quarta-feira, 14 de junho de 2017

TUDO E TODAS AS COISAS: amor e fofura.


Por Ricky Nobre


Não são novos os romances onde o casal tem como maior obstáculo alguma doença fatal. Na década de 70, Love Story levou multidões aos cinemas que se debulharam diante de uma Ally McGraw que ficava cada vez mais linda conforme a morte de aproximava. Na década de 90, uma Julia Roberts no auge da fama sofria ao lado de seu amor moribundo, no estrondoso sucesso Tudo Por Amor. Recentemente, A Culpa é das Estrelas atualizou o tormento dos enamorados que não têm a vida toda pela frente, mais uma vez, com enorme sucesso. Em vez de esperar mais umas duas décadas para retornar ao tema, a cineasta Stella Meghie quis investir numa versão bem mais leve e fofa da situação, onde os jovens adultos dão lugar a adolescentes e a morte é apenas uma possibilidade, não uma certeza. 


Assim como todos os demais filmes citados, Tudo e Todas As Coisas é baseado em um livro, este de autoria de Nicola Yoon. Maddy (Amandla Stenberg, a pequena Hue de Jogos Vorazes) é uma menina de 18 anos que vive confinada em casa com a mãe (Anika Noni Rose), tendo como únicas amigas a enfermeira Carla (Ana de la Reguera) e a filha desta, Rosa (Danube Hermosillo). Ela sofre de Imunodeficiência Combinada Grave, que a impede completamente de sair de casa e entrar em contato com qualquer coisa (ou qualquer um) que não tenha sido desinfetado. Tendo perdido o pai e o irmão em um acidente quando ela ainda era bebê, Maddy vive apenas com a mãe e seu mundo se restringe às conversas com as três únicas pessoas de sua vida, aos filmes que vê, aos livros que lê, à internet onde estuda e aos sonhos com o mar, que está a apenas cinco quilômetros de distância, mas ela não pode ver. Quando novos vizinhos se mudam para a casa ao lado, Maddy e o rapaz Olly (Nick Robinson) se apaixonam instantaneamente. Entre longas conversas de whatsapp e encontros clandestinos na sala, Maddy começa a tomar real consciência da vida que não poderá ter e logo ideias cheias de romantismo e vazias de inteligência serão inevitáveis. 

 

O filme possui elementos suficientes para uma abordagem mais hardcore, dura ou adulta, como o medo da morte e da perda, violência doméstica e o despertar da sexualidade. Provavelmente mirando no público adolescente, principais leitores do livro, o estúdio preferiu uma classificação PG-13, garantindo o livre acesso da garotada a partir de 13 anos ao cinema. Espertamente, a diretora Meghie repensou o peso temático da história e optou pelo inverso, realizando um filme bem mais leve do que muitos outros com classificação PG-13, e ela consegue isso através de seu casal de protagonistas e sua infinita fofura. Apesar do casal já ter 18 anos e que, no mundo real, provavelmente estariam trocando “nudes”, no filme eles sequer falam palavrão e, no total de suas atitudes e ideias, parecem bem mais jovens do que são, o que no caso de Maddy pode ser perfeitamente explicável pela sua falta de interação social. É como se o roteiro tivesse sido desinfetado da mesma forma que tudo mais que precisa entrar em contato com a protagonista. A inocência do casal pode irritar ou cansar parte do público, mas os atores vendem seus personagens tão bem e o clima de ingenuidade é tão bem construído pela direção (os encontros virtuais com o astronauta ao fundo são um ponto alto) que você é levado a aceitar que essa é a proposta temática e estética do filme e embarca.

 

Talvez o filme funcionasse melhor e fosse mais plausível se os personagens fossem mais jovens, com cerca de 15 anos (no livro Maddy tem 17 em vez de 18), mas isso impediria que os personagens conseguissem fazer determinadas coisas e também traria mais problemas a uma das principais reflexões do filme que é sobre o domínio que uma pessoa adulta possa ter sobre o próprio destino. Porém, talvez o único problema real do filme seja seu desfecho, onde tira-se da manga um fato que vai impactar pesadamente o destino do casal e a resolução da trama. Pode ser encarada como parte da mensagem do filme (o que de fato é) mas também pode ser vista como um artifício para suavizar (ou mesmo evitar) as consequências mais graves e óbvias. De qualquer forma, quem quiser curtir o romance apaixonado de um casal incrivelmente lindinho e fofo não vai se arrepender.

 

TUDO E TODAS AS COISAS (Everything, Everything, 2017)

Com: Amandla Stenberg, Nick Robinson, Anika Noni Rose, Ana de la Reguera e Danube Hermosillo.

Direção: Stella Meghie

Roteiro: J. Mills Goodloe, baseado no livro de Nicola Yoon

Fotografia: Igor Jadue-Lillo

Montagem: Nancy Richardson

Música: Ludwig Göransson         

COTAÇÃO: 

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