, plágio. Em vez disso, está em vias de tornar-se quase um subgênero. Com filmes de ação, suspense e até sátiras, a premissa carecia de uma ótica mais humana, algo semelhante ao (quase) original Feitiço do Tempo, ainda que este fosse uma comédia e terminasse com uma mensagem bastante moralista. Então chega Antes Que Eu Vá.

 

O filme já começa na vantagem ao sair da mesmice apresentando um olhar feminino para a história, com mulheres à frente do projeto, como a autora do livro Lauren Oliver, a roteirista Maria Maggenti e a diretora Ry Russo-Young, além de um elenco, em sua maioria, de meninas. Conhecemos Sam (Zoey Deutch, muito bem), uma menina em vias de concluir o ensino médio, bonitinha, padrãozinha, patricinha, popular com suas amigas populares que flutuam nas camadas superiores da grotescamente cruel cadeia alimentar do high school americano. Rir dos esquisitos, praticar bullyng e namorar o garoto bonitão e popular é o que se espera dela. E ela segue o roteirinho. Uma noite, tudo dá errado e ela acaba num grave acidente de carro... e acorda em casa, no mesmo dia novamente. Após o primeiro passo, que é aceitar o que está acontecendo, a prioridade lhe parece ser não morrer mais. Mas isso é só o começo. Ela precisa aprender é a viver.

 

A narração inicial até sugere um filme piegas, com mensagens edificantes vazias, mas não é isso que o filme apresenta. O filme pode parecer excessivamente tolo de início, mas faz parte da apresentação da protagonista e do universo em que ela está inserida. Na verdade, a direção acerta ao apresentar um clima leve e introduzir impactos dramáticos nos momentos certos, enquanto a protagonista Sam, aparentemente fútil de início, cresce em substância conforme tem que lidar com a absurda situação em que se encontra. Em alguns momentos, pode haver certa dificuldade do espectador em entender a forma como Sam lida com a situação e com a repetição da rotina, e como ela pode levar tanto tempo para tomar certas atitudes. Isso, porém, faz parte do próprio tema do filme, sobre como é possível viver rotinas idênticas, dia após dia, e vermos as mesmas injustiças de novo e de novo até sermos capazes de sequer tentarmos algo diferente. Mesmo assim, certos saltos de tempo e certa apatia da personagem durante um determinado período de dias repetidos poderia ter sido melhor trabalhado no roteiro. 


 

Com um final inesperado e emocional, e um roteiro que leva a ideia do time loop para uma esfera mais intimista, contrapondo-se a outros filmes que usaram a premissa, Antes que Eu Vá pode se tornar um filme que os adolescentes de hoje vão se lembrar com enorme carinho daqui a 20, 30 anos. Poderia ser melhor escrito e estruturado, mas fica na cabeça bem depois da saída do cinema e isso não é algo que se veja com frequência. E se há algo de extremamente importante que o filme possa passar à juventude é: você NÃO sabe pelo que outra pessoa está passando. Seja gentil. Não seja um idiota. Viver um dia como se fosse o último não precisa significar fazer coisas sem se importar com as consequências, pelo contrário; significa fazê-las tendo exata noção delas. 



ANTES QUE EU VÁ (Before I Fall, 2017)
Com Zoey Deutch, Halston Sage, Logan Miller, Kian Lawley, Elena Kampouris, Cynthy Wu, Medalion Rahimi, Erica Tremblay e Jennifer Beals.
Direção: Ry Russo-Young
Roteiro: Maria Maggenti, baseado no livro de Lauren Oliver
Fotografia: Michael Fimognari
Montagem: Joe Landauer
Música: Adam Taylor


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