Por Ricky Nobre
A SALA DOS PROFESSORES - 1 indicação
O filme opera como um mini Anatomia de um Crime, onde o desvendamento do mistério e a revelação de um verdadeiro culpado não são o foco nem o objetivo, mas sim a exposição das dificuldades, contradições e desafios da educação, neste caso, de uma escola pública alemã. O ideal de todos colaborarem para o bem comum parece não resistir à realidade onde cada um (professores, coordenadores, diretora, pais e alunos) possuem funções e dilemas próprios e, muitas vezes, conflitantes.
O diretor Ilker Çatak mantém a câmera sempre viva e acompanhando
cada passo da protagonista, onde a música com orquestrações simples e
inventivas mantém a tensão de forma não óbvia, tensão esta que se eleva
conforme os acontecimentos escalam para além do controle dos personagens. É
tudo muito bem conduzido e Leonie Benesch transmite toda a angústia de sua
personagem que vai perdendo mais o controle da situação a cada passo. Porém, o
filme parece não ter um rumo muito claro, um destino para toda essa discussão.
O que fica é um paralelo bem claro entre os dois personagens mais importantes,
a professora e o aluno. Ela, que discorda frequentemente da forma como as
soluções de problemas são conduzidas na escola, mas sabe que precisa lidar com
todas as contradições, nem que precise gritar de vez em quando. Já o aluno é
uma criança com um sentimento de injustiça que o corrói, sem maturidade para
lidar com isso, sobrando para ele um senso de pura e inabalável obstinação. A
sensação é de um impasse intransponível, insolúvel.
COTAÇÃO:
INDICAÇÃO AO OSCAR:
Melhor filme internacional
A SALA DOS PROFESSORES (Das Lehrerzimmer, Alemanha – 2023)
Com: Leonie Benesch, Leonard Stettnisch, Eva Löbau, Michael Klammer e Kathrin Wehlisch
Direção: Ilker Çatak
Roteiro: Ilker Çatak e Johannes Duncker
Fotografia: Judith Kaufmann
Montagem: Gesa Jäger
Música: Marvin Miller
NYAD – 2 indicações
O primeiro filme de ficção do casal de documentaristas Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi deixa clara a inexperiência da dupla com o estilo. Famosos pelos registros de façanhas em esportes radicais, especialmente alpinismo, os diretores trazem a história de Diane Nyad que, já sexagenária, resolver encarar um antigo desafio que a derrotou quando tinha 28 anos: nadar de Cuba até a Flórida.
Como documentaristas, a dupla tem uma ótima sacada em incluir flashbacks de Diane jovem através de matérias jornalísticos da época, fazendo, desta forma, que Diane interprete ela mesma, enquanto outros flashbacks dramatizam eventos de sua adolescência. Em quase sua totalidade (com exceção do prólogo), essas lembranças realmente se apresentam como flashes de memória de Diane, principalmente quando ela está treinando ou em alto mar, em lembranças de sonhos, vitórias, abusos e derrotas, contextualizando seus sentimentos no momento, sejam de estresse, determinação ou medo. Esse recurso, porém, fragmenta excessivamente várias dessas lembranças, tornando-as um pouco confusas por vezes.
A história desta atleta tem todo aquele sabor de oscar bait, mas é conduzida de forma um tanto atrapalhada, principalmente no humor dos diálogos que têm um tom meio estranho, e chega, por vezes, a lembrar um esquete de humor que deu errado (nos créditos finais há cenas reais da Diane mais velha, e dá ao menos pra entender o que os diretores tentaram fazer). O que o filme apresenta de melhor é a interpretação de Bening que, como sua personagem, encara um grande desafio físico nas cenas que reproduzem as diversas tentativas de travessia, que são, de fato, o forte do filme. Mas a sensação geral é de um daqueles filmes de TV inspiradores dos anos 90.
COTAÇÃO:
INDICAÇÕES AO OSCAR:
Atriz: Annette Bening
Atriz coadjuvante: Jodie Foster
NYAD (EUA – 2023)
Com: Annette Bening, Jodie Foster, Eric T. Miller, Anna Harriette Pittman e Rhys Ifans
Direção: Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi
Roteiro: Julia Cox, baseado no livro de Diana Nyad
Fotografia: Claudio Miranda
Montagem: Christopher Tellefsen
Música: Alexandre Desplat
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