quinta-feira, 22 de junho de 2017

O CÍRCULO: ENTRE O PROMISSOR E O ASSUSTADOR

Eddie Van Feu

O Círculo não é um filme de terror. Mas assusta. É uma alegoria sobre o momento em que vivemos, com câmeras por toda parte e uma necessidade quase patológica de comunicar cada passo do seu dia nas redes sociais. Mais do que isso, é uma espiada no futuro.

Baseado no livro de Dave Eggers, a história nos apresenta uma funcionária de uma grande corporação interpretada por Ema Watson. Tom Hanks enche a tela com a imagem do cara legal, do chefe que todo mundo quer ter. E então temos O Círculo, uma companhia que detém a rede social mais ampla do planeta, que unifica todas as suas contas, que facilita compras e pagamentos! Lembra alguma coisa? E é a mesma companhia que cria câmeras que podem estar em qualquer lugar, incentivando um olhar atento, constante e perpétuo em cima de TODO MUNDO O TEMPO TODO.




Então, nós começamos a acompanhar o entusiasmo de quem acha isso ótimo, já que poderemos salvar vidas, e os questionamentos de quem simplesmente quer ter direito à privacidade.

O filme poderia ter ido mais longe. A personagem da funcionária Mae é um tanto apática e não chegamos a conhecê-la de verdade. Ela parece uma folha ao vento, e quando toma decisões, elas parecem meio forçadas em alguém que só queria pagar suas contas e ajudar a família. O personagem de John Boyega cai de paraquedas e não diz a que veio, enquanto o relacionamento de Mae com a própria família e amigos não se aprofunda. Há momentos no filme que poderiam ser infinitamente mais emocionantes, mas não são. Faltou construção de personagem para a mais importante do filme e Mae acaba sendo uma heroína que se apoia no carisma de Ema Watson.


Não há grandes inovações no conceito visual, talvez para evitar distrações do tema. O quanto estamos dispostos a mergulhar nessa era de total transparência? Isso seria realmente uma solução para todos os problemas do mundo? Ou seria apenas um problema para quem não estiver no topo da cadeia alimentar?

O fim é meio estranho, parece Super Cine (que ficou conhecido por filmes que terminavam de repente). Mas ainda vale a pena, especialmente pelo questionamento que provoca.



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